Aos 45 do segundo tempo

Camilla Daros
Politizare
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2 min readNov 13, 2018
Fonte: Pinterest

Naquele domingo eu abri os olhos pela manhã e, pelo calor que fazia, sabia que seria um dia enfadonho, mas sabia que era um dia decisivo, tipo final de campeonato de futebol.

Levantei, me arrastando, já com a cabeça cheia de coisas — e vazia ao mesmo tempo. Mas isso é possível?

Olhei as coisas ao meu redor, caminhei lentamente até o banheiro, escovei os dentes, lavei o rosto, me olhei no espelho e vi ali uma alma cansada de tudo que estava acontecendo e, nesse momento, senti um misto de alívio com desespero. Enfim aquilo tudo estava acabando, mas, ao mesmo tempo, não estava, pois eu sabia que a oposição — independente de quem ganhasse — não deixaria barato. E também sabia que o “vencedor” não se calaria tão cedo.

Eles vangloriavam-se de coisas que nem sabiam ser possíveis. E eu só queria paz.

Tudo estava andando tão em câmera lenta que quase nem percebi que a tarde chegou. Até havia esquecido do dia decisivo que era aquele domingo. Decisivo para quem?

Então, ainda na mesa do almoço, fui questionada sobre meu candidato. Como dizem, saí pela tangente, disfarcei, levantei e fui indo embora. Até que meu irmão gritou que se não fosse votar, não conseguiria meu passaporte. Era só uma das coisas que não teria mais direito, não até a próxima eleição.

Foi então que veio o stress e eu reagi de uma forma pouco conveniente: dormi a tarde toda esperando perder a hora do voto. Mas, por incrível que pareça, acordei às 16h30 com minha mãe vindo em minha direção pedindo uma carona. Justamente para o colégio eleitoral em que eu voto. Não tive escapatória. Votei aos 45 do segundo tempo.

E aí eu percebi que o dia se arrastou de uma forma incrível, com aquele calor insuportável que só piorava tudo, até que chegou a hora em que “caí em mim” e vi a quase burrada que fiz.

Isso representa, de alguma forma, mesmo que indiretamente, um protesto pessoal e interno contra toda a guerra social que é a política eleitoral no nosso país?

E, até eu, que reconheço a importância da política na sociedade, quase agi como se não fosse essencial. E se não tivesse comparecido às urnas? Quantos direitos perderia? A começar pelo direito de exigir algo de alguém que está no poder.

Mas ainda bem que eu votei.

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Camilla Daros
Politizare

tudo é sobre amor — e talvez eu tenha mudado um pouco. prazer, liberdade.