Finda Poesia

Diego Orge
Poeta Adverso
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1 min readFeb 15, 2019

Pensei tê-la perdido.
buscava e buscava
em meus escritos
o que ali me fazia poeta
e hoje me faltava.

Faltava cor
e o tempo para ver
que não há cor
que não mude
com o passar do dia.
Ouvir cigarras e grilos,
o prenúncio da noite,
ver que até uma árvore,
se sertaneja, clama
para os céus pedindo água.
E segue crendo depois de morta!
Rídicula, com os braços abertos para cima,
um rosto enrugado de dor e de sede.

Faltavam os tons de rosa ao leste
e as flores das mangueiras.
Claro, faltavam-me pássaros
e suas canções descabidas.

Faltava amanhecer
depois de tantos invernos
faltava também anoitecer
e reconhecer tal qual os antigos,
o mapa aberto no céu.

Faltava sentir-me íntimo
das fases da Lua
dos horários britânicos das estrelas,
faltava tocar meu corpo e senti-lo meu
antes de deitar com outro corpo
com outras sedes, outras dores,
outra garganta rouca
de tanto pedir aos céus algum sentido.

Faltou até mesmo não escrever
e não ser poeta
para aprender a não ser escritor
e nem fazer poesia.

Faltava tempo para perder
sem ter perdido
e ganhar sem ter vencido.
Era isso que me faltava:
– Morrer poeta e virar poesia.

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Diego Orge
Poeta Adverso

Criador de mundos infinitesimais. Poeta. Existencialista. Ateísmo em prosa poética. d.orgefranco@gmail.com