Kabakama, a árbitra referência entre homens e mulheres

Para essa apaixonada pelo futebol, barreira de gênero é lixo e a Copa do Mundo é o limite.

Lyz Ramos
Ponta de Lança
3 min readSep 21, 2020

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Diz aí, quantas mulheres apitando partidas de futebol oficiais de homens você conhece? Vale de qualquer parte do mundo. Na África, em jogos da CAF (Confederação Africana de Futebol), isso não é novidade desde o início de 2019. Já na Tanzânia em específico, pelo menos a partir de 2012 uma árbitra é a autoridade máxima do jogo.

A relação de Jonesia Rukyaa Kabakama com o futebol vem de longa data, desde pequena era espectadora assídua das partidas masculinas e na juventude tentou ser jogadora, só que as barreiras foram muitas. Natural de Kabagera, região do Noroeste da Tanzânia, Kabakama conta que o esporte praticado por mulheres não era popular na sua vizinhança, o que a fez mudar de planos e encontrar uma nova paixão.

mulher negra escura de trança nagô com blusa azul clara com logo da FIFA e bermuda preta. ela está apontando para frente.
Kabakama já quis ser jogadora, mas a discriminação a levou para a arbitragem.

Aos 17 anos, a árbitra novata deu os primeiros apitos na nova carreira através das divisões mais baixas da Liga da Tanzânia, onde permaneceu por 5 anos até ser promovida para o segundo escalão do torneio, a chamada First Division League. Dessa vez, não deu nem para gastar o apito, a juíza já estava visada e depois da única temporada foi chamada para o seu maior desafio até então: a Premier League.

Do mais alto escalão do futebol tanzaniano, Kabakama fez seu lar com hoje 8 temporadas e contando. E dentro da própria Premier League ela acaba por se destacar pelo fato de, com atualmente 4 partidas no currículo, ser uma das profissionais mais escaladas na história recente para atuar no maior clássico do futebol masculino do país: Simba x Young Africans. A última vez que isso aconteceu foi em janeiro de 2020.

Já adaptada ao futebol local, em 2019 surgiu uma oportunidade de quebrar as barreiras de gênero do contexto continental. Neste ano, Jonesia Kabakama mediou o jogo entre Camarões e Senegal pela Copa das Nações Masculina Sub-17, o que a tornou a primeira mulher a apitar uma partida masculina na história da CAF.

Melhores momentos da primeira partida oficial da CAF apitada por uma juíza.

Na ocasião, completaram o trio Mary Wanjiru Njoroge do Quênia e Lidwine Rakotozafinoro de Madagascar. O duelo foi tranquilo, terminou zerado e rendeu apenas 1 cartão amarelo para cada lado. Esta foi a segunda CAN da carreira da juíza da Tanzânia, que anteriormente havia atuado na edição feminina de 2018.

Em entrevista para a CAFonline.com, a árbitra central dividiu o significado e o potencial dos 90 minutos daquele 21 de abril:

Acredito que este seja um ponto de virada para as árbitras africanas. Agora estamos prontas para desafiar os homens que dominaram esse campo por décadas. Quero acreditar que no futuro a CAF confiará às mulheres mais partidas oficiais.

Junto da Copa Africana de Nações, em 2019, existiu também um último sonho. A maior meta da mulher que apita jogos masculinos com maestria é apitar junto das maiores jogadoras do mundo. A tanzaniana queria participar do Mundial da França, o mais assistido da história. Ela foi pré-selecionada, no entanto acabou fora da lista final.

Mas o sonho continua vivo e, dona de uma carreira consistente, Jonesia Kabakama segue de cabeça erguida. A próxima Copa do Mundo Feminina já tem sede, Austrália e Nova Zelândia em 2023. Resta saber se mais uma barreira será quebrada. Afinal, o jogo só acaba quando a juíza apita.

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