Tipos de temas de campanha

Rodrigo Borges
Plenarium Digital
2 min readJun 30, 2020

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Entre todas as variáveis contidas numa campanha política o tema talvez seja a mais subjetiva e importante. Definir o que você vai dizer é algo que tem impacto no seu discurso, no tipo de público que você vai abordar, nas suas personalidade e história de vida e, claro, na mensagem principal. O tema é tanto uma forma de diferenciar a própria imagem como de se aproximar de causas e bandeiras. E há uma certa ciência na sua definição.

Ronald Kuntz é uma das referências no estudo de marketing de campanhas no Brasil e tem no livro Marketing político (1986) uma visão na qual identifica três possíveis abordagens em relação a conteúdos a serem adotados por candidatos:

  • fundamental ou racional;
  • oportuno ou emocional e
  • segregacionista.

O primeiro envolve a apresentação de dados e informações, que são passíveis de mensuração. Isso inclui obras, questões orçamentárias, estatísticas sobre segurança pública etc. O segundo tem o foco em eventos recentes, as chamadas pautas quentes. É aproveitar assuntos que estão chamando a atenção do público e se comunicar por meio deles. Muitas candidaturas aproveitam oportunidades de discussões públicas para pautar propostas. Atualmente, questões relativas a minorias estão bastante no radar de candidaturas de esquerda, por exemplo. O terceiro tipo é mais incendiário e está bastante na moda. Ao definir uma posição ideológica, o candidato abraça um público e se afasta de outros. Religião, sexualidade, economia, nacionalismo: nomeie um tema e perceba como é fácil estabelecer uma oposição clara. A luta entre conservadores e liberais é o que tem agitado as últimas campanhas, prendido a atenção do público e gerado infinitos debates virtuais.

Uma campanha contemporânea costuma ser a soma de todas essas abordagens. Os números transmitem credibilidade, o oportunismo ajuda na construção da imagem de sintonia com a época e compreensão do público e a divisão ideológica reforça laços com o potencial eleitor. Esta última não tem sido muito saudável para os envolvidos e para a estrutura política mundial. O que torna tudo mais complicado, porque costuma ser efetiva, como mostraram as últimas eleições para presidente no Brasil. Por isso, seria útil se tanto os eleitores quanto os políticos aprendessem a enxergar além da estratégia segregacionista. Não para eliminá-la do jogo, mas para evitar que ela se sobreponha ao que realmente importa.

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