Fact-Checking: o relator de mentiras

Michele Damazio
Politizare
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4 min readNov 18, 2018

A técnica é utilizada no exterior e vem aos poucos ganhando espaço no Brasil

Imagem: autores.

O impulsionamento para a invenção de algo surge a partir da necessidade, seguido pela inspiração e muito trabalho árduo. No Fact-Checking (checagem de fatos) não foi diferente.

Essa técnica surgiu em 1991, quando o chefe da CNN de Washington passou a missão ao jornalista Brooks Jackson de checar o que os candidatos a presidência, George Bush (pai) e Bill Clinton diziam em anúncios de TV. Com isso, o jornalista criou a primeira equipe especializada em checagem de propaganda eleitoral, o “Ad Police”.

Inspirado pelo sucesso do trabalho, em 2003 Jackson cria o primeiro site independente de Fact-Checking, o FactCheck.org. Em seguida, o jornalista do Tampa Bay Times, Bill Adair lançou uma nova seção no jornal, o PolitiFact.com que inclusive, ganhou o premio Pulitzer.

Com o passar do tempo, a checagem de fatos foi ganhado força. Em 2016, chega ao conhecimento público a perturbadora “Fake News” (notícias falsas). Ela deu o que falar durante as eleições nos Estados Unidos com o então candidato na época, Donald Trump. O presidente utilizava esse termo para criticar alguns veículos de comunicação americanas. Todos esses fatores foram impulsionando mais a checagem de fatos.

No Brasil, há duas pioneiras, Agência Lupa criada em 2015, é a primeira agência especializada em Fact-Checking, e o Aos Fatos. Ambas são do Rio de Janeiro. No Paraná, o primeiro movimento ativista de Fact-Checking fica aqui no Oeste em Cascavel, o Valongo Checador de Fatos, criada em 2016.

Recentemente com as eleições 2018 aqui no Brasil, algumas organizações de checagem de fatos foram criadas, por exemplo, a Fato ou Fake, da Globo.

Mesmo com o fim das eleições, o trabalho continua, verificando assuntos sobre educação, cultura, economia e, acompanhando as promessas dos candidatos eleitos, um tipo de medidor de promessas, bem utilizado pela imprensa checadora no exterior, por exemplo, a The Washington Post, e até mesmo a PolitiFact.

O Valongo Checador possui dois medidores: o Paranhômetro, acompanhando as promessas do prefeito de Cascavel Leonaldo Paranhos e, está se preparando para montar o Ratinhômetro, medidor de promessas do governador eleito do Paraná, Ratinho Junior.

Montar um medidor de promessas consiste em coletar todas as promessas feitas pelo candidato no período eleitoral (promessas do que irá fazer se eleito). São observadas redes sociais, debates e plano de governo. Após coletado, as promessas serão separadas por temáticas e então, durante os quatro anos de gestão, os checadores acompanharão o desenrolar das promessas, classificando-as como andando ou parada. Apenas no fim do mandato cada promessa será avaliada como cumprida ou não cumprida.

As informações checadas, também são recebem uma classificação de verdadeiro, falso, imprecisa, quase verdadeira, etc. A nomeação varia para cada organização, entretanto, com o mesmo propósito, de identificar a veracidade ou não da informação.

Mas, existe alguma norma no Fact-Checking? E como checam?

Primeiro, não confie em toda informação que você recebe. Agências e organizações sérias de Fact-Checking seguem as normas da International Fact-Checking Network (IFCN).

As organizações que cadastram-se na IFCN passam por uma avaliação, e precisam corresponder a alguns requisitos, como: não partidarismo e justiça; Transparência das fontes; Transparência de financiamento e organização; Transparência da metodologia e política de correções aberta e honesta.

Os cinco princípios éticos são:

1- Compromisso com a imparcialidade: o mesmo processo é feito em todas as checagens, de forma imparcial, sem favorecer lados.

2- Compromisso com a transparência das fontes: fornecer todas as fontes com detalhes suficientes para que os leitores possam verificar os resultados por si mesmos, exceto nos casos em que a segurança pessoal de uma fonte possa ser comprometida. Nesses casos, serão fornecidos o máximo de detalhes possível.

3- Compromisso com a transparência do financiamento e da organização: Clareza em como a organização se mantém financeiramente. Se aceitam financiamento de outras organizações, garantir que os financiadores não tenham influência sobre as conclusões que os verificadores de fatos alcançam em seus relatórios.

4- Compromisso com a metodologia: explicar a metodologia utilizada para selecionar, pesquisar, escrever, editar, publicar e corrigir suas verificações de fatos. Eles encorajam os leitores a enviar declarações para a checagem de fatos e são transparentes sobre o porquê e como checam os fatos.

5- Compromisso com uma política de correções aberta e honesta: As organizações publicam sua política de correções e a seguem escrupulosamente. Eles corrigem de forma clara e transparente, de acordo com a política de correções, buscando, na medida do possível, garantir que os leitores vejam a versão corrigida.

O Fact-checking tem desempenhado um papel importante diante do cenário atual em que se encontra a comunicação. Mais do que nunca, pede-se transparência e compromisso. Parte da sociedade já não acredita na mídia, os próprios profissionais encontram-se em um estado de desmotivação, contudo, não percamos o ânimo, a comunicação, o jornalismo ainda são uma ferramenta essencial na transformação de realidades.

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Michele Damazio
Politizare

Garota com seus 20 e poucos anos, que acredita na arte, educação e comunicação como ferramentas capazes de transformar realidades.