Resenha: Os Sofrimentos do Jovem Werther

Paulo Vitor Siqueira
Ponderationes Teofilosóficas
7 min readSep 6, 2019

Neste escrito, pretendo apresentar uma resenha curta e objetiva do livro. Não pretendo entrar em minúcias ou ficar tocando em assuntos secundários. Entretanto, como se trata de uma resenha e não de um resumo, oferecerei algumas reflexões sobre o livro. Meu público principal diz respeito àqueles que nunca leram tal livro, mas têm interesse em lê-lo.

  • INFORMAÇÕES SOBRE A OBRA

A obra, escrita em 1774, em alemão, tem um pouco de caráter autobiográfico de seu autor, Johann Wolfgang von Goethe, que também sofrera por um amor, não obstante ele ter utilizado nomes fictícios para os personagens e locais. O livro diz respeito aos sofrimentos de Werther, personagem principal, devido a um amor correspondido, mas impossível de ser consumado. É considerado um dos maiores livros do romantismo e da literatura mundial. Segue uma estrutura conhecida como romances epistolares, isto é, o livro se passa em cartas, dirigidas, no mais das vezes, a um personagem chamado Guilherme.

  • A OBRA

Werther se muda para o interior e, no processo de conhecer as pessoas da cidade, ele acaba sendo convidado para um baile, onde conhece Carlota (ou Charlotte), que seria seu par. E, neste primeiro encontro com Carlota, Werther, mesmo após ter sido advertido para não se apaixonar por ela - pois ela já estava prometida a outro homem, Alberto - acaba se apaixonando e os dois se beijam.

A partir desse primeiro contato dos dois, Werther começou a, frequentemente, visitar Carlota e ser seu amante. Pois o homem para o qual Carlota estava prometida estava de viagem. Werther se vê cada vez mais e mais apaixonado, e a razão de sua vida passa a ser sua amada Carlota. Quase tudo que ele fazia girava em torno dela, estava com ela relacionado. Houve um dia no qual Werther não pode ir vê-la e, por causa disso, mandou um de seus servos ir visitá-la somente para “ter junto de mim alguém que estivesse estado em sua presença”. Em seguida, ele continua: “com que impaciência o esperei, com que alegria tornei a vê-lo! Não tivesse vergonha e teria me atirado ao seu pescoço e coberto seu rosto de beijos”.

Tempos depois, Alberto, o homem para o qual Carlota estava prometida, volta de viagem e isso, cada vez mais, prejudica a relação de Werther com sua amada. Entretanto, Alberto era um homem bom e gentil, coisa que é reconhecida pelo próprio Werther. De qualquer forma, a relação de Werther com Carlota ficava cada vez mais prejudicada. Nesse contexto, Werther faz inúmeras reflexões sobre o amor, o amor não correspondido, o suicídio e etc.

O tempo foi passando e o jovem foi ficando sem espaço quando comparado com o espaço que Alberto ocupava no coração de Carlota. Não que Carlota não gostasse muito de Werther, ela gostava - e as partes finais do livro deixam isso evidente, onde ela se pega reflexiva a respeito de sua relação com o jovem, e ele, após seu último encontro com ela, reconhece que ela o amava -, entretanto ela se casaria com Alberto e, em parte alguma do livro, ela parece cogitar mudar de ideia. Com isso, os sofrimentos de Werther foram aumentando e aumentando a ponto de Werther pensar seriamente na possibilidade do suicídio, ele diz: “Deus sabe quantas são as ocasiões em que me deito na cama com o desejo de não acordar, e às vezes a esperança, de não tornar a acordar. E de manhã abro os olhos, revejo o sol e me sinto miserável!”. E continua: “eu sofro muito, pois perdi tudo o que me causava delícia à vida”. Ainda: “Muitas vezes me prostrei ao chão implorando lágrimas a Deus, como um lavrador clama por chuva quando vê um céu de bronze sobre sua cabeça e a terra ao redor de si a morrer de sede”.

O livro, então, vai desde o zênite ao mais profundo dos vales. O mesmo jovem que diz: “Nunca me senti tão solto. Já nem mais humano era. Ter nos braços a mais encantadora das criaturas, voar com ela como um furacão até perder a noção de tudo que nos circundava, vendo tudo se desvanecer…”, também diz: “Quero morrer! Quando me arranquei ontem de perto de ti (Carlota), que convulsão sentia na alma, que horrível aperto no coração, ao notar o modo brutal como o meu ser se consumia junto de ti, sem alegria, sem esperança, numa frialdade tenebrosa…”. Werther conhece Carlota, se apaixona, é correspondido, mas a impossibilidade da consumação de tal amor se mostra cada vez mais forte. É como se o livro começasse com Werther no pé de uma montanha, a qual ele rapidamente escala chegando a seu topo; e fosse terminando com Werther escavando a partir do topo da montanha até chegar ao mais profundo abismo da terra, da onde não consegue sair e morre.

