Para encontrar uma solução é preciso definir um problema

Indagado sobre o que faria se tivesse apenas uma hora para salvar o mundo, Albert Einstein respondeu: “Eu gastaria 55 minutos para definir o problema e 5 minutos para resolvê- lo”

Polyteck
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5 min readNov 10, 2014

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texto por Alexandre Müller e Danilo Palomares
edição por André Sionek

Nos anos 80, as músicas de Renato Russo arrastavam multidões de jovens inconformados com a realidade do Brasil. Trinta anos depois, os líderes que inspiram os jovens não são mais os mesmos. Eles estão espalhados por todo o mundo: desde o Vale do Silício, como Steve Jobs e Mark Zuckerberg, passando por Bangladesh, como o líder dos negócios sociais, Muhammad Yunus e chegando até o Brasil, como Jorge Paulo Lemann e Abílio Diniz, considerados dois dos maiores empreendedores brasileiros. Ambos são referência para quem acredita que o país pode ser transformado pelos jovens através do empreendedorismo.

Segundo uma pesquisa da Endeavor, 60% dos jovens universitários brasileiros tem interesse em empreender. Porém, apenas 23% chegam a avançar com suas ideias. Apesar de já existirem diversos estímulos ao empreendedorismo nas universidades, a exemplo das Empresas Júniores, Ligas Empreendedoras e a AIESEC, ainda faltam recursos e ferramentas para que mais jovens tirem suas ideias do papel. Já nos EUA, berço de empresas como Apple e Google, a realidade é bem diferente. Lá, os jovens, desde os primeiros anos de faculdade, têm em suas mãos a chance de participar de competições de empreendedorismo e contato com aceleradores e investidores. Muitos deles acabam empreendendo antes mesmo de terminar a faculdade. Alguns aplicativos, como o Tinder e o Instagram, por exemplo, surgiram nesta realidade. Esse choque cultural impressionou dois amigos, Alexandre e Danilo, ambos selecionados pelo Ciência sem Fronteiras para estudar por um ano na USC — University of Southern California, em Los Angeles. A USC foi eleita pelo ranking U.S. News and World Report’s 2014, como dona do segundo melhor programa de empreendedorismo universitário dos Estados Unidos.

Ideation

Para Alexandre e Danilo, o problema identificado é a falta recursos e ferramentas para o empreendedorismo universitário. Em abril deste ano, após cursar disciplinas de empreendedorismo tecnológico e global, participar de algumas competições de empreendedorismo e ter contato com aceleradoras e investidores, os dois tiveram
a ideia de proporcionar uma experiência semelhante à vivenciada nos EUA para os jovens brasileiros.

Foi assim que eles idealizaram a competição Sua Ideia na Prática, que está acontecendo nesse segundo semestre de 2014 em 5 cidades (Brasília, Florianópolis, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo). A dinâmica da competição se dá em cinco etapas: brainstorm para identificação problemas; investigação mais profunda do assunto; desenho da solução e criação de um modelo de negócios; preparação de um Elevator Pitch — apresentação de um minuto para investidores e parceiros; e finalmente uma apresentação de cinco minutos para jurados e investidores.

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Até agora, mais de 250 jovens já foram impactados pelas ações de Danilo e Alexandre, que, além da competição, apresentaram um workshop no Encontro Nacional de Empresários Juniores. Eles contam que jovens de todo o Brasil pediram ações da Ideation nas suas cidades. Por isso, eles estão trabalhando em alguns workshops para estas localidades.

Os organizadores do evento veem que o empreendedorismo pode resolver vários problemas que existem hoje no Brasil, e acreditam que a medida que mais jovens se engajarem em iniciativas como esta, estaremos cada vez mais perto das soluções.

Definir um problema

Eles contam que a definição de um problema deve ser o primeiro passo para quem quer
transformar ideias em produtos. O foco no problema e nas necessidades dos clientes se tornou um dos principais mantras para as startups da Califórnia. Isso ganhou força nos últimos tempos por consequência dos inúmeros apps e startups, que, mesmo sem uma proposta de valor que resolvesse um problema real, receberam investimentos e faliram após um boom inicial.

albert-einstein

Indagado sobre o que faria se tivesse apenas uma hora para salvar o mundo, Albert Einstein respondeu: “Eu gastaria 55 minutos para definir o problema e 5 minutos para resolvê- lo”. No entanto, o processo de definição de um problema não é simples: ele requer uma cuidadosa exploração de informações sobre a situação. Uma análise detalhada permite perceber e entender os aspectos mais relevantes para a solução efetiva do problema. A situação deve ser examinada a partir de diferentes pontos de vista, colhendo informações, impressões, percepções e sentimentos. Desta maneira, é possível determinar quais dados são mais importantes para a compreender a situação e definir o problema da maneira correta. Muitas vezes, a percepção do verdadeiro problema vem de fontes inesperadas ou usualmente ignoradas.

No caso do Instagram, por exemplo, os empreendedores identificaram que o upload
das fotos demorava muito, e que também não era possível compartilhar a foto com várias
plataformas de uma só vez. A solução encontrada para resolver estes problemas foi implementar o início de upload durante a edição das fotos pelo usuário, e a possibilidade do próprio Instagram compartilhar a foto no Facebook, Twitter, etc. Porém, outra reclamação dos usuários era em relação à baixa qualidade das fotos tiradas com celulares, e nesse caso a solução mais adequada não foi exigir que os fabricantes
aumentassem a qualidade das câmeras: ao definir melhor o problema, os empreendedores identificaram que a criação de filtros seria suficiente para responder às queixas dos usuários. Uma ferramenta que pode ajudar a identificar e definir problemas é a Árvore de Problemas.

arvore de problemas

Uma ferramenta que auxilia na identificação e definição de um problema
é a “Árvore de Problemas”. De uma maneira simples, a ferramenta auxilia
na tomada de decisão, pois possibilita o entendimento das causas e efeitos
do problema em questão.

Bastante difundida no meio acadêmico, esta ferramenta pode também ser utilizada com
finalidades empreendedoras, auxiliando na compreensão das causas e efeitos de um problema. Para construir a Árvore de Problemas, o primeiro passo consiste em identificar um problema central e então citar três possíveis causas que devem estar diretamente ligadas à raiz do problema. O ideal é ser direto e utilizar verbos. Após esta etapa, deve-se aprofundar mais na análise, identificando as causas secundárias e assim por diante. Finalmente deve-se preencher a árvore com os efeitos diretos e secundários que são gerados pelo problema central.

Sobre os autores e a Ideation

No Brasil, Alexandre cursa Engenharia Civil na Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) e Danilo cursa Engenharia de Produção na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A Ideation Brasil, organização nascida na Califórnia, tem como objetivo transformar a vida dos jovens brasileiros através de experiências ligadas ao empreendedorismo. ■
Acompanhe mais no site www.ideationbrasil.com.br e no Facebook fb.com/IdeationBrasil

Fontes:

»»Pesquisa empreendedorismo em universidades brasileiras, Endeavor Brasil (2012)

A Polyteck é uma revista gratuita de tecnologia e ciência que quer transformar a educação brasileira ao colocar o estudante universitário em contato com temas multidisciplinares de alta relevância.

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