A sucata eleitoral na internet: o lixo que não se recicla.

O lixo eleitoral que é despejado na internet todos os dias pode não poluir o meio-ambiente, mas mesmo assim representa uma ameaça à noticiabilidade dos fatos e ao voto dos eleitores

Rafael Costa
Política e Economia
4 min readDec 4, 2018

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Imagem: Divulgação

Por Larissa Mascolo, João Vieira, Gabriela Soares e Rafael Costa

Diante das novas regras aos candidatos nas propagandas eleitorais de 2018, que ganharam corpo e repercutiram, inclusive, na legislação atual, a mídia digital virou a principal ferramenta para as campanhas eleitorais. O público alvo, povo das ruas, acabou sendo mesclado ao povo das mídias sociais.

Uma das proibições foi a pintura nos muros de imóveis particulares, assim como a colocação de cavaletes, que agora não são mais permitidos. Os conhecidos “santinhos”, que embora proibidos pela Legislação Eleitoral, ainda são distribuídos, e acabam sendo o principal problema para manter as cidades limpas durante e após o término do pleito.

Porém, neste ano foi diferente. O grande volume de lixo eleitoral que invadia as ruas durante os dias de votação diminuíram, ao mesmo tempo que a campanha nas redes sociais aumentou. Com essa migração do físico para o virtual, era comum que os aplicativos como WhatsApp, Facebook e Twitter fossem bombardeados com o disparo da chamada “Fake News”.

“Os boatos, que hoje é chamado de fake news, sempre aconteceu, a única diferença é que hoje nós temos a internet servindo de suporte para esse fenômeno que já existia antes”, disse o cientista político Paulo Moura.

Em Porto Alegre, segundo o diretor da Divisão de Limpeza e Coleta do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), Leandro Reis Obelar, foram recolhidos 7,4 toneladas de resíduos durante os dois dias de votação deste ano, realizado em 7 e 28 de outubro. “No 2º turno houve uma concentração maior de resíduos coletados nas regiões Sul e Extremo-Sul. Cada uma destas regiões coletou em torno de 300 quilos de material. Na avenida Goethe, com a vitória de Bolsonaro, se retirou 800 quilos de resíduos”, comenta Obelar.

Ao comparar com as eleições de 2014, é possível verificar que o número ficou bem abaixo nas eleições de 2018. Em 2014 foram retiradas 50,7 toneladas de lixo eleitoral das ruas de Porto Alegre nos dois turnos.

Entretanto, a propaganda política aumentou na internet, agora poluindo as páginas da web. De acordo com o professor de Ciberjornalismo da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS, Marcelo Träsel, o lixo eletrônico é difícil de ser reciclado e contribui com a desinformação dos eleitores. “As chamadas fake news tinham uma repercussão menor, porque antigamente o material para difamar um candidato deveria ser impresso para depois circular”, explica.

Legenda do marcelo: Marcelo Träsel debate em seminários sobre o fenômeno “fake news” | Foto: Rafael Costa

O jornalista ainda ressalta que este formato facilitava a identificação dos responsáveis e, consequentemente, a punição dos mesmos. No mais, a democratização da internet é outro fator prejudicial, uma vez que “tudo acontece às escondidas nos grupos de WhatsApp, que são fechados e têm tipografia”, reitera Träsel. Além do exemplo citado pela fonte, o Facebook é o dono das principais ferramentas que dificultam o trabalho da justiça.

Outro fator que contribui com a propagação de notícias falsas no ambiente virtual é o baixo custo. Se antes as campanhas se limitavam aos “bandeiraços” — ação em que os eleitores agitam bandeiras de um candidato nos principais pontos da cidade — hoje os eleitores podem promovê-los sem sair de casa. Träsel afirma que o acesso à internet mobilizou às pessoas, mas em contrapartida facilitou a desinformação.

“Antigamente, para participar de uma campanha tinha que ir para rua, abanar bandeira ou coisa do gênero para promover seu candidato. Hoje, muita gente participa da campanha só através da internet. É muito mais fácil, custo é muito menor e tem muito mais alcance. Ferramentas como essa acaba tendo a possibilidade muito maior da desinformação circular”, explica Träsel.

Conforme o estudo divulgado pelo Instituto de Tecnologia de Massachsetts (MIT) as falsas informações se propagam 70% mais depressa se comparadas as verdadeiras. Enquanto as publicações verídicas alcançam, em média, mil pessoas, os conteúdos falsos são mais populares, atingindo de mil a 100 mil pessoas.

No meio de tanta disseminação de fake news, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou uma página na internet para orientar os eleitores sobre as ‘informações falsas e falaciosas’ que cercam as redes sociais. De acordo com o Justiça Eleitoral, a divulgação de informações corretas, apuradas com rigor e seriedade, é a melhor maneira de enfrentar e extinguir a desinformação.

Ainda de acordo com o estudo, quando a notícia falsa é ligada à política, o alastramento é três vezes mais rápido. Outra conclusão é que, ao contrário do que se pensava, os robôs aceleram a disseminação de informações falsas e verdadeiras nas mesmas taxas. Isto significa que as notícias falsas se espalham mais que as verdadeiras porque os humanos — e não os robôs — têm mais probabilidade de disseminá-las, de acordo com o autor principal do estudo, Sinan Aral, pesquisador do MIT.

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Rafael Costa
Política e Economia

Acadêmico de Jornalismo da Unipampa, redator do Blogando, comunicador, fotógrafo, leitor e criador de memes.