O mau uso da síntese

Como a oposição brasileira usa a síntese de assuntos complexos para azedar o debate

Alex Vila Verde
Política Latinoamericana

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É comum ouvirmos políticos defendendo a necessidade de realizarmos o debate amplo sobre isso ou aquilo. Porém, apesar de todo esse esforço, o que vemos na prática, é exatamente o contrário. Nas eleições de 2010, por exemplo, se não me engano, um dos tradicionais temas escolhidos foi o aborto. Atualmente, ao analisarmos o que tem sido falado sobre corrupção, Copa do Mundo e o posicionamento de algumas empresas como o BNDES e a Petrobras podemos perceber que essa mania de simplificar assuntos que não são simples permanece em alta para a oposição. E sobre isso, é importantíssimo perceber uma coisa. A oposição de hoje são os grandes veículos de comunicação do país e, os grandes veículos de comunicação do país representam os interesses da oposição. Políticos da oposição e grande imprensa vivem uma relação simbiótica.

Não acho que a síntese deve ser abolida, afinal, é uma ferramenta muito importante para explicar alguns temas, porém, acho uma enorme falta de educação usá-la com o objetivo de esconder aspectos que não temos interesse de debater.

Um exemplo que vou expor é a síntese do que penso sobre os grandes veículos de comunicação no Brasil;

Seguindo a mania desses opositores, podemos, em síntese, dizer que a oposição é a mídia que é a oposição …

Ao debruçarmos sobre os temas debatidos pela oposição, fica mais claro perceber o que estou falando sobre o mau uso da síntese.

Corrupção

Quando a oposição e os seus fieis seguidores de Facebook reclamam de corrupção aqui ou ali, seguem esquecidas algumas perguntas essenciais poderiam ser esquecidas para alguém que se diz revoltado com tanta coisa errada. Quando uma pessoa dessas vai para o Facebook reclamar que fulano recebeu x ou y, deveria também perguntar quem pagou e o motivo do pagamento. Para a existência da corrupção, é necessário um corruptor e um corrompido. Se qualquer um desses agentes não for considerado, não existe corrupção.

Copa do mundo

Sobre a Copa do Mundo, vem aquela ladainha clássica de dizer que o governo federal deveria gastar com escolas e não com estádios. Eu até concordaria com a afirmação se ela fosse simples do jeito que aparece. Mas não é. Ela omite que o governo, por meio do Banco Nacional do Desenvolvimento, emprestou dinheiro para os consórcios que demonstraram interesse em construir os estádios. As licitações e outras tratativas foram conduzidas nos estados e municípios. Ela omite, também, que os investimentos do governo foram estruturais, ou seja, aeroportos, mobilidade, saúde, segurança etc. Sem contar que, na época que foi anunciado que a Copa seria aqui, os estados brigaram para levar os jogos para os seus estádios, apresentaram projetos com o objetivo de demonstrar a capacidade de receber o evento. Por qual motivo isso é omitido no debate atual?

BNDES

Quando a imprensa diz que o Brasil financiou um porto em Cuba, parece até que o país pegou dinheiro que deveria ser usado para outra coisa e construiu o porto. A primeira pergunta que devemos fazer é: como funciona um banco? Como ele sobrevive? Um banco sobrevive emprestando dinheiro e cobrando juros. E foi isso o que o BNDES fez no porto de Cuba. Emprestou dinheiro e vai cobrar juros, como todos os bancos. Se um banco americano empresta dinheiro para que uma rede hoteleira americana construa um hotel no Brasil, esses mesmos reclamões elogiam: viram como o governo deles apoia as empresas de lá? Ahhhhh, se fosse no Brasil…. Pois é, meu caro leitor, agora é no Brasil e, finalmente, o Brasil está financiando, por meio do Banco, empresas brasileiras. Aqui, em Cuba ou qualquer outro lugar. E ainda fica com a garantia de receber os juros desses empréstimos no futuro.

Petrobras

Esse debate raso, que beira a infantilidade me da nos nervos. Querem reduzir todo o assunto em uma única resposta. Foi ou não foi um bom negócio? A presidente da empresa, com toda a paciência do mundo, explicou todos os fatores que deveriam ser explicados a um grupo de deputados que se preocupou apenas em repetir uma pergunta mal formulada. Pergunta que desconsiderou o tempo, o cenário e além disso, conseguiu desconsiderar completamente o objetivo da própria pergunta.

E assim a vida segue e a oposição tenta ao máximo focar os holofotes na parte para que o todo passe despercebido, azedando assim o debate amplo que eles tanto pedem.

O que você pensa a respeito? Deixe a sua opinião e compartilhe com os amigos. Até a próxima!

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Alex Vila Verde
Política Latinoamericana

Questionador. Talvez seja a palavra mais adequada para me definir. Amo a minha família, sou Flamengo e adoro expressar as minhas opiniões. Doa a quem doer.