Eleições em 5 passos.

Letticia Rey
Política, Feminismos e Cidade
4 min readDec 20, 2019

O exercício ETERNO e difícil da democracia é esse, permitir e aceitar as diferentes opiniões que surgem a cada contexto. Por mais raiva que dê, por mais insuportável que seja, democracia é conviver com aquilo que é oposto porque é importante que seja assim. A natureza ensina a gente que cada ser seja “bom” ou “ruim” é importante para o ecossistema, desde o escorpião peçonhento até o bicho preguiça.

A democracia conquistou o direito da nossa diferença. Não conquistou ainda o respeito às nossas diferenças, e ainda estamls longe da equidade entre nossas distâncias, mas, entre tantas dores e com persistência de nós mesmos, estabeleceu que nossas diferenças precisam ser acolhidas da mesma maneira (se o são de fato, já é uma outra discussão).

Eleição de 4 anos não resolve, assim de uma hora pra outra, um país de 500 anos de histórias mal contadas.

Eleger um ou outro não vai acabar com a corrupção no dia seguinte. Corrupção vem de nós mesmos e não deles.

Desde a eleição passada, que me peguei brigando com um amigo querido na festa do meu afilhado, percebi que não adiantava nada nossos votos, que se baseavam em notícias tendenciosas dos jornais, facebook, whatsapp e pesquisa IBOPE, se a gente não tentasse entender o que está acontecendo debaixo do nosso nariz todo dia e tentasse conter a raiva que a gente tem sentido de não ter liberdade nem direitos.

Que não adiantava nada votar, se a gente depois da eleição não passar 10 min por dia pequisando o que significa ser “Político”, qual o passo a passo da máquina pública para consertar o buraco da nossa rua, quanto ganha um policial, quanto do imposto que a gente paga é revertido para a construção de hospitais públicos ou mesmo é abatido do valor que você gasta com plano de saúde para os seus filhos.

O envolvimento com a participação social há 4 anos atrás, exatamente depois de uma corrida presidencial, me ensinou que político é gente igual a mim a você. Gente que as vezes vai sendo tomada pelo poder, do mesmo jeito que aquele seu amigo quando sobe de cargo ou compra um carro novo para exibir. Que do mesmo jeito que tem gente honesta e direita tem político honesto e direito, e tem também político mentiroso, igual aquele rolo do verão passado que disse que te amava, e que você caiu e quis acreditar, porque a gente é criado na vida para sempre acreditar que as coisas vão melhorar.

Então nessa eleição, gostaria de fazer uns pedidos para cada um e cada uma de vocês.

  1. Após o dia 28/10 independente de quem você votar, respeite as urnas. Não, o sistema não é perfeito, e nunca foi e nunca vai ser, mas é o sistema que a gente tem, questionar urna eletrônica logo após a eleição é a mesma coisa que saltar de bungee jump e duvidar que a corda vai te segurar. Tem coisas que a gente precisa acreditar, mesmo com dúvidas, para que elas possam acontecer e a gente possa se jogar e se aventurar.
  2. Independente das quem você votar, dedique 1 hora da sua semana para ler a constituição, para entender quais as atribuições de um presidente, o que faz um deputado, porque temos tão poucas mulheres nesse cargo, de onde vem o dinheiro que tapa o buraco da sua rua, para onde vai o imposto do chocolate que você compra no mercado ou mesmo para ler na wikipedia o que significa a palavra fascista ou comunista. Do mesmo jeito que a gente precisa fazer curso para aprender a guiar um carro, ou uma bicicleta, a gente também precisa entender o significado das palavras que a gente usa para se referir àquilo que a gente não gosta na política ou em qualquer contexto.
  3. Deixe a listinha com os nomes dos seus deputados, senadores, governador colada na sua geladeira durante os 4 anos de governo, e 1x por semana acesse o site http://www2.camara.leg.br/ para saber o que eles estão fazendo por você durante esse tempo que ele ganha R$33.763,00 por mês.
  4. Se você puder/quiser procure a Escola do Parlamento (na Câmara Municipal de São Paulo), Escola de Governo, Escola de Contas, EMASP, ou qualquer outro lugar na sua cidade e faça um curso de controle social, de admnistração pública, de legislação pública, de políticas públicas etc. Tenho certeza que você vai aprender coisas que minimamente vão acalmar seu coração e no máximo você vai ter argumentos reais e científicos para justificar suas opiniões e escolhas e, o melhor de tudo, ter a oportunidade de mudá-las.
  5. Participe da sua reunião de condomínio. A política e a democracia funcionam, dadas suas complexidades, como uma grande reunião de condomínio. Estar lá é chato, cansativo e dá aquela sensação insuportável de perda de tempo, mas não estar favorece aquele seu vizinho que aprova a compra de uma fonte renascentista no lugar da piscina que vai ser paga com o seu dinheiro. Quanto mais você frequenta a reunião, mais você começa a perceber que na verdade a síndica pode não ser tão maluca assim, ou que ela realmente está lá para favorecer seus projetos pessoais com o dinheiro que sai do seu bolso, e você só vai descobrir isso estando lá, sempre, não apenas 1 ou 2x. Fora que não seria revolucionário se a conversa do elevador mudasse de “nossa, esse tempo é muito maluco né” para “ você viu que a gente pagou 3x a mais o valor da reforma do portão de entrada”? E isso gerasse cafés entre os vizinhos para discutir a política do condomínio e a vida.

A única coisa que eu queria de verdade é que a preocupação de cada cidadão e cidadã que ta aí na briga de quem vai vencer a eleição presidencial se transformasse em 10 minutos de preocupação diária com os trabalhos de fortalecimento da participação e controle social. Trabalho que hoje apenas pouquissimas pessoas estão segurando nas costas sozinhas e sozinhos para fazer nossos políticos trabalharem do jeito que precisam e devem. Política não são eles, somos nós e ela não acontece só em.dia de eleição. Acontece todos os dias.

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