Saindo dos bastidores

Victória Marisquerena
Política e Economia
6 min readOct 9, 2018

Motivações e expectativas de mulheres candidatas aos cargos do legislativo nas Eleições de 2018

Por Guilherme Telmo, Leonardo Moura e Victória Marisquerena

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres são maioria no Brasil, representando 51% da população brasileira. No entanto, essa superioridade numérica não se reflete na ocupação de cargos nos poderes legislativo e executivo.

No estudo Estatísticas de Gênero — Indicadores sociais das mulheres no Brasil feito pelo IBGE aponta o Brasil em 152° lugar, entre 190 países, no ranking que mede a presença de mulheres no parlamento. Conforme a pesquisa, apenas 10.5% das cadeiras na Câmara dos Deputados são ocupadas por mulheres.

A partir das eleições desse ano, em decisão unanime do Tribunal Superior Eleitoral, os partidos devem garantir pelo menos 30% do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e do tempo de propaganda gratuita para candidaturas femininas.

Expectativa das candidatas de primeira viagem

Simone Mirapalhete, candidata a deputada federal nas eleições de 1° turno de 2018 pelo PT, obteve 7.466 votos, mas não foi eleita. Entrevista feita no dia 3/10/2018, na Unirtter — Campus Fapa. (Crédito: Leonardo Moura)

Militante do Partido dos Trabalhadores (PT) há mais de 18 anos, Simone Mirapalhete participava pela primeira vez do processo eleitoral como candidata a deputada federal em 2018. Bióloga de formação, Simone tem larga atuação junto aos governos petistas no estado do Rio Grande do Sul. Foi diretora dos parques públicos de Porto Alegre, nos Governos Tarso Genro e Raul Pont, além de ter sido gestora do Museu de ciências naturais de Zoobotanica. Atualmente dirigente do partido, o principal fator que motivou Simone a participar do pleito foi justamente a escassez de mulheres no cenário político brasileiro.

“Somos poucas. Sempre militei, sempre fui atuante nessa questão, e nesse ano, as mulheres começaram a pressionar para que houvessem mais de nós na linha de frente, que saíssemos dos bastidores e participássemos ativamente da vida política” afirma Simone Mirapalhete.

Aline Muller, candidata a deputada federal nas eleições de 1° turno, pelo PDT, obteve 1.116 votos, não conseguindo se eleger. Entrevista feita no dia 4/10/2018 na Uniritter — Campus Fapa. (Crédito: Guilherme Telmo)

Aline Muller, porém, consegue enxergar a dificuldade de fazer campanha com pouca verba e não sendo um dos “figurões” do partido. Como mulher, ela afirma se sentir lesada e prejudicada em relações a outros membros do PDT. Mas, garante que isso não é exclusividade do partido, mas sim de toda uma construção histórica aonde a mulher está à margem da atuação política no Brasil.

“Existem deputados dentro do PDT, não vou nem falar valores, isso está na internet e é público. Com verbas altíssimas de campanha. Me sinto prejudicada, porque eles vêm com uma proposta para a gente, “vamos lá, vamos colocar mulher lá” e chega na hora não é nada do que prometem, nós ficamos jogadas lá, apenas para fazer número e compor as candidaturas do partido” afirma Aline Muller, candidata pelo PDT.

Aline recebeu 10 mil reais do fundo partidário, e contou somente com esse montante para percorrer os municípios da região metropolitana em busca de votos. A título de comparação, os deputados Pompeo de Mattos e Afonso Motta, rostos conhecidos e antigos do PDT, receberam 500 mil reais cada. Ambos conseguiram garantir cadeiras na Câmara de Deputados.

Aline obteve uma votação singela, com 1.116 votos. Ela projetava muitas dificuldades para se eleger, mas garantiu que sua trajetória como figura pública está apenas no começo.

“Pretendo me candidatar novamente em 2020, se não obtiver sucesso nessas eleições. Viamão está atirada, com muitos problemas, então, pretendo conversar com o partido e me redirecionar para lá”.

Até o pleito municipal, Aline pretende se candidatar novamente ao cargo de Conselheira Tutelar, e seguir atuando junto as pessoas mais carentes da cidade onde mora.

