Seria possível uma política ágil?

Rodrigo Borges
Plenarium Digital
2 min readJun 26, 2020

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No início dos anos 2000, um grupo de desenvolvedores de software se reuniu para formalizar uma série de conceitos que deveriam orientar uma produção de software orientada ao cliente, mais inteligente, humana, eficiente e sustentável. O Manifesto Ágil é composto por 12 princípios e 4 diretrizes:

  • Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas
  • Software em funcionamento mais que documentação abrangente
  • Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos
  • Responder a mudanças mais que seguir um plano

A ideia toda tem como finalidade colaborar com a inovação em benefício do usuário dos sistemas desenvolvidos. 20 anos depois deste marco, os métodos ágeis ganham cada vez mais destaque em práticas de gestão de empresas. Mas e a prática da política? Seria possível aliar conceitos ágeis à construção de projetos de lei, processos de votação, ao mandato como um todo?

O time da consultoria Bain & Company Inc está acostumado a orientar seus clientes na adaptação aos métodos ágeis. Inclusive, lançaram há pouco o livro Doing Agile Right (algo como “Implementando Métodos Ágeis Corretamente”), no qual reúnem anedotas e aprendizados sobre o contato com empresas em meio ao processo de mudança. Talvez a principal mensagem do livro seja que não há uma única forma de se adequar aos princípios ágeis. Cada um constrói suas próprias regras internas, inspirado-se nos princípios e diretrizes.

Trabalhando apenas com as diretrizes, é possível perceber que esse negócio de ágil bem que poderia cair bem em algumas câmaras de deputados e vereadores. Se as interações com cidadãos passam a valer mais do que o regulamento interno, talvez suas vozes passassem a ser ouvidas com mais intensidade. Se a colaboração com os mesmos cidadãos valesse tanto ou mais do que o direito conquistado pelo político de tomar decisões em nome do povo, seria possível atender a necessidades populares com mais eficácia. Se as câmaras conseguissem atuar com mais velocidade, respondendo aos anseios sociais de forma ágil, uma lei não demoraria tanto a ser criada ou revisada, possibilitando respostas mais rápidas à população.

Esse exercício de imaginação pode parecer muito distante da realidade. Mas o crescimento da quantidade de mandatos digitais parece ser um indício de que o foco no cidadão é cada vez mais inevitável. Resta trabalharmos e ficarmos na expectativa de que, se a política não acabar ágil como a maioria das empresas gostaria de ser, que pelo menos essa fique mais rapidinha.

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