Fake News pode eleger candidato?

Leonardo Ferreira
Política e Economia
7 min readOct 16, 2018

Grupos de checagem de informações analisaram declarações dos candidatos ao governo do Estado do RS.

Montagem: Yasmin Souza

Por: Leonardo Ferreira e Osmar Martins

Os candidatos do segundo turno para Governo do Rio Grande do Sul (RS), o governador José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB) tiveram declarações e boatos analisados, por serviços de checagem, para confirmar a veracidade. Os materiais escolhidos e checados das eleições de 2018 tem como relevância trazer mais informações, dados e elementos para melhorar a qualidade do debate público.

As parcerias com o Jornal do Commércio e o Truco nos Estados — projeto de checagem de fatos da Agência Pública, feito no Rio Grande do Sul (RS) em parceria com o Filtro Fact-checking — foi formada para verificação de fatos, dados e declarações públicas com foco no RS com objetivo de desconstruir informações enganosas e apresentar a verdade.

O emedebista Sartori é candidato à reeleição teve as declarações checadas pelo Truco, 8 analisadas entre elas três verdadeiras, duas falsas, e uma para cada outra classificação discutível, sem contexto e outra exagerado

José Ivo Sartori por Truco
https://truco2018.apublica.org/candidato/jose-ivo-sartori/

O tucano Leite, teve sete declarações analisadas, entre elas, três classificadas como verdadeiras, duas sem contexto, uma discutível e uma impossível de provar

Eduardo Leite por Truco
https://truco2018.apublica.org/candidato/eduardo-leite/

Veja as classificações pelo Truco:

Verdadeiro: A análise dos dados e de outras fontes mostra que a afirmação é verdadeira. Dados arredondados também são considerados verdadeiros.

Sem contexto: A afirmação traz informações ou dados corretos, mas falta contexto que é importante para a compreensão dos fatos.

Discutível: A conclusão sobre a frase varia de acordo com a metodologia adotada.

Exagerado: A frase traz dados inflados ou é uma afirmação superdimensionada sobre um fato ou uma tendência verdadeira.

Subestimado: A frase traz dados subdimensionados ou é uma afirmação minimizada sobre um fato ou uma tendência verdadeira.

Impossível provar: Não existem dados ou estudos confiáveis publicados que embasam a afirmação, no momento da checagem.

Falso: A análise dos dados e de outras fontes mostra que a afirmação é falsa, não corresponde à realidade.

Veja três citações do Sartori analisadas durante o primeiro turno.

Veja três citações do Eduardo Leite analisadas durante o primeiro turno.

As análises e checagens feitas foram devidas a uma menção de um dado ou fato objetivo, passível de ser conferido pela agência, não sendo este de valor, expressão ou de uma opinião subjetiva. Além disso, não fazer uma previsão ou falar de algo que pode acontecer no futuro.

Criado em 2014, o “É isso mesmo?”, mecanismo de checagem da GaúchaZH juntamente com o Grupo de Investigação da RBS (GDI), conferiram as declarações dos candidatos ao governo do Estado na campanha eleitoral para o governo do Rio Grande do Sul. As 21 falas dos candidatos do segundo turno das eleições, tem parte das checagens abordando declarações sobre finanças, saúde, segurança e educação.

O governador, José Ivo Sartori, obteve 11 declarações checadas, destas, quatro foram classificadas como “não é bem assim”, cinco “é verdade” e duas como “não procede”.

Enquanto as dez declarações do candidato ao governo do RS, Eduardo Leite, que foram checadas, seis foram classificadas como “É verdade”, três “não procede” e uma como “não é bem assim”.

Categorias classificação pelo GDI:

É verdade: A informação está correta e corresponde a dados e estatísticas oficiais.

Não é bem assim: Apenas parte da sentença está correta.

Não procede: O interlocutor está equivocado na informação que afirma.

Regras de checagem
1) São checadas as informações que têm verificação possível em fontes oficiais
2) Os temas escolhidos levam em conta a relevância
3) Os candidatos não são procurados pela reportagem
4) Em caso de números arredondados pelos candidatos, os critérios utilizados pela equipe são:
se a variação for de até 10%, para mais ou para menos, a informação é classificada como “É Verdade”
se a variação for acima de 10% e até 30%, para mais ou para menos, a informação é classificada como “Não é bem assim”
se a variação superar 30%, para mais ou para menos, a informação é classificada como “Não procede”
5) A equipe está aberta a contestações por parte dos candidatos, que posteriormente serão avaliadas pelos checadores

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou, no dia 11 de outubro, uma página na internet para ajudar a esclarecer o eleitorado brasileiro acerca das informações falsas que vêm sendo compartilhadas nas redes sociais.