Nos trechos finais do livro, Werther se encontra com Carlota pela última vez. Nesse encontro, a respeito do qual não pretendo expor muita coisa para não estragar a leitura desse incrível momento, Carlota, por causa de uma ação impulsionada pelo amor que o jovem Werther sentia por ela, diz que Werther nunca mais a veria. Werther foi para sua casa, escreveu algumas cartas, inclusive carta de despedida à Carlota, organizou algumas coisas, planejou sua morte e… matou-se, sim, se matou. Matou-se por não mais conseguir viver sem Carlota.

  • CONSIDERAÇÕES

Há, de fato, muitos fatores admiráveis, belos, desejáveis e muitos fatores desonrosos, feios, repugnantes na estória do jovem Werther. É certamente uma estória polifacetada e tem muito a nos ensinar, seja nos ensinando a evitar certas coisas, seja nos ensinando a buscar certas coisas. É possível destacar inúmeros aspectos e trazer várias reflexões filosóficas e teológicas sobre eles. Entretanto, pretendo focar apenas em alguns.

É, de fato, muito interessante percebermos como Werther idolatrava Carlota! Carlota não era só alguém muito importante para o jovem, ela era a coisa mais importante para ele. Ela ocupava o centro de seu ser e ele a amava de todo seu coração, de toda sua alma e de todo seu entendimento (Mt 22.37). Miserável jovem, que ancorou todo o ser em algo imperfeito, efêmero, em uma pessoa pecadora e merecedora da ira de Deus. É necessário nos darmos conta de que, quando a idolatria nos alcança no amor, as consequências são desastrosas. Nós fiamos todo o nosso ser em algo imperfeito e efêmero! A razão última de nossa existência, assim como a de Werther, está em algo que não podemos garantir. E, se perdermos o objeto de nossa teimosa idolatria, o desespero existencial virá inevitavelmente. Assim, jamais podemos deixar que algo efêmero ocupe o centro de nossos corações. Devemos ancorar nosso ser em Deus, Aquele em relação ao qual nem a morte é capaz de nos separar (Rm 8), Aquele que é perfeito e não nos iludirá com atos de um amor impossível; Aquele que jamais nos dará esperança de nos relacionarmos com Ele e, depois, a arrancará de nós.

Entretanto, creio que nós devemos amar nossos cônjuges de maneira similar a como Werther amou Carlota. É claro, não quero dizer que devemos idolatrar nossos cônjuges, mas quero dizer que devemos buscar amar com a sinceridade e com muita da intensidade do amor do jovem Werther. Quando eu comparo o amor de Werther com a maneira que o amor parece ser tomado em nossa cultura, há um contraste imenso! Na estória do jovem, ao contrário do que ocorre hoje, sexo não parece ser uma de suas prioridades, muito menos o motivo de seu apego por Carlota. Sofrimento pelo amor não é motivo de vergonha ou coisa de fraco. Na estória, o sofrimento por amor é colocado com muita naturalidade, o que não parece ocorrer em nossa época, onde sofrer por amor é visto como algo vergonhoso e até mesmo como objeto de piadas.

Com Werther, também podemos aprender que, quando o assunto é relacionamento amoroso (e, aqui, eu não tenho em mente os casados, mas tenho em mente os relacionamentos que podem anteceder um casamento), não devemos ficar nos matando por algo que evidentemente não dará certo. Não devemos forçar a barra, não devemos estar tão apaixonados a ponto de nos cegarmos para as grossas barreiras que nos impedem de relacionarmos com alguém. Em português bem claro, você está gostando de alguém, mas tal pessoa não está muito na sua ou há muitas divergências importantes entre vocês? Sai fora! Get out! É doloroso, mas necessário. As consequências de ficar “empurrando as coisas com a barriga” podem ser ainda mais dolorosas no futuro.

Com Werther, aprendemos que, na vida, passamos por alegrias indescritíveis e sofrimentos extretamante dolorosos. Podemos ir do céu ao inferno, não só em uma mesma vida, mas em um curto espaço de tempo. A vida não é fácil, e bendito aquele que faz, como os salmistas, de Deus o seu refúgio e fortaleza.

Por fim, apesar de ser uma leitura um pouco densa em português, por causa do uso constante de palavras não ordinárias, pelo menos na versão em que li - Goethe, Johann Wolfgang. Os Sofrimentos do Jovem Werther . L&PM Editores. Edição do Kindle. -, o livro é fascinante, e quanto mais lemos mais queremos continuar lendo e saber como as coisas se desenrolarão. Além de, é claro, nos apiedarmos do miserável jovem Werther.

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