Para ficar de olho: cinco jovens talentos africanos no futebol nórdico

Matheus Soares
Ponta de Lança
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8 min readFeb 18, 2023

Jogadores do continente africano são frequentemente monitorados e contratados por clubes do norte europeu. Potencial, valores baixos e atributos técnicos são bons atrativos.

Assim como na América do Sul, especialmente no Brasil, o povo africano é um dos que mais respiram futebol no mundo. Nas ruas, quadras e campos de todos os tamanhos, crianças e adolescentes dão seus primeiros toques na bola em busca de um dia fazer da paixão a profissão. O talento natural que tanto se assemelha ao nosso faz com que estes jovens consigam aprimorar tanto a parte técnica quanto a física se bem orientados para de fato entrar no caminho pelo sucesso nos gramados. E o sucesso, claro, não diz respeito somente à fama e o estrelato, mas a possibilidade de mudar a vida dos familiares. Após os primeiros avanços estes jovens vão além e conseguem chegar a centros ainda maiores dentro do futebol. Ali é visto como o natural torna tudo brilhante, mágico e objetivo.

O futebol nórdico é uma grande porta de entrada para jogadores vindos do continente africano pela rápida adaptação e a garantia de integração ao time principal já nos primeiros meses. Estes fatores tornam as movimentações cada vez mais recorrentes por conta dos baixos valores de investimento, a oportunidade de subir degraus na carreira e, claro, qualidades vistas dentro de campo. Consequentemente os trabalhos de iniciação subiram consideravelmente o nível para tornar todos os processos certeiros. Do cognitivo ao aprimoramento de atributos técnicos, tudo é tratado com atenção e cuidado.

Para além do Nordsjaelland, da Dinamarca, que tem em Gana um ótimo expoente que é o Right to Dream (Direito de Sonhar), os demais clubes desta região vão em busca de talentos africanos pela possibilidade de ter nos planteis atletas de maior mobilidade e variações em seus estilos que carregam naturalmente. Uma formação diferente da que é feita nesta parte da Europa, mas que complementa e dá resultado.

Kamaldeen Sulemana e Mohammed Kudus são apenas dois dos vários exemplos de jogadores que saíram do continente para brilhar na Europa. Em questão de dois anos desde que deixaram suas cidades em Gana para o Nordsjaelland, já movimentaram bastante o mercado e hoje são bem avaliados nas principais ligas do mundo. Sulemana, inclusive, chegou à Premier League na última janela de transferências e se tornou a segunda compra mais cara do Southampton — consequentemente a quinta venda mais cara do Rennes, da França.

Afinal, quais outros jovens podem fazer este mesmo trajeto rumo ao topo do mundo? Ou pelo menos ganhar destaque nas ligas nórdicas para atrair olhares dos grandes centros europeus? Conheçam cinco atletas de extremo potencial que podem se encaixar neste modelo de mercado e que já chamam a atenção.

Ernest Nuamah (2003) — ponta esquerda — Nordsjaelland

Seguindo os passos da talentosa dupla citada acima, Nuamah tem tudo para ser a próxima grande venda dos Tigres e um dos principais nomes no ataque da seleção de Gana. Vivendo uma fase fantástica desde que chegou na Dinamarca há pouco mais de um ano oriundo também do projeto Right to Dream, o jovem não demorou para se adaptar e mostrar seu potencial. Com a saída do norueguês Andreas Schjelderup para o Benfica o camisa 37 se tornou a referência ofensiva e um dos pilares da equipe na busca pelo título nacional que não é conquistado desde a temporada 11/12. A liderança momentânea com 35 pontos e 10 vitórias em 17 jogos passa muito pelos seus pés — participou de nove dos 29 gols marcados. É o jogador que mais efetuou dribles no 1x1 (110) em toda a liga e a cada jogo evolui na tomada de decisões. Extremamente forte nas conduções seguidas de dribles rápidos para buscar o gol a partir do corredor esquerdo, o jovem também demonstra qualidades atuando centralizado seja como um ‘falso nove’ ou como um organizador mais recuado. Se distancia da grande área para receber com mais espaço para que os companheiros possam infiltrar e receber alguma bola rasgando a defesa. No último terço preenche todos os espaços e tem liberdade para circular por toda a faixa. Não é um primor físico para suportar os embates contra defensores bem mais fortes, mas sabe usar a velocidade e inteligência na leitura dos espaços a seu favor. O modelo de jogo intenso do Nordsjaelland contribui bastante para seu crescimento por conta da utilização dos pontas para ganhar campo e fazer transições em velocidade para encontrar companheiros atacando os espaços nas costas das defesas. Quatro dos cinco gols de Nuamah foram através de lançamentos contra linhas médias/altas para então o atacante progredir e receber em boas condições de finalizar. Outro fato interessante e que mostra a forma contundente que sua equipe joga é que todos os gols do jovem foram marcados nos primeiros 15 minutos das partidas.

