(Re)presente.

Letticia Rey
Política, Feminismos e Cidade
2 min readMar 16, 2018

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“ Me senti numa inquisição, foi horrível…parecia que eles me proibiam até de olhar para trás… Eu estava lá, focando nas minhas mulheres inspiração sentadas, que me acalmavam e estavam na minha frente, e na potência daquela que ali de pé do lado do GCM me dizia que eu tinha que ser firme. Quando você entrou, e sentou bem ali na linha do meu olhar, consegui sorrir e ficar mais tranquila ainda, lembrei dos planos regionais, das oficinas, fui lembrando de mil coisas lindas do primeiro ano. Senti-me culpada de não conseguir forçar mais a abertura das falas…fiquei mal com isso, não sabia se brigava com eles por quererem uma fala isolada de uma construção coletiva ou se corria contra o tempo para passar dois anos de muita intensidade e luta em cinquenta minutos. O Conselho me ensinou durante dois anos a trabalhar esse centralismo que eu sei que tenho no meu perfil, essa dificuldade pessoal de querer fazer tudo sozinha — quando estava no começo, queria fazer tudo controlar o tempo, atas…tudo sozinha (fiquei triste de saber que um dia talvez possa ter sido autoritária com os outros como ela foi comigo). Lembrei da bronca sua que levei na nossa primeira reunião, dizendo que não podia ficar uma pessoa só fazendo tempo, falas, e conduzindo, que eu não tinha que fazer o relatório sozinha e que eu tinha que saber pedir ajuda.Um aprendizado longo e árduo. E ai quando aprendi (e ainda estou aprendendo) a fazer tudo isso e descentralizar os trabalhos e as produções, fui colocada — e aceitei — essa posição de “representar”, mas aquilo já não fazia mais sentido, não faz mais sentido sozinha. Só fazia sentido continuar porque “vocês me representam e eu represento vocês”. Você nunca esteve tão presente em sua ausência…. Que lindo gente! to até chorando aqui….Acho que entendi o verdadeiro sentido de representação popular…Acho que entendi através do Conselho com muito mais força a tamanha gravidade da morte de Marielle, tudo que ela representa, quantas pessoas morrem quando morre uma representante. Eu sou porque nós somos.”

Dia em que Marielle Franco, vereadora do PSOL, foi assassinada. Dia em que a Guarda Civil Metropolitana ocupou nossa reunião do Conselho Participativo Municipal, dia em que me deparei com as nuances do autoritarismo através de cidadãos comuns, que a gente cruza na rua, que assumem os trabalhos ordinários e que atropelam o direito do outro, do coletivo apenas sendo quem são, fazendo o corriqueiro impensado na certeza de estar fazendo o bem. Precisamos voltar a discutir o óbvio. Urgente.

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