só mais uma poesia de um réveillon sob efeito de drogas
em sofrimento absoluto
uma vez a liguei
imediatamente remediando meus problemas
irmã, dizia
vínculo espiritual poderoso e inexplicável
não sei dizer ao certo
como pudemos ser tão pueris
a ponto de trocarmos fogo amigo
em uma festa de final de ano
de São Thomé das Letras
drogados
doce em meio a bruxas
amigos, banhos de chuva nus
pirocas de cactus em pedras brilhantes
de artifícios amorosos
parece que tudo dá errado para mim no réveillon
desde quando perdi meu avô
talvez inconscientemente
eu tente destruir alguma coisa
para aliviar a pressão de ter que lembrar
de algo que sequer consigo medir as consequências
quem sabe não foram todos os segredos
que compartilhamos e que deixaram tudo
tão intimamente perigoso a ponto de ser cruel?
a verdade é que nunca gostei de ser guardado
em potinhos e pontinhas
mas parece que é só o que atraio
e o que mais me atrai
sei apenas que sinto falta daquele tempo
onde tínhamos mais tempo e menos dinheiro
onde conseguíamos suavemente inventar a nós
mesmo(s) sem amarras ou artifícios
e a magia acontecia naturalmente
apesar de bruxas homofóbicas e talaricas
anos depois, cá estou, ajudando a construir
um mundo completamente artificial
e, sabe, acho que mereço o alto preço
que pago por estar nele
seja em dinheiro ou em sanidade
a maior ironia é que eu te ligava com crises
de coisas que outros me provocaram
mas vejo agora que sou capaz
das mesmas crueldades
de que fui alvo quando era indefeso
e que, mesmo mais forte, permaneço vulnerável
livre associação absurda
escrita em sofrimento
que talvez um dia seja publicada
para, com certeza, deixar-me ainda mais frágil
diante de outros olhares
e de repente é isso que me faz viver:
expor o que a maioria tenta esconder
seja lá o que isso signifique
Vinícius Asevedo
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