Teorias da conspiração: quem é doido aqui?

Rodrigo Borges
Plenarium Digital
3 min readJul 3, 2020

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A capacidade criativa humana é algo a se admirar. Com base nela, construímos a sociedade e evoluímos enquanto pessoas. Entretanto, como tudo, ela também pode ter efeitos negativos. Quem nunca ouviu ou se interessou por uma teoria da conspiração? Essas séries de eventos improváveis e cheios de intenção, cálculo e maldade empreendidas por vilões sofisticados e inteligentíssimos para… bem, normalmente, acabar com o mundo ou alguma coisa de valor. Não falta criatividade a essas narrativas.

E grupos de direita têm sido identificados como a grande origem sobre teorias da conspiração atualmente. A publicação liberal The Atlantic chegou a fazer um projeto para acompanhar o desenvolvimento de teorias como essa. Shadowland (Terra das sombras) resgata as origens da prática no país e se propõe à seguinte análise:

A ascensão do conspiracismo convencional é o resultado não apenas de más informações, políticas ou pensamentos ruins, mas de sistemas criados para alimentar a paranóia e lucrar com a desconfiança. Este projeto é uma tentativa de esclarecer as forças que criaram essa irrealidade — e traçar um caminho para descobrir como podemos nos libertar delas.

“Qanon” (lê-se quíu-anôn) é um dos grandes personagens das histórias inventadas hoje em no hemisfério norte. Em seus perfis digitais, lança diversas informações que deixam vidrados seus seguidores, compostos por grupos conservadores e pessoas de mais idade nos EUA. No Brasil, o pessoal também curte uma história mirabolante e, entre planos para a ascensão comunista ou fascista, cada um enlouquece mais um pouquinho ao seu gosto.

Uma mídia social tem ganhado espaço em meio a tais relatos. Gab é considerada uma rede social de extrema direita, porque não se opõe a publicações com teorias conspiratórias, desinformação e discursos de ódio. É curiosa essa classificação que considera a “não oposição” como uma defesa, mas é assim que a mídia tem tratado esse tipo de posicionamento. De qualquer forma, o crescimento da plataforma está relacionado a uma reação às manifestações mundiais após a morte de George Floyd, negro morto após uma abordagem policial em Minnesota (EUA). Segundo a coluna de Claudio Tognolli:

… em 2018, os brasileiros eram 22,7% dos 635 mil usuários registrados na Gab, sendo o segundo entre os seus maiores mercados, à frente de Canadá, Inglaterra e Alemanha. E o movimento que passou a levar brasileiros ao Gab, em 2018, foi influenciado por críticas que Facebook e Twitter também sofriam à época por restringir publicações. Além disso, campanhas de desinformação que alertavam para uma falsa cobrança de mensalidade nas redes mais populares funcionaram como incentivos, relatam pesquisadores.

The Atlantic também tem um episódio do seu podcast Social Distance em que trata do conforto que teorias conspiratórias transmitem: algo como uma tentativa de organização em meio ao caos dos eventos mundiais. É importante deixar claro que mania de perseguição não tem a ver com ideologia e todos estamos susceptíveis a fazer conexões arbitrárias como se elas fizessem sentido. Este é mais um desafio imposto a nós por nós mesmos — entre tantos — , em que a serenidade, cuidado com a informação e busca pela verdade funcionam como antídotos.

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