aquele velho buraco lá dentro
eu caí num buraco de minhoca
tipo a Alice no país das misérias
vendo não um mundo encantado
mas seu lado verdadeiro e cru
(eu caí e me levantei tantas vezes
que nem sei direito como estou vivo)
eu caio por dentro
ninguém percebe
é uma coisa um tanto íntima cair
quando a gente cai no chão o bobo ri
mas por dentro, quando a gente mostra
ninguém ousa
é algo forte demais pra gargalhadas tolas
tão desesperador que qualquer um vê o quanto é sério
ninguém ousa chegar perto
é como ficar preso naquele buraco
não tem como chamar ninguém
não tem como se aproximar
não tem como pedir ajuda
(e como é escuro lá dentro)
só que quando a gente sai
parece que vai recuperando uma espécie de adolescência
uma coisa perdida e afobada que tem vontade de consumir tudo
porque tudo lhe falta e tudo lhe é presente ao mesmo tempo
e são nessas adolescências que nos enchemos de coragem
pelo menos até cair no próximo buraco
aquele velho buraco lá dentro
Vinícius Asevedo
Siga os perfumes e espinhos de Poesia Rosa