Você sabe de que está falando?

Rodrigo Borges
Plenarium Digital
2 min readJun 25, 2020

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O discurso é a grande arena do debate entre oprimidos e opressores atualmente. Tanto que palavras e conceitos ganharam status de paus e pedras. Um xingamento é igual ou pior que uma cusparada ou mesmo que uma agressão física. Ainda mais se for gravado e compartilhado com quem estiver disposto a ver e se revoltar.

Substituir a violência física por palavras é um sinal de civilidade. E, pelo menos, causa menos mortes do que no passado. Mas isso não quer dizer que está tudo bem. A sofisticação do debate verbal e textual não é tão fácil de se acessar para muita gente. E não é raro que, em meio a um debate virtual, os adversários estejam falando sobre coisas distintas. Preste atenção na próxima vez: esquerda, direita, racismo, homofobia, gordofobia, liberalismo, conservadorismo, privatização, privilégio, democracia… são palavras na boca do povo, conceitos defendidos e atacados; mas sobre os quais cada um tem a sua própria visão.

Essa diversidade conceitual não foi inventada agora, mas suas consequências foram amplificadas pelos meios de comunicação modernos. Linguagem corporal e tom de voz fazem muita diferença em um debate. Se por e-mail já era difícil se entender, em até 280 caracteres é pior ainda.

Mas há quem tente estabelecer parâmetros claros, como o pessoal do podcast Code Switch, que dedicou um episódio a esclarecer o conceito de Outside agitator (algo como “agitador forasteiro”). Essa expressão normalmente é utilizada para identificar baderneiros que se inserem em manifestações populares para fomentar o caos. Os apresentadores, curiosamente, rechaçam a expressão, pois entendem que o conceito mais do que proteger os “bons manifestantes” acaba por torná-los inofensivos. É como se os manifestantes da cidade (ou do movimento) não tivessem motivos reais para estarem revoltados. Desta forma, se há alguém disposto a quebrar tudo, só podem ser baderneiros inconsequentes. O programa retorna aos anos 60 para indicar que a expressão já era usada naquela época. Vale conferir para entender melhor o que advogam seus defensores.

De qualquer forma, independente de se concordar ou não, a iniciativa do Code Switch é louvável: antes ou durante o debate, definir sobre o que estamos falando pode ser meio caminho para um consenso ou ao menos uma conversa mais civilizada.

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