Amor
Que sândalo espesso é esse
que escorre por toda entranha
mas que quando se assanha
e derrama pela sarjeta
nos causa tanto escândalo?
Seu gosto é
de sangue e de merda
da bile e do esporro
e daquele líquido morno
sem nome na língua
que vaza das vaginas
quando se abrem em furor.
E se é nas reentrâncias
onde o amor penetra
as glândulas se aliviam
e excretam pela saliva
o oceano salgado e obsceno
por onde os amantes singram.
Sob o sopro do resfolego
pela mira da malícia
com a carta do aconchego
e a bússola da saudade
o sumo percorre astuto
da mentira até a verdade.
Por ali não há horror
que não vista de artifício
nem se tisne da desculpa
de que assim se sucedeu
porque foi como quis o amor.
E assim resta a chaga
seja nódoa, seja cicatriz:
que perdura na matéria,
nos lembra da náusea forte e
nos lança à pequena morte
que um dia é estar feliz.
_