Eleitores se preocupam com a polarização brasileira

Reportagem acompanhou a eleição no Colégio Israelita na Capital, onde eleitores encontraram um clima tranquilo e sem tumultos.

Gustavo Pinheiro
Política e Economia
5 min readOct 10, 2018

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Entrada do Colégio Israelita no bairro Santa Cecília em Porto Alegre no domingo, 7/10 durante o primeiro turno das eleições de 2018 (Crédito: Gustavo Pinheiro)

Por Gustavo Pinheiro

A pequena fila com pouco mais de 15 pessoas quando o relógio marcava 7h55, antes da abertura do portão exemplifica bem como foi o primeiro turno das eleições brasileiras no Colégio Israelita, localizado no bairro Santa Cecília em Porto Alegre, no ensolarado domingo, dia 7/10. Sem ocorrências eleitorais, urnas funcionando perfeitamente e tranquilidade para todos os 3.965 eleitores das sessões ali existentes. Nem parecia um pleito marcado pela polarização.

“Essa divisão é ruim para todo mundo. Não temos só duas verdades, o povo tinha que tentar se unir entorno de uma ideia de governo, acho que o resultado vai ser ruim, independente de quem ganhar". Assim a médica Viviane Draghetti sintetizou o sentimento que predomina na política brasileira após votar em uma das sessões eleitorais do Colégio Israelita.

A polarização política entre a esquerda e direita indicada pelo segundo turno das eleições para presidente, entre Fernando Haddad, do PT, e Jair Bolsonaro, do PSL, é vista como problemática e ruim para muitos dos eleitores entrevistados no domingo de primeiro turno.

Esse é o caso do profissional de Relações Internacionais Bruno Vaz da Silva. Para ele, os momentos turbulentos da política e da economia levam a população aos extremos, atrás de soluções fáceis que não existem. “Isso pode ser danoso para o país, quando temos crise econômica e política as pessoas partem para o extremismo atrás de soluções rápidas, só que na atual conjuntura do país não conseguiremos resolver essas questões rapidamente”.

Não só o extremismo, mas a demonização de certo partido ou de certo candidato pode influenciar muito nas eleições, assim acredita a estudante de Publicidade e Propaganda na Unisinos Laura Jeremias. “Acho errado a população votar em certo candidato por ódio do outro, não pensando como o Brasil vai realmente melhorar com isso. Se quisessem realmente melhorar, iriam votar num candidato com propostas boas e coerentes”, diz ela.

O outro lado da moeda é que com o tempo a população brasileira irá amadurecer nas questões democráticas e ampliar as discussões, é a opinião do funcionário da Equipe de Educação da EPTC Eduardo de Souza. Segundo ele, o Brasil passa por um processo que já deveria ter passado, que faz com que as pessoas acabem se envolvendo mais na política e se posicionando. Contudo como os brasileiros são ainda seres incipientes na lógica da democracia, a polarização acaba inviabilizando um profundo debate, já que a população defende seu ponto de vista e suas ideologias, não projetos e planos de governo.

Voto de deputada no Colégio Rio Branco

Mas muito além da importância da escolha do presidente da República, as eleições servem para elegermos os “fiscais do Executivo”, a importância no voto bem pensado para deputados e senadores é muito grande. Uma dessas fiscais, a candidata eleita para deputada estadual pelo PT com 32.969 votos é Sofia Cavedon. Ela votou no colégio Rio Branco, ao ser questionada, a atual vereadora de Porto Alegre e futura deputada disse que a sua principal luta será pela educação pública de qualidade, melhorando as condições de trabalho e buscando um novo financiamento da educação estadual para melhorar a rede de ensino tanto para alunos quanto para professores.

Deputada Federal Sofia Cavedon, eleita com 32.969 concede entrevista para reportagem da Revista Política e Economia da Uniritter antes de votar no colégio Rio Branco, ao lado do Israelita. Crédito: Sofia Cavedon/Divulgaçāo

Outra proposta apresentada por Sofia será a cobrança de royalties da água do estado, semelhante aos royalties do petróleo, aproveitando essa água que é usada como insumo das grandes empresas de refrigerantes e de cervejas, que a utilizam e não pagam por nada disso. “Além disso, iremos fomentar a cultura e apoiar a lutas das mulheres, para uma educação que não seja mais sexista e para que a sociedade não seja mais discriminatória da mulher” completa Sofia.

Segundo ela, a campanha até a eleição foi feita por muitas mãos, que construíram juntos toda caminhada de Sofia, de inúmeras conquistas, trabalhos e luta pela defesa da democracia. Agora a deputada pretende representar todos seus eleitores da melhor maneira possível na Assembleia Legislativa do Estado.

Alguns dos primeiros eleitores disseram que foram votar cedo porque tinham compromissos pela tarde ou para fugir de filas extensas. O que se mostrou uma decisão acertada já que por volta das 11h30, o fluxo no colégio era intenso e em algumas seções o tempo de espera para votar chegou a ser de meia hora. Por volta da uma hora da tarde, a situação se normalizou e seguiu assim até o fim das eleições. (Crédito: Gustavo Pinheiro)

Fraudes em urnas eletrônicas: até onde o que se fala é verdade

Embora a votação tenha transcorrido bem no colégio, muitas pessoas ficaram desconfiadas com as notícias (algumas fakes) de que existiam urnas com votos já computados antes do começo das votações ou que ao teclar um número, o voto já seria direcionado para certo candidato. Para o programador da Oracle, Bruno Martins é perfeitamente possível que o sistema das urnas seja adulterado, mas acredita que não aconteça no Brasil, porque existem mecanismos de segurança para evitar a burla.

Cabe ressaltar que além do Brasil, outras 32 nações no mundo utilizam o sistema de urnas eletrônicas, como por exemplo: Suíça, Canadá, Austrália, Estados Unidos (em alguns estados), México, Peru, Japão, Coréia do Sul e Índia. Essa informação é do Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral (IDEA Internacional). Contudo, o nosso país é um dos poucos que conseguem expandir a votação eletrônica para a totalidade da população, tornando o sistema brasileiro referência internacional e atraindo o interesse de vários países para implementação desse sistema.

Dessa forma, o profissionak de Relações Internacionais, Bruno Vaz endossa as palavras do IDEA Internacional, ao considerar o Brasil como o sistema mais justo de votação. “Qualquer eleição é passível de fraude, mas aqui já blindamos as eleições brasileiras, esse reconhecimento internacional é justo. Não estamos mais perto da fraude do que já estivemos algum dia”.

Para o funcionário da Equipe de Educação da EPTC Eduardo de Souza , a situação é um pouco mais complexa, ele acredita que fraudes podem acontecer, mesmo sem subsidio para afirmar isso. Já que vivemos em um país não muito comprometido com a ética, em que os interesses individuais falam mais alto que a coletividade.

Com o segundo turno configurado como está (tanto em âmbito nacional como estadual), será necessária muita cautela, muito estudo e busca de informação para decidir seu voto. Com discursos de ódio e votos polarizados nenhum presidente eleito conseguirá unificar a população brasileira e consequentemente a discussão continuará até 2022, quando a sociedade terá uma nova chance de lutar pelo desenvolvimento do país. Ou não.

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