“Fake news sempre existiram”

Antes mesmo do avanço das redes sociais na comunicação, as notícias falsas já circulavam no jornalismo

Fabrício Santos
Pochete Jornalismo
5 min readOct 24, 2019

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Baldasso com menos de dez anos de jornalismo já viveu algumas experiências com colegas que produziam fake news (Crédito: Crédito: Antônio Baldasso/Arquivo Pessoal)

Hoje o papo é com o jornalista, escritor e palestrante. Apaixonado por pessoas e suas histórias, ele se considera um fã das relações e de onde elas podem nos levar. Um eterno otimista, é assim que se descreve o nosso entrevistado Egui Antônio Baldasso, 33 anos, natural de Farroupilha/RS. Autor de dois livros: “Sequência de Rabiscos” e o “#VaiLá — e outras tentativas de te fazer entender que a vida é agora”. Formado na UCS de Caxias do Sul, Baldasso tem experiência em diversas áreas da comunicação. Trabalhou na rádio Spaço de Farroupilha e atualmente trabalha com assessoria parlamentar. Durante o bate-papo Baldasso abordou alguns aspectos do jornalismo atual e descreveu sua visão para o futuro da área. Um dos seus livros teve origem nas redes sociais, que hoje estão presentes no dia-a-dia da população. Claro que as fake news também fizeram parte da conversa. Confere aí como foi essa entrevista:

Pochete Jornalismo: Egui, eu gostaria de saber de ti, como tu vê o jornalismo atualmente?

Egui Baldasso: Eu vejo o jornalismo atual com bastante surpresa e com um pouco de inquietação, porque embora desde que seja pouco tempo que eu entrei na faculdade e me formei, entre 2005 e 2012, 2013, naquela época a gente tinha uma definição bem clara se tuia para o rádio, para o impresso, para a tv. No meio deste turbilhão começou a assessoria de imprensa, e depois a questão digital, mas mesmo assim existia uma definição de cada profissional, cada área que ele atuava ou deseja atuar. Agora eu percebo uma mistura muito grande, que por um lado é muito benéfico porque aproxima a informação do público final que é o principal interesse do jornalismo que é informar. Mas também existe uma situação preocupante por parte do profissional que tem que fazer as funções de quatro ou cinco profissionais. Além da dificuldade que é do profissional se inserir no mercado.

Pochete: Quando tu falas em dificuldade de se inserir no mercado. Tu achas que o profissional está enfrentando essas dificuldades porque?

Baldasso: O estudante quando sai da faculdade encontra uma dificuldade de vislumbrar um mercado. Tenta diversas vezes e até mesmo o salário é meio baixo. As vezes mesmo com currículo com uma formação profissional, indo para outros setores porque não conseguiu se inserir. Então é preocupante por um lado

Pochete: Hoje com o avanço das redes sociais qualquer pessoa com um celular na mão, com acesso à internet, pode publicar uma notícia, muitas vezes equivocadas, sem a devida apuração. Como tu vê esse avanço da tecnologia e dessa liberdade de comunicar?

Baldasso: As redes sociais hoje são as grandes ferramentas de comunicação. Seja para divulgar informações de portais, pessoais ou de alguém ligado a comunicação. É a grande fonte de informação de praticamente todo brasileiro, não digo todos, mas a grande maioria, que não buscar mais no rádio, nem na televisão e ainda menos no jornal impresso. Então a gente vive nesta realidade e temos que aprender a trabalhar com ela.

Pochete: Você tem dois livros publicados e um deles teve origem por causa do Instagram. Conta um pouco mais como foi que um pequeno vídeo de 15 segundos, se transformou em um livro?

Baldasso: Em relação ao meu segundo livro “#VaiLá e outras tentativas de te fazer entender que a vida é agora” é uma busca de colocar uma ideia que foi muito bem recebida no Instagram. São minicrônicas, que trabalham com o cotidiano nas quais eu tento colocar a minha visão de mundo e algumas coisas que eu penso, que eu vejo as pessoas vivendo, passando alguns momentos de vida, de futuro e otimismo, que eu gosto de trabalhar. E surgiu a ideia do livro, a partir de uma ideia de uma amiga, que também é comunicadora.

Pochete: Como unir a era da leitura digital com a leitura impressa?

Baldasso: Uma paixão que eu tenho é o livro impresso mesmo, a literatura na física. Para chegar na casa das pessoas, para quem já consumia por rede social e agora também consegue consumir de uma forma lida pegando, cheirando o livro, colocando na estante, passando de pai para filho. É uma coisa meio poética, romântica que eu ainda sustento. Então esta foi a ideia de juntar as duas áreas, trabalhando a mesma língua, buscando o melhor da rede social para o livro, que é uma grande paixão.

Pochete: Outro assunto que tem bastante destaque na comunicação, nos dias de hoje, são as temidas fake news. Você que já teve experiência em rádio e agora com assessoria de imprensa parlamentar, consegue perceber a existência destas notícias falsas no meio da comunicação também ou é algo que surge do grande público?

Baldasso: Eu tenho uma opinião, não sei se chega a ser polemica ou não, mas a fake news não é de agora. Se tornou um fenômeno recente por causa das redes sociais. Fake news nada mais é que uma notícia falsa ou uma notícia que foi bastante ou pouco maquiada e isto existe desde que o mundo é mundo. O jornalismo convencional de grande mídia, portais gigantes realizam fake news quase que todos os dias. No meu dia-a-dia, em todas as áreas em que eu já trabalhei, seja na política, na comunicação de rádio na rua, seja jornal impresso, eu vi gente fazendo fake news. Escrevendo coisas que não existiam, aspas que não existiam, declaração que não foram bem no sentido em que foi falado, tendenciado para o ponto que a gente, jornalista, quer que parece, muitas vezes acaba denegrindo a imagem de uma pessoa ou outra. Todos fazendo isso? Obviamente que não. Mas alguns fazem e isto prejudica a informação. Antes da internet era muito difícil saber, porque tu confiavas no jornalista falando. A internet trouxe um fenômeno muito mais potencializado de qualquer pessoa escrever qualquer coisa e jogar, aí vem a fake news.

Algumas pessoas não se dão conta da importância que é comunicar. Nesta entrevista ficou claro que as Fakes News partem tanto do público geral, como do jornalista que muitas vezes na pressa de informar ou até mesmo com outras intenções, acabam propagando esta prática, que na minha visão, será um dos maiores desafios do jornalismo para o futuro. No curso de jornalismo, assim como em outros cursos e na vida, a ética um elemento essencial para uma boa convivência social.

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