Há que se viver de sonhos

Diego Orge
Poeta Adverso
Published in
1 min readMar 30, 2017
streaks of light

O peito exposto desafia os espectros
e sombras de histórias passadas.
Não é preciso pele dentro de quatro paredes.
Paredes enclausuram a realidade dos sonhos
os tornam quase verdadeiros.

Há que se viver de sonhos!

Os meus olhos abertos encaram
os olhos-fantasma que ali estiveram
a meio palmo de mim.
Troquei muitos olhares. Mas em poucos
senti-me a imagem residual que fica.
Em menos olhos ainda caí
aos pedaços tirados de mim
a habitar certos abismos.

Não que eu seja cheio de ausências
creio ter vivido ao mesmo tempo em mais de um corpo.

Mesmo hoje, nas distâncias
me vejo nas memórias dos outros,
na memória tátil da ponta dos dedos
que percoraram as minhas costas
trespassando a minha história
sem qualquer propósito.

Sonhos não tem promessas mortas
só lhe abrem a porta e tiram-na completamente
sem que se note sua falha inverossímil.
Amores tampouco são narrativos.
quebram-se, desatam-se
nós frouxos dados sem tempo.
Há que se viver de sonhos!

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Diego Orge
Poeta Adverso

Criador de mundos infinitesimais. Poeta. Existencialista. Ateísmo em prosa poética. d.orgefranco@gmail.com