Carmen Flores: Mulher, empresária e de direita

Carmen Flores, candidata a senadora no 1° turno pelo PSL, ficou em 4° lugar, com um 1,5 milhões de votos. Entrevista feita no dia 3/10/2018, no Diretório Estadual do PSL, em Porto Alegre. (Crédito: Leonardo Moura/Arquivo Pessoal)

Carmen Flores, conhecida empresária do ramo de móveis de Porto Alegre, se candidatou ao Senado pelo PSL neste ano. O aumento da carga tributária e a crise financeira que se agravou nos últimos anos no país motivou Carmen a disputar uma vaga no legislativo.

‘’Com essa crise nós tivemos que demitir pessoas e fechar lojas, então, fez com que a gente começasse a entrar em pânico com isso, uma carga tributária abusiva, que não há menor condições de sustentá-la’’. Comenta a empresária.

A revolta sobre como é feita a política no país, o descaso com a saúde e a segurança, a falta de incentivos para o agronegócio, o rombo bilionário e a corrupção no BNDES, também foram pontos cruciais que segundo a candidata motivaram sua candidatura. Carmen Flores também destacou as dificuldades que os empresários hoje sofrem no Brasil.

‘’Hoje é quase inviável uma empresa se manter no Brasil’’. Afirma Carmen Flores.

A empresária menciona que em 2017, em decorrência da crise financeira no país, se fechou 220 mil lojas no Estado, mais de mil indústrias. Salienta as dificuldades que os empresários gaúchos enfrentaram nos últimos anos, dá o exemplo do ramo calçadista, que sempre foi referência no Estado e como diversas empresas fecharam as portas ou foram para a China.

Carmen diz ter recebido um chamado de Jair Bolsonaro, político que já lhe chamava atenção e ganhava sua admiração, para recriar o partido no Estado e buscar candidatos a deputados. Fora feito tudo com calma, o intuito era primeiro ter um candidato a governador, que acabou desistindo. O apoio ao senado seria à Ana Amélia, que desistiu da candidatura para ser vice de Geraldo Alckmin. Então o partido ficou sem governador e sem uma majoritária. Foi apresentado alguns nomes a Jair Bolsonaro, porém nenhum o agradou, então, o mesmo lhe convidou a ser presidente do partido e concorrer ao Senado, já que estava com todos os deputados com ela e ter um conhecimento de todo o Rio Grande do Sul.

Mulher que sempre se considerou de direita, oriunda da ARENA, sua família sempre esteve ao lado dos partidos de direita. Admite que tomar essa posição nos dias de hoje, ainda mais se tornando a ‘’Senadora do Bolsonaro’’ assumiu o risco de perder clientes, porém, não quis ficar omissa diante de uma situação, que segundo ela é muito grave. Carmen acredita que se caso Bolsonaro não for eleito presidente e o PT voltar a assumir o poder, os políticos que eram do partido e atualmente estão presos, vão sair da cadeia, destruirão ainda mais o país e tornarão em uma Venezuela, país que sob uma ditadura socialista enfrenta uma grande crise, com uma hiperinflação, escassez de alimentos e de produtos de necessidades básicas.

Com uma campanha modesta, Carmen Flores, destaca o trabalho árduo e a ajuda voluntária que teve, o partido nunca aceitou fundo partidário. Bolsonaro mandou 200 mil reais para fazer a campanha dela de Senadora e a dele à Presidência no Rio Grande do Sul.

‘’Enquanto estou competindo com gente com até 30 milhões de reais, estou com 200 mil para as duas. Mas estou muito feliz, pois estamos fazendo um trabalho digno e honesto, estamos tendo a ajuda das pessoas, que são todas voluntárias e que acreditam em uma mudança’’. Comenta Carmen sobre sua campanha eleitoral.

Eleições 2018

As eleições de primeiro turno deste ano apresentaram um resultado sutil da mudança feita pelo TSE, com o aumento de mulheres eleitas em comparação ao pleito de 2014. Foram 77 mulheres eleitas, o que representou um aumento de 51%. No Senado, o número de representantes continua igual, com 7 senadoras eleitas nesse ano, mesmo que na eleição anterior.

Se por um lado, os dados indicam um aumento da participação feminina no cenário político brasileiro, numa análise macro, podemos concluir que as mulheres na política continuarão com uma atuação reduzida nos próximos quatro anos.

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