Última hora: JP eleita a melhor juventude partidária em 2016!

Presidente da Juventude Popular escreve sobre a proposta de educação sexual. O texto foi enviado a propósito do artigo “Juventude Tea Party — o futuro do CDS”, aqui publicado por Isabel Moreira (ver no final).

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3 min readFeb 21, 2017

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por Francisco Rodrigues dos Santos

inicialmente publicado no Expresso

O título apela ao sensacionalismo. Anima-o a intenção de arrebatar a atenção e suscitar a inquietude nos leitores. Não me enganarei ao presumir que a impressiva maioria não desperdiçou o seu tempo a ler o artigo. Razão que autoriza a conclusão de que muitos julgarão que Juventude Popular (JP) foi efectivamente eleita, quiçá por um órgão científico independente, como a melhor juventude partidária em 2016.

Não menti, só faltei (premeditadamente) ao dever do rigor. É facto que a JP foi distinguida com o galardão. Todavia, omiti a circunstância. Tal decorreu num plenário “ad hoq” reunido em minha casa, de madrugada, composto por 10 amigos militantes, tendo a deliberação sido tomada por aclamação num animado brinde à instituição. Por vezes o que não se diz qualifica o que é dito. O que fundamenta o silêncio condenável de quem, como eu, escolheu enganar em vez de informar.

Senão vejamos: um Jornal serviu-se de metade da capa para disseminar um inusitado e perigoso mal-entendido em manchete, anunciando que “A juventude do CDS quer educação para a abstinência sexual nas escolas”, acrescentando em baixo “defende que sejam ensinadas nas escolas as vantagens da abstinência do sexo”, desvendando no interior em letras garrafais que a “JP promove uma educação para a abstinência”.

Na realidade, o documento remetido pela JP aos media esboça seis medidas para uma educação sexual humanizada, numa tentativa de aperfeiçoar o novo Referencial de Educação para a Saúde, ao abrigo da consulta pública entretanto aberta.

No ponto 4 advoga-se que a explicação do conceito da abstinência sexual seja antecipada para as crianças de 10 anos, dado que a primeira abordagem ao tema, nos termos do Referencial, surge apenas no 10.º ano. Não fará grande sentido que um jovem imberbe e infantil que frequente o 5.º ano, tenha que saber, segundo o programa — a nosso ver inapropriadamente, em coerência com o que sustentámos nos pontos 1 e 6 — tudo sobre a “utilização correcta do preservativo” e “compreender o aborto”, mas não lhe seja transmitida uma palavra sobre a hipótese da abstinência sexual (a qual virá discutir-se quando perfizer 15 anos).

Note-se que a JP não sugeriu inclusão desse tópico no plano de estudos. A matéria da abstinência já constava das linhas-mestras para a educação sexual nas escolas. Tão pouco, em alguma ocasião, postulou que devesse ser, pasme-se, promovida (?!), a colocou num plano moral superior às demais opções, ou defendeu as suas vantagens (palavra nunca utilizada) em contraposição à utilização de métodos contraceptivos.

Seria absurdo anular ou contrariar a desejável dimensão sexual na vida dos jovens. Cumpre-nos respeitá-la e assegurar que a sua liberdade, especialmente a de miúdos com 10 anos, seja encarada com responsabilidade, no tempo próprio e com a maturidade que se exige. Foi precisamente o caminho que adoptámos ao propor, a par do resto, uma educação para abstinência naquela idade, centrada nos afectos e evitando complexos extemporâneos.

Apesar do bom senso revelador das melhores intenções da JP, os já conhecidos rostos da propaganda do erro apressaram-se a deturpar o sentido do que foi expresso, vendendo barata a ignorância a quem quis comprá-la a preço de saldos. Para mal dos nossos pecados, a opinião (mal) publicada é igual à (má) opinião pública.

O equívoco institucionalizou-se, conforme ilustra a disparidade entre percepção errada gerada a partir da notícia e a séria comunicação reproduzida pela JP. Patrocinado pela teia de fazedores de opinião que, com o beneplácito da imprensa, discorreram copiosamente os seus preconceitos sobre o imaginário que ficcionaram. Espera-se de quem faz do comentário profissão que vele pela literacia do povo. Atingimos o grau zero do debate quando os actores se furtam à consulta da fonte, trocando a verdade pela polémica estéril. Quem vive da crítica das letras grandes, será pequenino toda a vida.

Sim, o problema talvez seja mesmo a falta de chá (ou “tea”, na língua inglesa). É que o substantivo, na gíria, pode mesmo significar educação. Contudo, adivinha-se que nalgumas “parties” haja a quem apeteça consumir tudo menos chá. E o resultado são as ressacas numa caixa de texto.

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