Sempre Mulher e o Empoderamento das negras porto-alegrenses

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5 min readJun 19, 2019

A ONG Sempre Mulher — Instituto de Pesquisa e Intervenção sobre Relações Raciais é uma organização beneficente, sem fins lucrativos e não governamental, localizada no Bairro Sarandi, em Porto Alegre, mais precisamente na rua Xavier de Carvalho. A entidade foi fundada no dia 5 de abril de 2002, a partir da percepção de algumas moradoras do bairro que já eram envolvidas em ações sociais na região norte da capital gaúcha que desejavam colocar em prática um trabalho referente à compreensão das desigualdades sociais. Desde então a organização atua na defesa dos direitos humanos e na promoção da cidadania.

As fundadoras entenderam que havia a necessidade de um trabalho na área da Política Assistência Social que pudesse se diferenciar das ações já existentes quanto à possibilidade de acompanhar as famílias na perspectiva da promoção da cidadania e defesa de direitos mediante acompanhamento mais individualizado. Com esse viés a missão da Sempre Mulher é promover a garantia dos direitos humanos e sociais, especialmente da população afrodescendente em situação de vulnerabilidade social, fortalecendo o seu protagonismo e cidadania tendo como valores o acolhimento com sensibilidade, responsabilidade, motivação, transparência, valorização da cultura afrodescendente e empoderamento das mulheres.

A equipe é formada, obviamente, por mulheres empoderadas. Vera Lúcia Cintra é a coordenadora geral (dirigente), ela representa a Sempre Mulher — IPIRR, celebra parcerias de cooperação técnica e financeira com o poder público (municipal, estadual e federal) ou então, empresas privadas dependendo dos valores institucionais da empresa. Sônia Regina Alves da Silva é a responsável pelo financeiro, além de apoiar Vera na coordenação e na realização das compras dos itens necessários aos serviços, presenças em reuniões, capacitações e efetua todas as rotinas administrativas. E para completar o trio, Lucélia Gomes é o apoio administrativo e também cuida da comunicação. É responsável pelo atendimento ao público presencial, através das redes sociais institucionais, telefone e e-mail, além de recepcionar os visitantes e os voluntários.

O trabalho dessas três mulheres tem como objetivo minimizar a desigualdade de gênero e racial presente na sociedade através do empoderamento feminino de mulheres negras. As mulheres desde sempre foram tratadas como o sexo frágil, privadas de ser e fazer o que quiser. A Organização das Nações Unidas (ONU) também percebeu a importância de lutar pela igualdade de gênero e estabeleceu como um dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável. O 5º objetivo diz respeito à igualdade de gênero, que tem como objetivo alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas até 2030.

Segundo o Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa a 90ª posição no ranking que analisa a igualdade entre homens e mulheres em 144 países. Só no último ano, o Brasil caiu 11 posições. Consequência disso, o feminicídio é tão frequente aqui que o Brasil é o quinto país com maior taxa de assassinato de pessoas devido à sua condição de serem mulheres, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o Datafolha, a cada hora, 503 mulheres brasileiras são vítimas de violência. O assédio também é uma constante na vida das mulheres de nosso país. 40% das mulheres acima de 16 anos sofreram algum tipo de assédio, e eles são mais frequentes entre jovens de 16 a 24 anos e entre mulheres negras. Só entre vítimas de comentários desrespeitosos, 68% eram jovens e 42% mulheres negras. Já o assédio físico em transporte público 17% eram jovens e 12% negras.

Embora a legislação tenha avançado nas últimas décadas, com a entrada em vigor da Lei Maria da Penha em 2006, principalmente, já demonstra algum avanço. Contudo, muito ainda precisa ser feito para mudar este cenário, e ong como a Sempre Mulher contribuem para o empoderamento feminino e para que esses dados tão assustadores não sejam mais reflexo da nossa realidade. Alguns projetos feitos por elas na Zona Norte servem de exemplo para incentivar muitas mulheres da região a terem um futuro melhor.

Um dos projetos que a ONG tem é o curso de costura para mulheres negras da Zona Norte de Porto Alegre. O Costurando Sonhos Para Protagonizar o Amanhã acontece no bairro Sarandi e tem como objetivo oferecer qualificação na área da costura para mulheres negras da comunidade, fomentando também a autoestima, autonomia e geração de renda. Este projeto surgiu pois as fundadoras da ONG perceberam que no local onde a comunidade está localizada existe um número grande de mulheres que trabalham com pequenos reparos e cooperativas sendo elas um polo do setor da costura. Além disso, foi percebido um desejo das moradoras da região em receber capacitação para trabalhar no campo têxtil. O projeto conta com oficinas de corte, costura e customização.

Outro projeto realizado pela ONG é o Beleza em Foco. Este, por sua vez, visa oportunizar a capacitação na área da estética para mulheres diminuindo a sua condição vulnerável. Ou seja, através de cursos de embelezamento afro, composto por técnicas capilares a ação promove a capacitação profissional e incentiva o empreendedorismo das participantes, afetando diretamente na economia local e familiar. A primeira edição do curso teve duração de 9 meses e contou com mais de 60 participantes.

Além destes projetos já mencionados, a ONG ainda conta com outros projetos destinados à jovens, outros à idosos, além de possuir também assistência social para mulheres da comunidade, visitas a domicílios, serviço de acolhimento institucional e serviço de atendimento familiar. Para isso, a Sempre Mulher conta com diversas parcerias que auxiliam na realização destes projetos, além do apoio da comunidade.

Fonte: Portal G1 de notícias

Layla Moura Alves, estudante de Publicidade e Propaganda da ESPM-Sul, acompanha o trabalho da ONG Sempre Mulher e afirma a admiração que possui pelo projeto, justamente por representar e incentivar mulheres negras da capital a entraram no mercado de trabalho de forma independente.

“Eu acredito que esse projeto é fantástico, porque nós precisamos empoderar essas mulheres e mostrar que elas também podem, que elas também tem capacidade, assim como qualquer outra pessoa.”

Durante a entrevista, Layla se emocionou ao refletir sobre as oportunidades que as foram oferecidas e sobre como a sociedade enxerga e recebe mulheres negras.

“Tu buscar se enxergar, se sentir representada por outras mulheres negras no próprio mercado é uma coisa muito complicada. Eu, no lugar que eu tô hoje, estudando na faculdade que eu estudo, encontro pouquíssimas mulheres negras na mesma posição que eu. As outras trabalham em serviços gerais. Isso é um reflexo do nosso Brasil.”

ONGs como a Sempre Mulher são muito importantes em nossa sociedade pois elas realizam um trabalho que o Estado não abarca, e, embora muitas leis foram criadas criminalizando a violência contra mulher e o racismo, os números de feminicídios ainda são alarmantes, só em 2018 foram mortas 1.173 mulheres por crime de ódio motivados pela condição de gênero, 12% a mais do que no ano de 2017. O trabalho da Sempre Mulher contribui para diminuir as desigualdades raciais e de gênero presentes em nossa cidade, consequentemente, reduzindo estes índices e tornando POA uma cidade mais do bem.

Grupo: Bárbara, Gian, Leonardo Fidelix, Pietro e Vitória.

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