Al Saadi: filho de Muammar Gaddafi, atacante acumulou fracassos na Itália, já tietou o São Paulo e hoje é um prisioneiro de guerra

Ponta de Lança
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5 min readApr 9, 2020

Por Rubens Guilherme Santos

Al Saadi al-Gaddafi nasceu em Trípoli, capital da Líbia, em 25 de maio de 1973. É um dos oito filhos do ex-ditador Muammar al-Gaddafi, morto em 2011, após 42 anos no poder da Líbia, país localizado no Norte da África. Notabilizou-se por ser o primeiro líbio a atuar no futebol europeu, mais precisamente na Itália, feito que contou com o auxílio das investidas de seu pai no mundo da bola.

Relação entre Líbia e Itália

A Líbia foi colônia italiana entre as décadas de 1910 e 1940. Em 1947, os dois países estabeleceram acordos diplomáticos e, cinco anos mais tarde, os norte africanos tiveram sua independência aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas. Cerca de 15 anos após a independência, após um golpe de estado com a liderança de tropas militares, o governante Idris I renunciou. Após disputadas internas, o coronel Muammar al-Gaddafi chegou ao poder do país. Sua ditadura durou 42 anos.

Após expulsar italianos da Líbia e confiscar suas posses na década de 1970 e um desgaste entre os países, o ditador reatou os laços de amizade no final dos anos 1990. Esse contexto favoreceu a primeira aparição de seu filho num clube italiano. Fotografias revelam que Al Saadi, em 1993, participou de treinamentos com a equipe principal da Lazio.

Foto: EPA

Muammar manteve relações econômicas estreitas com os italianos, com exportações de petróleo e de hidrocarbonetos para a “bota” e um fortificou seu vínculo com políticos como Silvio Berlusconi. No início dos anos 2000, arriscou-se no mercado da bola e demonstrou interesse em investir no calcio.

A trajetória de Al Saadi no calcio

A ida definitiva do filho de Gaddafi para a Itália aconteceu apenas em 2003, quando ele foi transferido para o Perugia, após atuar por mais de 10 anos no Al-Ahly e Al-Ittihad, ambos de Trípoli. Jogou uma só partida pelo Perugia, teve aproximadamente 15 minutos pra mostrar seu futebol, num duelo contra a Juventus, pelo Campeonato Italiano. Porém, a partida marcou um episódio polêmico para Al Saadi: ele acabou sendo pego no exame antidoping após o jogo e foi suspenso do futebol por três meses. No fim da temporada, o Perugia foi rebaixado para a segunda divisão do “calcio”.

Foto: Reuters

Após sua passagem frustrante no Perugia, transferiu-se para a Udinese, em 2005. Por lá, também disputou uma única partida, contra a equipe do Cagliari e novamente teve poucos minutos em campo. Nos bastidores, o atacante encontrou dificuldades para ganhar oportunidades sob o comando do italiano Serse Cosmi, treinador da Zebrette na época.

Foto: Newstalk

Em sua última tentativa no futebol italiano, fechou contrato com a Sampdoria. Entretanto, nunca atuou no time de Gênova. No plantel da época, Al Saadi era uma das últimas opções para o ataque da Samp. Decepcionado com os fracassos na Itália, decidiu voltar ao seu país para dar continuidade à carreira de jogador. Defendeu a seleção da Líbia de 1992 a 2006 e, enquanto atuou por lá, foi o capitão do time.

Aposentadoria e vida política

Após pendurar as chuteiras, em 2007, Al Saadi assumiu o comando da Federação de Futebol da Líbia e teve participação mais próxima na política da bola e de seu país.

Durante a Guerra Civil em seu país natal, que estourou em 2011, Saadi foi o comandante das Forças Especiais, liderada pela federação de futebol local, órgão que também era dirigido por ele. Recebeu um alerta da Interpol por comandar a unidade militar, que reprimiu brutalmente as manifestações contra o regime ditatorial de Muammar. Os protestos dos rebeldes culminaram com a morte de seu pai, em 20 de outubro de 2011, e um novo comando político.

Foto: Reuters

Sob pressão popular, Al Saadi fugiu para Níger, em busca de asilo político. Porém seus planos não se concretizaram e ele foi interceptado e capturado numa patrulha das forças armadas do país. Seu nome colocado na lista de mais procurados da Interpol após pedido do novo regime líbio, que o acusou de “intimidação armada” e “apropriação indébita” durante a Guerra Civil.

Ficou preso em Níger durante três anos, antes de ser extraditado para a Líbia. De volta ao seu país, foi acusado por conta da prisão ilegal e do assassinato do jogador e treinador Bashir al-Riani. Em 2018, ele foi inocentado pelos tribunais líbios por conta do caso que envolveu Riani. Saadi ganhou destaque novamente em 2015, quando um vídeo que mostrava ele sendo torturado em uma prisão da Líbia recebeu atenção internacional. Encontra-se preso até hoje por conta de seu envolvimento na repressão dos rebeldes que derrubaram o governo de seu pai.

Dia de tiete no São Paulo

Em 2003, em visita às instalações do São Paulo, Al Saadi recebeu das mãos de Careca, ídolo do Morumbi, uma camisa do tricolor paulista personalizada. Na oportunidade, Al Saadi e o Al Ittihad de Trípoli, clube em que atuava na época, disputaram um amistoso contra os reservas do São Paulo. A partida terminou em 1 a 1.

Foto: AFP

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