Yankuba Minteh (2004), ponta direita — Odense BK

Uma das seleções que mais prometem para os próximos anos é a de Gâmbia. Com muitos jogadores já inseridos no futebol europeu e conquistando espaços em equipes competitivas que dão a oportunidade de crescimento, além de nomes já conhecidos como Musa Barrow e Omar Colley, o futuro dará aos Escorpiões o privilégio de contar com Minteh no lado direito ofensivo. Com dois gols e três assistências nesta primeira parte da Superligaen, o jovem canhoto é um dos grandes destaques desta edição. Com bom controle de bola, pés rápidos para driblar e consistência nos duelos individuais, conquistou espaço desde que foi promovido ao time principal em outubro do ano passado esbanjando personalidade. Sua preponderância próximo ao gol atacando espaços e gerando chances fazendo diagonais são armas poderosas para sua equipe, que o aciona com bastante frequência ao sair da pressão adversária. Sem a bola demonstra intensidade e concentração para estar sempre atento às oportunidades que podem aparecer. Comprometido taticamente para pressionar o portador da bola e recompor no momento certo, além de saber contribuir defensivamente quando perde a bola ou quando o companheiro mais próximo fica em desvantagem. Lucidez que impressiona pela pouca idade, obviamente, mas que mostra o altíssimo teto que possui.

Amane Romeo (2003), volante — BK Häcken

Seus toques refinados e a inteligência para saltar linhas e ajudar na organização em campo mais avançado chamam a atenção. Romeo é um perfil especial para o atual campeão sueco e teve boas participações na campanha do único título nacional das Vespas. Apesar de seus 1,69cm é muito aguerrido e compensa nas movimentações sem bola e no posicionamento. É daqueles jogadores que preenchem todos os espaços do campo pela aptidão física, mas além disso sabe como se portar para contribuir de uma maneira geral. O marfinense teve um aproveitamento de 85,7% nos passes em geral e 71,9% em passes progressivos. Seu estilo agressivo e centrado para incomodar as linhas adversárias são grandes destaques em seu estilo de jogo. Primeiro toque satisfatório, posicionando o corpo de maneira adequada para tomar a decisão, sabe jogar de costas para as linhas adversárias e orientar o domínio com agilidade, além de pisar na área frequentemente. A expectativa para a temporada que se iniciará dentro de algumas semanas é que Romeo receba ainda mais oportunidades no time titular, já que causou boas impressões. O marfinense formado na conhecida academia ASEC Mimosas, em Abidjan, está trilhando um caminho promissor e que pode lhe render importantes momentos na carreira.

Collins Sichenje (2003), zagueiro — AIK

Força no jogo aéreo, agressividade nos duelos e velocidade nas antecipações. Assim o queniano Sichenje vem conquistando torcida e comissão técnica do AIK desde a sua entrada no time titular. Alto, longilíneo e com boa mobilidade para trocar de direção quando mais exigido, não encontrou dificuldades para se adaptar e conseguir se firmar. É a sua segunda oportunidade no futebol europeu, já que em 2021 saiu ainda mais jovem do AFC Leopards para o PAOK, da Grécia. Talvez um dos motivos desta primeira passagem não ter sido definitiva foi a maneira como o zagueiro demonstrava ansiedade nas decisões tomadas. Algo que ainda é visto, com menor frequência, mas que o atrapalhou em certos momentos da temporada passada. Faltas excessivas, cartões que poderiam ter sido evitados e bloqueios malsucedidos. Com mais maturidade e equilíbrio para controlar espaço e tempo antes de agir, evoluiu e está mais seguro nas interceptações. Foram em média 8.48 duelos defensivos e 4.65 embates aéreos vencidos por partida. Na construção das jogadas também possui influência pela qualidade técnica ao dar passes de ruptura para acelerar a progressão da equipe e inversões tanto pelo chão quanto pelo alto. Atuando no lado esquerdo defensivo pela facilidade em utilizar o pé não dominante (esquerdo), faz conduções e vem aprimorando seus predicados para não desacelerar a evolução.

Mamane Moustapha Amadou Sabo (2004), volante — Hammarby

Integrado ao time principal para esta temporada, Sabo é visto como um meio-campista interessantíssimo pela sua maturidade e naturalidade nas ações. Boa leitura de jogo, habilidade e biotipo favorável para competir em maior intensidade. Nascido em Níger, o jovem gera grandes expectativas dentro do clube pela capacidade para cumprir várias funções. Meia de apoio ou jogando mais na base, tem no passe uma de suas principais virtudes. Conduz, retém a bola e dita o ritmo com personalidade. Costuma cair inicialmente pelo lado direito do campo, mas preenche bem os espaços e participa mesmo sem bola. Se ambientando aos poucos ao novo contexto em que estará inserido de agora em diante, terá boas oportunidades no decorrer da temporada e não deverá desperdiçar. Tem tudo para ser um grande jogador não somente para o futebol sueco e Níger terá uma ótima opção nas futuras convocações visando CAN e demais competições.

Separar somente cinco nomes é até injusto pela quantidade de jogadores jovens de enorme potencial vindos do futebol africano para o nórdico. Por isso, separamos uma lista extra com outros jogadores que terão destaque nesta temporada:

Mark Ugboh (2004), goleiro — Midtjylland

Adama Nagalo (2002), zagueiro — Nordsjaelland

Samuel Kotto (2003), zagueiro — Malmö

Abundance Salaou (2004), volante — Gotemburgo

Ibrahima Breze Fofana (2002), volante — Hammarby

Mario Dorgeles (2004), volante — Nordsjaelland

Timothy Noor Ouma (2004), meia — Elfsborg

Frank Junior Adjei (2004), ponta — Varnamo

A liga dinamarquesa retomou após neste fim de semana após três meses de pausa. As demais ligas, com calendários diferentes, começam em abril.

Suécia: 01/04

Finlândia: 05/04

Islândia: 10/04

Noruega: 10/04

A plataforma OneFootball transmite todas as competições de forma gratuita.

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