Oco no peito
E se o espaço vazio
fosse a teia que nos unisse
a rede de proteção
que nos segura no nada
e o salto para dentro
do vácuo que se sente
fosse tudo o que restasse?
E se,
na queda livre
o ruído assustador nos ouvidos
fosse só sussurro das bocas
aquecendo o ar ambiente
dizendo para nós
“eu, eu, eu”?
E se,
ao nada ver
ou tocar ou sentir
pudesse surgir do oco
a flor da experiência
o beijo do destino
o vento que sopra
que nos tira daquele sufoco
de quem se lhe falta ar
porque se esqueceu
de inspirar?
E se,
ao abrir a porta
fosse o sol a me saudar
morno, carinhoso, ameno
a nos embalar suave
feito a mão que balança a rede?
E se eu pegasse a estrada
que leva ao sítio incerto
da chama da transmutação?
Lá eu não sei o que seria
mas o ‘se’ se cessaria
e por um segundo curto
sem estar perdido no nunca
poderia soar minha voz
e ouvir com toda clareza
a pronúncia do meu nome
que é de certeza a casa
que tenho na imensidão.
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