Vida
O senhor dos caminhos
num clarão gargalhou,
quando surgiu na estrada.
Com o cetro me indicou
e bem diante de mim
brilhava a encruzilhada.
Fiquei totalmente sozinho
mas de fato não estava,
e assim Legbá me disse:
“Aqui é o que tu precisas.
Ali o que desejavas.
Acolá é a mesmice
que tanto tu mal visse
mas onde se planta agora
tua rama mal-aparada.”
Então veio o silêncio e
do céu sem nuvem ouvi
uma longa trovoada.
Era deus que me dizia?
Era diabo que atentava?
Era meu anjo da guarda,
soprando no meu ouvido,
cuspindo com bafo quente
o gosto da tua água?
Os dedos dos pés descalços
fincados entre as areias
me davam o sentido vago
de que o destino clareia
ou de que haveria escolhas
ou das duas coisas mistas
embaralhando nas vísceras
o intenso pertencimento
de que somente isso
é o tanto de rebuliço
que a gente finge que entende
mas enfim é chamado vida.
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