Globotipo — making of da nova família tipográfica da Rede Globo.

Colaboração entre Plau e Rede Globo, a Globotipo é a evolução da voz tipográfica da Globo, uma família de 30 fontes, feita com exclusividade para a Rede Globo.

Plau Type & Design
PlauDesign
8 min readFeb 6, 2018

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Post publicado originalmente no Blog da Plau

A Globo fala diariamente com 100.000.000 de pessoas no Brasil e no mundo. Com uma identidade em constante movimento, ela identificou a necessidade de reinterpretar e expandir sua voz tipográfica.

Na ocasião da comemoração dos seus 50 anos no ar, a marca passou por uma extensa revisão de posicionamento liderada por sua equipe. Pautado pelos ideais de movimento e fluxo constante, ela se adapta e evolui criativa e tecnologicamente para continuar levando aos brasileiros informação, entretenimento e conhecimento.

A partir do novo posicionamento, surgiu a necessidade de evoluir também a família de fontes usadas na comunicação, criando tipografias mais flexíveis, proprietárias e capazes de representar esses conceitos nos diferentes canais de comunicação da empresa com seu público.

A Plau foi convidada para redesenhar a voz tipográfica da emissora junto com a equipe da Globo.

Tipografia, a gente vê por aqui

A Globo é reconhecida pelo seu design de vanguarda, de efeitos especiais pré-digitais à aplicações criativas de tipografia em movimento. A linguagem foi criada e desenvolvida ao longo de 30 anos pelo designer gráfico austríaco Hans Donner e sua equipe. Donner foi também quem criou em um guardanapo o inesquecível símbolo da emissora nos anos 70.

Antes de sua chegada, a família tipográfica usada pela emissora era a Microgramma (desenhada por Aldo Novarese e distribuída pela Nebiolo). A personalidade da fonte é austera e formal, o que dava credibilidade ao jornalismo .

Microgramma na apresentação original do Globo Reporter, 1973 e no specimen da Nebiolo.

Hans chegou ao Brasil e à Rede Globo mudando radicalmente o cenário tipográfico da emissora. Inspirado nas curvas da Futura e Vag Rounded, criou a primeira fonte proprietária da empresa, a Globoface com uma característica que se tornou assinatura da marca: as terminações de letra arredondadas.

No começo, esse acabamento arredondado cumpria uma função técnica: melhorava a legibilidade das letras nos televisores de tubo. Logo se tornou parte importante da identidade da emissora — a voz tipográfica da empresa — sendo usada em cartelas, títulos de novela ao jornalismo. Ao longo dos anos Futura, Avant Garde, Vag Rounded e outras fontes foram sendo adicionadas à paleta tipográfica e usadas na comunicação e grade de programação.

O cenário tipográfico da Globo

30 anos mais tarde, as mudanças tecnológicas mudaram a cara da comunicação. Do formato dos aparelhos de televisão ao nascimento de novas plataformas mais interativas do que nunca, as fontes passaram a cumprir novas e importantes funções em sua comunicação.

Pesquisando sobre o uso atual de fontes pela emissora, descobrimos uma escala, variando do institucional ao independente. Novelas, por exemplo, são produtos tratados como independentes, cuja identidade é pensada separadamente de outros produtos da grade. Jornalismo um produto institucional, e segue a linguagem institucional da emissora, onde se usava predominantemente a Globoface. No jornalismo, a linguagem gráfica vinha sofrendo alterações, porém com pouco ou nenhuma atualização nas letras.

Alguns exemplos de aplicações tipográficas pela Rede Globo circa 2015.

Tendo servido a Globo fielmente durante décadas, a Globoface não tinha sido planejada para um mundo em que o conteúdo pode ser consumido em plataformas tão distintas e de alta resolução quanto as de hoje.

Por isso, nossa responsabilidade era a de redesenhar a voz tipográfica da Rede Globo, evoluindo e amadurecendo a personalidade da Globoface para os planos futuros da emissora.

Desenvolvendo a Globotipo.

A equipe da Globo chegou à Plau com clareza absoluta sobre como a família de fontes deveria ser:

  1. Global: carregar a voz da emissora mantendo a essência da Globoface. A fonte deveria ser a continuação da personalidade da emissora, reforçando a ideia de geometria e fluidez, proporções familiares mas não obrigatoriamente idênticas aos da Globoface.
  2. Multiplataforma: para uso em todas as mídias e formatos presentes e futuros: tecnologias wearable, mobile, desktop, televisão, telão, realidade virtual.
  3. Flexível: múltiplos pesos + itálico e com recursos OpenType que ampliassem as possibilidades criativas na comunicação da marca.

A família Globotipo consiste nos seguintes estilos: arredondada, texto e condensada. Para cada um destes estilos, 5 variações de peso — de Thin a Black — e seus respectivos itálicos, graduando a personalidade do texto de neutro e elegante a dinâmico e simpático.

No total, entregamos 30 fontes para uso em desktops e apps (.ttf) e webfonts (woff, eot, woff2). Batizamos a família com o nome em português da Globoface: Globotipo.

Globotipo. Uma ideia para muitas vozes.

