Egbo: o primeiro técnico africano campeão na Europa
Sobre a história do treinador nigeriano que revolucionou um clube albanês
Você, possivelmente, não devia saber, mas um técnico africano fez história na temporada 2019/2020 do futebol europeu. Ndubuisi Egbo, 47 anos, conquistou o título do Campeonato Albanês pelo KF Tirana.
A conquista do troféu teve um sabor especial para o continente africano, que viu seu primeiro técnico faturar uma liga nacional dentro da Europa.
Mesmo que esse texto não seja somente sobre o ineditismo de um técnico africano na Europa, é importante ressaltar o feito alcançado por Egbo, mas que também joga luz sob o racismo dentro e fora do futebol que impede o acesso de treinadores negros no comando técnico dos clubes.
Natural de Aba, cidade ao sudoeste da Nigéria, Egbo atuou como goleiro por clubes do país como Nitel Vasco Enugu, Nepa Lagos e Julius Berger, mas foi no El Masry, do Egito, que o nigeriano teve os maiores holofotes.
Além disso, Egbo jogou pelo Tirana como atleta entre 2001 e 2004, mas foi em 2014 que o ex-goleiro entrou na instituição como treinador de goleiros e depois assistente técnico.
A reconstrução do maior campeão albanês
Apesar do Tirana ser o maior campeão nacional com 25 títulos, nem tudo foi flores para o clube. Antes de chegar ao posto técnico do time, Egbo vivenciou um rebaixamento na temporada 2016/17.
Na época, o time amargurou a nona colocação da liga nacional e teve que jogar a segunda divisão na temporada seguinte. Depois do acesso para a elite nacional em 2018/19, Egbo e o restante da comissão técnica tiveram que trabalhar o psicológico dos atletas.
Devido à crise do Tirana nas últimas temporadas, o nigeriano treinou interinamente o clube albanês diversas vezes até que a grande oportunidade chegasse.
Após comandar o time no maior clássico do país entre Tirana e Partizani, Egbo mostrou o seu valor como técnico. Uma goleada esmagadora sobre os rivais por 5 a 0 ligou o sinal de alerta na diretoria, que logo ofereceu-lhe o cargo como técnico fixo.
O triunfo no derby quebrou a hegemonia do Partizani que não perdia, há seis anos, para o rival. Além disso, a conquista do nigeriano tirou o clube albanês da fila pelo título que durava 11 temporadas.
“Eu ainda estou tentando deixar isso acontecer porque eu não sabia o tamanho do sucesso que Deus costumava fazer até que comecei a ouvir que sou o primeiro treinador africano a conseguir esse feito. Muitas pessoas da Nigéria, Egito e outros lugares estão chegando”, disse o treinador à “ESPN AFRICA”.
Referência de jogo baseada na escola nigeriana
Dentro do continente africano, além dos clubes nigerianos em que atuou, Egbo participou de algumas campanhas da Seleção Nigeriana.
O ex-goleiro fez parte da “Geração de Ouro” do país, que tinha grandes estrelas em ascensão como Nwankwo Kanu e Jay-Jay Okocha- símbolos máximos daquela época.
Em entrevista à ESPN, o técnico do Tirana afirmou resgatar as origens do futebol nigeriano para comandar o campeão albanês.
“Treinadores como Christian Chukwu, um dos melhores treinadores que já passei em minha carreira, me ensinaram mais do que apenas sobre futebol. E suas lições me levaram aonde estou hoje”, disse.
Chukwu foi o primeiro capitão dos Super Eagles a erguer uma taça da Copa Africana de Nações, em 1980. Já entre os anos de 2003 e 2005, ele levou a Seleção às semifinais da CAN em 2004, mas não conseguiu classificá-la à Copa do Mundo de 2006, na Alemanha.
Apesar do Tirana ser um clube com maioria de atletas nacionais, Egbo conta com alguns atletas africanos no elenco. Os meias Lancinet Sidibe (Mali) e Winnful Cobbina (Gana), e os atacantes Ismael Dunga (Quênia) e Michael Ngoo (Nigéria) são exemplos do DNA vencedor do clube albanês.
Ngoo, ex-atacante da base do Liverpool, foi um dos artilheiros do time na temporada, com nove gols marcados. O elenco de Egbo sabe que o patamar será outro na próxima temporada, já que o título nacional garantiu ao clube uma vaga nas fases iniciais da Champions League.
Ainda não sabemos até onde o Tirana irá no torneio mais famoso do futebol europeu, mas a história já confirma: o futuro tem DNA africano.
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