Jornalismo de qualidade para uma coexistência democrática
A cooperativa Mural trabalha para promover o debate cívico e a igualdade de democracia
Com: Tainah Gil
Nome da iniciativa: Cooperativa Mural Comunicação
Por que é inovadora/por que devemos prestar atenção nessa iniciativa:
A Cooperativa Mural Comunicação é uma iniciativa argentina e mostra aspectos inovadores como produções coletivas que permitam uma análise mais crítica e apurada dos conteúdos informativos. Além disso, procuram sair da zona de conforto e buscam se relacionar com o público mais jovem através de uma linguagem mais dinâmica, abordando assuntos que gerem debate entre esse público.
Pochete Jornalismo: Número de membros (aproximadamente/ máximo 5 linhas):
Mural Comunicação: Somos seis membros da cooperativa. Ano após ano, renovamos as autoridades, que surgem por consenso e atendem às necessidades bastante burocráticas da organização.
Pochete: História da iniciativa (síntese)
Mural: A cooperativa surge em 2012 devido à falta de espaços em nossa cidade. Embora a maioria dos membros trabalhasse em outras mídias, decidimos apostar na criação desse espaço em que nossa voz ocorria por considerá-lo importante. Embora não haja fatos sérios de censura, a minimização de espaços para dar uma visão mais crítica da realidade social nos levou a pensar no Mural como uma alternativa real.
Diferenciais no conteúdo:
A cooperativa é um agente inclusivo, pois proporciona espaço e tempo para que os profissionais possam produzir suas matérias com mais qualidade e profundidade. Em um mundo onde as vagas de emprego estão cada vez mais escassas e as atividades dos jornalistas cada vez maiores, esta é uma oportunidade de desempenhar, com liberdade e sem “pressão”, o papel da comunicação.
Pochete: Como se sustenta economicamente:
Mural: Economicamente, é a parte mais complexa, embora a assumamos como um desafio. Não apenas por elevar diretrizes ideológicas que não atraem clientes, mas também por não saber vender a publicidade do produto. A receita de gerenciamento é gerada através de espaços publicitários na revista e trabalhos que excedam o suporte gráfico. Por exemplo, obras audiovisuais, aluguel de equipamentos, obras editoriais etc. Estamos planejando um sistema de assinantes para o próximo ano, mas no momento não é um modo lucrativo. Assinamos a revista, mas não é a renda majoritária.
Pochete: Como é a interação com os leitores/usuários:
Mural: A interação com os leitores se dá de maneira virtual, através de nossas redes sociais, e também com eventos. Alguns planejados para fins pedagógicos, como palestras, ciclos e reuniões de treinamento, e outros apenas como espaços recreativos, festas, feiras e eventos. Estes últimos não geram grande renda econômica, mas uma lealdade do público.
Como pode inspirar iniciativas brasileiras:
Por se tratar de uma cooperativa democrática, que busca dar espaço a diversos jornalistas e voz a muitas histórias, acreditamos que a Mural Comunicação é uma iniciativa que pode inspirar os profissionais brasileiros que ainda procuram pelo seu lugar no mercado. Além disso, a cooperativa é focada em produzir jornalismo de qualidade (cujo conceito é a principal ferramenta na execução do trabalho), mesmo em um mundo de notícias instantâneas.
Trechos da entrevista
Pochete Jornalismo: Qual é o fluxo de trabalho? Que tipo de conteúdo você costumam produzir?
Mural Comunicação: Temos várias áreas de trabalho. Por um lado, a revista Mural, impressa há 7 anos. Com circulação mensal de março a dezembro. Fazemos vídeos que são para projetos, ou seja, apresentamos os projetos para competições de desenvolvimento e, se eles vencem, nós os fazemos. Em média, fazemos uma produção semestral. Também realizamos oficinas de treinamento profissional e artístico. Alguns têm uma duração anual e outros têm uma duração mensal.
O conteúdo é informativo, mas sempre entendendo a comunicação como um direito humano fundamental.
Pochete: O que você considera jornalismo de qualidade?
Mural: Em nossa opinião, o jornalismo de qualidade é baseado no respeito aos direitos humanos, que convida à reflexão social e é uma contribuição construtiva e proposital. Desde o início, tentamos trabalhar com esses padrões.
O acesso à informação é um direito humano fundamental para as sociedades de hoje. A partir daí, a qualidade do jornalismo não passa pela quantidade de informações, mas pela clareza conceitual e contribuição para uma coexistência democrática e igualitária.
Pochete: O que é indispensável para o jornalista profissional?
Mural:
Pochete: O que você acha do futuro do jornalismo? Quais são as possibilidades e os desafios para a profissão nos próximos anos?
Mural:
Pochete: Qual o diferencial de uma cooperativa jornalística?
Mural: Uma das práticas que buscamos fortalecer com o formato Mural Cooperativo é o trabalho coletivo. Assim, a maioria das reportagens jornalísticas é feita em território, com a participação de várias pessoas e o tempo que o assunto merece. Os escritos coletivos permitem alimentar os relatórios com diferentes posições e análises.
A seleção de tópicos e cobertura ocorre da mesma maneira, e a gestão econômica permite que os lucros sejam distribuídos de acordo com o trabalho de cada membro, diferente das empresas em que todos trabalham e os lucros globais vão para outras pessoas.
Pochete: Você acredita em novos idiomas como forma de abordar o público?
Mural: Acreditamos que a necessidade de se adaptar a novos idiomas é fundamental. Por esse motivo, estamos planejando uma migração para a mídia digital. Novas gerações de consumidores têm hábitos muito mais espontâneos. E queremos nos adaptar a essa realidade. O objetivo é manter a qualidade jornalística, melhorando os tempos e alcançando novos públicos. Em nossa cidade não há espaços para novos consumidores. A mídia é projetada para pessoas acima de 35 anos, por isso queremos ocupar esse espaço livre da juventude.
Pochete: Vídeo ou texto? Impresso ou digital?
Mural: No meu modo de trabalho, vídeo. Hoje, um storytelling de vídeo tem muito mais impacto que um texto. Em resumo, o vídeo é um texto transformado para outro formato)
Impresso ou digital? Somos nostálgicos em relação à impressão e o sustentaremos para aqueles que têm a mesma necessidade de interagir com a revista, embora entendamos que o digital é a primeira maneira de encontrar informações.
Pochete: Tempo de produção ou qualidade?
Mural: Qualidade e não negociamos. Preferimos sair tarde, mas sem falhas conceituais. Entendemos que a maioria das mídias, hoje, aponta para instantaneidade, por isso queremos criar um produto diferenciado.
Pochete: Tradicional ou inovação?
Mural: Inovação. As tradições não são ruins, mas é necessário questionar que ordem elas procuram sustentar.
Pochete: A imparcialidade gera credibilidade no ambiente jornalístico?
Mural: Não. Em nossa opinião, acreditamos que todo mundo tem uma postura, ficar no lugar de imparcial, não deixa de ser uma postura que, a curto ou longo prazo, seja exposta.
Links da iniciativa (conteúdo multimídia…)
