Capa da última edição de carta capital

Santidades?

Uma infeliz comparação entre representantes mostra o quanto as instituições católicas e evangélicas são parecidas

Bruno Viterbo
3 min readJul 24, 2013

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Antes de começar, leia atentamente acima: critico aqui as instituições e não os fieis. Vamos lá:

Um hábito que adquiri recentemente foi o de ler comentários do público em reportagens de vários sites. Um hábito emocionante, diria, pois as pessoas – com a liberdade que lhe é conferida ao digitar por trás de uma tela eletrônica – escrevem emocionadas, com sangue nos olhos. Eu mesmo ao escrever esse texto. E você aí também. Ler opiniões contrárias à sua, então, se torna um exercício de autocontrole.

Pois bem. Num dos duelos que mais acirram os ânimos dos acalorados leitores é a religião. Ainda mais se opormos católicos e evangélicos. A vinda do papa ainda vai dar pano pra manga e os internautas estarão a postos para defender a sua “abençoada” instituição.

Um artigo escrito no site da Carta Capital gerou um debate quente e raivoso. A matéria, pelo título (Papa é um Feliciano com muito mais poder e apoio da Globo), coloca no mesmo patamar o Papa Francisco e o pastor-deputado Marco Feliciano. Pronto. Foi cutucar a onça com vara curta. Os católicos fervorosos repudiaram a matéria com as mais variadas justificativas – umas cabíveis, outras totalmente fora de propósito. Aliás, mesmas atitudes que demonizem os evangélicos.

Que fique claro: realmente não deve ser boa coisa ser comparado com Feliciano, um infeliz (trocadilho inevitável) pastor que passa longe de vários líderes evangélicos. Para os católicos, comparar o humilde Francisco com o pastor é caso de heresia. Assim como em nenhum momento o papa Francisco é culpado pelas verdadeiras heresias cometidas anteriormente pela Santa Sé. Mas, convenhamos: a matéria falha ao superficializar o debate, elencando alguns pontos de comparação e resumindo-os. Pontos estes que mostram o quanto essas duas instituições religiosas são convergentes em ideologias.

Ainda assim, parece que não ficou claro para os católicos emocionados e enraivecidos entenderem. A matéria não compara especificamente Feliciano e Francisco. O que, evidentemente, há um abismo entre os dois. Tal quais muitos evangélicos reacionários, negam veentemente o acúmulo de riqueza do Vaticano (uma por séculos de dominação, outra pela comercialização da religião), a posição da Santa Sé a respeito dos gays, do sexo e do aborto (contra tudo e todos. Uma vantagem “crente”: o uso da camisinha é permitido), os direitos da mulher (ela apenas é uma serva do homem) e a relação com a política (uns são deputados, outros usam o poder de controle), sendo que esses itens são tão convergentes quanto repudiosos nas duas instituições. Itens que, ao contrário de “pregar o amor”, só estimulam a intolerância.

Finalizando, “os católicos estão tendo um dia de evangélico com esse artigo”, disse um leitor do artigo.

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Bruno Viterbo

Redator, às vezes fotógrafo (como na foto ao lado) e às vezes jornalista. Mas sempre encontrando tempo para assistir alguma coisa (boa) na TV.