Monólogo dos vinte e nove
Phone sem Smart
baixa captação de wireless
diagonal, dia no Gal
três metros acima do céu
(((NO SIGNAL)))
na-navega ação uni-vos às linhas frisadas
abro minhas asas feridas e enferrujadas
lustres dianteiros pecaminosos
jogadores criminosos e luxuosos
louvemos em mão unilateral rateada
prossigo em literal descontentamento
estradas incalculadas
é o GPS quem me segue ao cubo
anacrônico, impassivo, ator do dado
empoeirado o tabuleiro amadeirado
Atordoado
fora das válvulas de encapes
os escapes do velho aprimoramento
do acerto de contas de jogos de 4 dimensões
solventes do hálito do carbono
das emissões de folhas sem dar baixa
das rotas submersas hidráulicas
o sinal não está verde
o semáforo está amarelo:
fique atento, não se esfarele, calcule o passo, espere
você vai parar a qualquer momento
A espera é igual sintoma de náusea
sem cápsulas
sem o formigamento na parte de trás do cérebro
sem os calos nas mãos
sem a dormência na ponta dos dedos
sem as drogas com bula
sem o jogo do bicho
sem a catraca da língua
cravei os dentes nos braços da fadiga
Todas as vinte e nove vezes que vim a este lugar
foram em direções alternadas
todas as vinte e nove vezes que fui embora deste lugar
foram de formas disfarçadas
desencaixadas a caixa da mente
senti saudade do meu corpo nas ruas
mas não destas ruas
não com esta gente
tenho medo do meu corpo ser mais um encaixotado
tenho medo do meu corpo ser mais um escorrendo pelo ralo
tenho medo do meu corpo ser mais um jogado na vala
Todas as vinte e nove vezes que vim a este lugar
foram em direções sequestradas
todas as vinte e nove vezes que fui embora deste lugar
foram de formas dubitavelmente armadas
tenho medo do meu corpo ser mais um esquartejado
tenho medo do meu corpo retornar à terra
tenho medo do que o meu corpo alimenta nestas vinte e nove ruelas.