União em torno da comida: Cozinhando para todos que precisam

Como a ação de um chef de cozinha resultou em mais de uma tonelada de refeições por semana.

Leonardo Kaller
poadobem
3 min readJun 24, 2019

--

Abaixo de um dos viadutos mais movimentados de Porto Alegre, o Viaduto da Conceição, no Centro Histórico da cidade, às 10 horas da manhã de um sábado, pessoas começam a formar uma fila ao lado de uma lata de lixo em frente ao terminal de ônibus da região. Uma mulher em situação de rua lidera a fila e, quando questionada sobre o motivo da aglomeração no local, responde: “Ubuntu”, assim como o grafite inscrito em um dos pilares do viaduto. Por volta de 30 pessoas já se posicionam na fila, quando uma caminhonete preta estaciona atrás das latas de lixo às 10h e 22min. Um homem e três mulheres descem do carro e começam a posicionar paletes de madeira na calçada, outras pessoas começam a chegar em diferentes carros e descarregam mesas, panelas, alimentos, roupas, materiais escolares, água, botijões de gás etc. Em 10 minutos, já são mais de 30 pessoas organizando os itens descarregados dos veículos e iniciam mais uma ação dos Cozinheiros do Bem.

Voluntários organizando iniciando mais um almoço. (Foto: Leonardo Kaller)

De acordo com a pesquisa “População em Situação de Rua em Porto Alegre”, da Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC), em 2016, último ano de realização da pesquisa, eram 1758 pessoas em situação de rua no município. Dentre estes, 74,6% estavam na rua à mais de um ano, 50,3% tinha parques, calçadas e viadutos como dormitório mais frequente, enquanto apenas 23,7% dormiam em albergues. A maioria dessa população “mora” nos bairros Floresta e Centro Histórico: são 51,7% que localizam-se nos dois bairros. Diante de um cenário tão preocupante e hostil, surgiu, a partir de um chef de cozinha de Porto Alegre, surgiu os Cozinheiros do Bem para tentar mitigar as dificuldades passadas por essas pessoas. Julio Ritta, a época participante de um programa de televisão, usou os holofotes que estavam posicionados sobre sua cabeça para convocar uma ação abaixo do Túnel da Conceição. e cozinhar para todos que necessitassem de comida, e também, de afeto.

Júlio e outros Cozinheiros do Bem conversando com as pessoas aguardando o almoço. (Foto: Leonardo Kaller)

Na primeira semana foi capaz de servir 30 porções de comida, hoje, mais de três anos após a primeira ação, cada final de semana é servido entre 1.500 e 2.500 porções à qualquer pessoa que estiver no local e quiser um prato. São mais de 50 voluntários e uma imensurável dedicação ao trabalho. Ritta afirma que o Cozinheiros do Bem é um movimento “ sem ligação política, sem ligação religiosa. Seguimos a uma filosofia africana chamada Ubuntu, que significa sou quem sou, porque somos todos nós. É uma consciência de espírito coletivo e de entender que não podemos ficar de pernas pro ar em casa enquanto tem gente passando fome na rua”. O principal do movimento, para Ritta, é “a dignidade que somos capazes de transmitir ao oferecer uma comida boa e feita com muito afinco”.

Para auxiliar ou participar dos Cozinheiros do Bem, só é necessário entrar em contato com o movimento pelas redes sociais ou pelo número 51 99853–2190. É necessário adquirir a camiseta do projeto que é, atualmente, a única fonte de renda do Cozinheiros do Bem. Além disso, é necessário “boa vontade, sorriso no rosto e muito amor”, brinca Ritta.

Grupo: Alex Torrealba, Frederico Engel, João Pedro Argemi, Leonardo Kaller e Luis Henrique Cunha

--

--