Uma Pequena Consideração sobre a Tradução de João 1.1

Paulo Vitor Siqueira
Ponderationes Teofilosóficas
2 min readSep 4, 2019

Parece extremamente implausível traduzir João 1.1, acrescentando um artigo indefinido antes de “Deus”. No grego, de modo diferente do português, a ordem das palavras não importa tanto. As funções sintáticas das palavras são reconhecidas por suas desinências (as letras finais de uma palavra). Porém, em orações do tipo S é P, o verbo “ser” reclama um predicativo com a mesma função sintática do sujeito, ou seja, o verbo “ser” exige sujeito antes e depois dele (o mesmo acontece no latim). Por exemplo, no grego, “os” é uma desinência que pode indicar sujeito. Assim sendo, antes e depois do verbo “ser”, pode haver palavras com a mesma desinência, ou mesma função sintática. Ora, isto posto, como identificar qual palavra exerce a função de sujeito e qual exerce a função de predicativo? O grego tem um regrinha pra isso, que é acrescentar um artigo antes do sujeito e deixar o predicativo sem artigo.

Ora, agora vejam essa construção: Theos en “o” logos. como podemos ver, tanto a palavra “Theos” (Deus) quanto a palavra “logos” possuem a mesma desinência; neste caso, ambas estão como “nominativo”, declinação que geralmente exerce a função sintática de sujeito, e “en” é o verbo ser no pretérito imperfeito. Como identificamos, então, o sujeito? Através do artigo “o” antes de “logos”! E o predicativo? O predicativo não precisa de nenhum artigo para que possa ser traduzido sem o artigo indefinido, pois, se tivesse artigo, não conseguiríamos distinguir o sujeito do predicativo.

Soma-se a isso o fato de que, no grego, há o pronome “Tis”, que pode ser utilizado como adjetivo e significar “um”, “certo”. Ora, parece-me plausível afirmar que, se a intenção do autor fosse dizer que a palavra era “um” Deus, ele deveria utilizar tal pronome como adjetivo, porém esse não é o caso.

Portanto, parece não haver motivo plausível para traduzirmos o final do versículo em questão como a Palavra era “um” Deus.

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