Através da página “Esclarecimentos sobre informações falsas”, é possível acessar as informações sobre boatos, veiculações e esclarecimentos feitos pelas agências de checagem de conteúdo, alertando para os riscos da desinformação.

Entenda mais sobre checagem de fatos

A apuração de fatos e checagem de informações sempre existiram no jornalismo. Todo autor conceituado no assunto ou manual de boas práticas da profissão aborda sobre a importância de consultar diversas fontes, de validar as informações a serem distribuídas, do compromisso com a versão mais próxima da verdade, da busca pela imparcialidade e pela transmissão íntegra dos fatos.

Acontece que, de uns anos pra cá, com a popularização da internet, dos computadores e celulares pessoais, e de todo o dinamismo de produção, publicação e distribuição de informação que veio junto com esse fenômeno, a checagem criteriosa realizada pelos jornalistas, que antes fazia parte da receita fundamental de qualquer notícia, é hoje, em alguns casos, uma espécie de acompanhante opcional.

De modo geral, a etapa da apuração é aplicada com maior rigor apenas em investigações, grandes reportagens ou especiais, deixando o factual para ser verificado basicamente pelo feedback do público ou por análise do que a concorrência também publicou sobre o assunto, acabando muitas vezes por replicar conteúdos ou apenas expressar determinado ponto de vista de um fato, baseado nas primeiras fontes consultadas, mas não verificadas.

O contexto é complexo e passa por diversos pontos, indo desde a redução de mão de obra nas redações até a competição com o público e outros veículos pela publicação de conteúdos de informação imediata, entre outros fatores específicos de cada redação. Além disso, os conteúdos publicados e distribuídos através de redes sociais por empresas, políticos, personalidades e público comum não passam por nenhum tipo de validação e checagem, pois de fato não têm compromisso com a verdade, e mesmo assim são consumidos e ajudam a formar opiniões e visões de mundo.

É nesta problemática que a checagem de fatos retoma sua importância e torna-se um nicho de mercado a ser explorado no jornalismo. Em uma sociedade onde todos publicam o que tem vontade, e as redações jornalísticas lutam para sobreviver, cumprir a demanda e manter sua credibilidade, algumas pessoas e empresas resolveram tomar a frente para verificar o que de fato é notícia e o que é informação equivocada, ou até mesmo para desmascarar as famosas ‘fake news’, desinformações que são jogadas na rede para que atinjam determinado objetivo.

Em 2003, nos EUA, surgiu a primeira instituição que se tem conhecimento focada exclusivamente em checagem de fatos, a FatCheck.org, embora a popularização da atividade tenha ocorrido apenas alguns anos mais tarde com a eleição americana de 2008. No Brasil, a Folha de São Paulo foi a pioneira a investir em núcleos de fact-checking, criando o Mentirômetro e o Promessômetro, para as eleições de 2010. Com o passar dos anos e com o engajamento da população em relação à política crescendo, diversas outras iniciativas ganharam força, entre elas a Agência Lupa, primeira agência de fact-checking brasileira, o blog Truco, da Agência Pública e o Preto no Branco, do Jornal o Globo, o núcleo GDI de GaúchaZH, assim como a organização Aos Fatos, plataforma pioneira focada em checagem de discursos públicos.

Apesar da existência de um código de boas práticas disponibilizado pela IFCN (International Fact-Checking Network) que certifica internacionalmente agências de fact-checking, cada empresa tem sua maneira de trabalhar, embora a premissa de todas seja a mesma: transparência. O método utilizado pelas equipes de checagem está sempre disponível nos sites de maneira clara, de modo que o público possa ter o máximo de ferramentas possíveis para que confie no que é publicado pelo veículo, já que a credibilidade pode ser um problema, pois muitas vezes o que é divulgado pelas empresas de checagem é diferente da primeira versão do fato que o usuário havia recebido.

Além de métodos com passos bem esclarecidos, as empresas utilizam também etiquetas para classificar o que é checado. Cada uma tem as suas, mas basicamente o objetivo é poder abranger diversos níveis de uma declaração ou fato, não limitando-se apenas a verdadeiro ou falso, mas destacando também verdades parciais, declarações futuras que ainda não se confirmaram, contradições, entre outros casos.

Independente da instituição, método, profissional ou etiqueta a ser utilizada para a realização da checagem dos fatos, o que é válido, não só para os profissionais do meio mas para todos, é a preocupação e o cuidado com a transparência, a disponibilidade em buscar confirmar todas as informações sobre um assunto a fim de esclarecer-nos em meio a este mar de conteúdo que consumimos e publicamos diariamente na internet.

Grupos de checagem consultados nesta matéria:

Aos Fatos

Grupo de Investigação da RBS (GDI) / “É isso mesmo?”

Truco nos Estados

Projeto comprova (Jornalistas de grandes periódicos participam)

LUPA

Internacional Fact-Checking Network

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