A Globotipo é uma família de fontes com raízes geométricas, presentes em outras fontes do gênero como Futura, Avenir, Gotham, Proxima Nova e outras. Sua largura é generosa e seus redondos tendem ao circular geométrico presentes no símbolo da Globo.

As aberturas das letras são amplas, o que é um dos pontos de diferenciação fundamentais em relação à família anterior. Os cortes de terminação são 100% verticais e criam um ritmo de leitura organizado e sóbrio.

Em toda família tipográfica temos caracteres que projetam com mais clareza sua personalidade. No caso da Globotipo esses caracteres são o M de hastes verticais arqueadas, o G inspirado na geometria do logotipo, o Q com a cauda em ângulo e sem romper sua contra-forma e o l com terminação curva, algo que ajuda a distinguir o caracter de outros similares como o I maiúsculo ou o número 1.

(Per)feita para telas

Um dos passos fundamentais para a Globotipo brilhar nas telinhas foi o hinting. Hinting são instruções atreladas a cada caracter em uma gama de tamanhos (de 10–24 pt por exemplo) que garantem a melhor exibição possível em situações de baixa resolução ou em sistemas de rasterização específico, caso do Windows. Para essa etapa, contamos com a experiência da Monika Bartels, da Fontwerk. Com mais de 10 anos de hinting e produção de fontes, ela e sua equipe fizeram a Globotipo uma fonte pixel-perfect.

O resultado

Globotipo Arredondada: é a referência mais direta à Globoface original, com terminações 100% arredondadas.

Globotipo Rounded

Globotipo Texto: Criada com o mesmo esqueleto e proporções da arredondada, só que com as terminações apenas levemente arredondas, reflexo do conceito de fluidez e movimento definidos pela equipe da Globo.

O resultado é uma fonte confiável e simpática, apropriada para tamanhos de texto, em impressos e na web. Os pesos extremos Thin e Black podem ser usados em títulos, logotipos e outras aplicações.

Globotipo Texto

Globotipo Condensada: Perfeita para títulos e em momentos que é preciso economizar espaço. Sua composição em maiúsculas confere uma personalidade de cartaz/poster aos layouts. Usada no texto, pode popular textos curtos, leads e afins.

Recursos Opentype

  • Formas alternativas para as letras a, l minúsculas para as romanas e a, e, l nas itálicas.
  • Dois pontos elevados para composição de horários/datas.
  • Frações
  • Números proporcionais (para texto) e tabulares (próprios para tabelas, infográficos e afins)
  • Pontuação para versais (all-caps).

Levando a Globotipo ao limite

Ao longo de sua existência, a Globoface foi submetida ao limite tecnológico e criativo de tratamentos: efeitos tridimensionais, sombreado, fogo, chuva, distorção, animação — tudo que se pode imaginar foi feito. Fizemos um “teste de estresse” similar para ter certeza que a Globotipo funcionaria nos casos mais extremos de criação por parte da equipe Globo.

Testando a Globotipo ao limite.

Veja a Globotipo na(s) tela(s) da Globo.

Na primeira vez que vimos o Jornal Nacional usando as Globotipo, foi difícil conter a emoção e orgulho.

A competente Maria Júlia Coutinho comanda o clima do Jornal Nacional com a Globotipo ao fundo.

A Globotipo já está em uso em toda a comunicação institucional da Globo, ampliando o leque criativo da equipe de comunicação e arte, entrando na programação de TV e online à medida que os programas se renovam. No jornalismo, os jornais regionais em muitas regiões (Minas, SP, Rio de Janeiro e outros.) e o Jornal Nacional já usam as fontes a pleno vapor, ocupando um espaço de destaque nas informações, infografia e interação com o espectador.

Um novo tempo que começou

Fazer parte da história de uma empresa como a Globo é algo que nos enche de orgulho. A competência, confiança e parceria da equipe da Globo são experiências que vamos levar sempre na memória. A criação das novas fontes da Rede Globo é o futuro que já começou para a emissora, e a Globotipo é a voz tipográfica projetada para trazer este futuro para todos os brasileiros, do Bom Dia Brasil ao Corujão.

Créditos do projeto

  • Direção de Criação: Sérgio Valente, Mariana Sá
  • Direção de arte: Washington Teotônio, Alexandre Romano, Christiano Calvet, Felipe Bellintani
  • Type Design: Plau — Rodrigo Saiani
  • Design gráfico: Plau — Carlos Mignot, Daniel Rocha, Rodrigo Saiani, Flora de Carvalho, Lucas Campoi, Gabriel Galc,
  • Hinting: Anke Bonk, Tanja Henze, Monika Bartels — Fontwerk
  • Direção de Planejamento: Carla Sá
  • Gerente Estratégico: Bernardo Magalhães
  • Coordenação de Identidade Visual: Luciano Armarolli
  • Produção executiva: Fernanda Deway
  • Video: Marcello Cavalcanti

Rodrigo Saiani é type designer, fundador e diretor de criação da Plau, estúdio de identidade tipográfica que trabalha na interseção entre branding, tipografia e empreendedorismo.

As fontes da Plau podem ser licenciadas direto no site, sincronizadas via Typekit ou pelos distribuidores MyFonts, Fontspring e YouWorkForThem

Post publicado originalmente no Blog da Plau

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