40 vezes em que Ayumi Hamasaki mostrou ao mundo que o palco é seu lar

Popklore comemora o aniversário de 40 anos da Imperatriz do J-Pop com uma seleção de apresentações inesquecíveis

André Luiz Maia
p o p k l o r e
8 min readOct 4, 2018

--

Ayumi Hamasaki, durante o bis de sua turnê nacional de 2015, Cirque de Minuit (Foto: Divulgação)

No pop japonês, um artista durar cinco anos já é um feito heróico, já que a competição não é pouca. Ao comemorar duas décadas de presença consistente no mercado, Ayumi Hamasaki faz 40 anos em plena forma. Um tanto ofuscada enquanto performer pelos fãs ocidentais, frente à globalização do K-Pop e o desgaste natural de alguém que nunca saiu dos holofotes nos últimos 20 anos, a artista é uma potência nos palcos.

Além de uma intérprete competente, também é uma performer de alto nível, não deixando a dever a nenhuma grande estrela global. Duvida disso? Pois então confira a seleção de 40 lives que eu e Vinicius Mendes fizemos para Popklore, provando a versatilidade, emotividade e presença em cena de Ayu.

P.S.: é a penúltima vez que a gente vai falar de J-Pop este ano, prometemos.

monochrome (Concert Tour 2000 Vol. 1)

Vinicius: Desde o começo da carreira, quando o orçamento ainda era apertado e as habilidades bastante verdes, Ayu já tentava criar performances impactantes e teatrais.

independent (STADIUM TOUR 2002)

Vinicius: É no STADIUM TOUR que o público pode ver pela primeira vez na artista aquela habilidade de comandar multidões que só os grandes performers tem.

Haru yo, koi (Music Fair, 2003)

Vinicius: A grande estrela dessa performance é a voz da cantora, dando ao clássico de Matsutoya Yumi uma carga emocional que talvez nem a original tenha.

Dearest (A Museum, 2003)

André: Não é preciso de muito para que Ayu faça uma grande apresentação. Sua interpretação quase magnética nos carrega até o fim, culminando no balanço suspenso no teto da arena.

M (A Museum, 2003)

Vinicius: Provavelmente a performance mais icônica e reciclada de Ayu, traduzindo perfeitamente o sentido de M com um simples efeito de iluminação no final da música.

Memorial address (ARENA TOUR 2003–2004)

Vinicius: Nessa performance crua e poderosa, vemos Ayu se deixando levar pela música a ponto de engasgar com o próprio choro, atropelando trechos da letra..

WHATEVER (COUNTDOWN LIVE 2004–2005)

Vinicius: Uma performance onde cada movimento de corpo, cada expressão facial e até o tom escolhido para a voz fazem Ayu exprimir a mais pura autoridade e poder.

Boys & Girls (ARENA TOUR 2005 — MY STORY)

Vinicius: Poucas músicas mostram a esmagadora presença de palco de Ayu quanto Boys & Girls. O chafariz que acompanha as batidas da música só serve como a cereja do bolo que dá um empurrãozinho extra no enlouquecimento da plateia.

HEAVEN (COUNTDOWN LIVE 2005–2006)

André: Mesmo não tendo uma grande voz no aspecto técnico, é uma das ferramentas essenciais que Ayumi tem para transmitir a mensagem das letras que escreve. Aqui, ela canta sobre a saudade que sente de alguém que já se foi.

alterna (ARENA TOUR 2006 — (miss)understood)

Vinicius: Sempre houve um grande flerte com o teatro e o circo nos shows da cantora, muitas vezes combinando os dois para criar um efeito emocionalmente interessante e visualmente espetacular.

(miss)understood (ARENA TOUR 2006 — (miss)understood)

André: Uma das muitas facetas da cantora é o rock e sua postura muda completamente quando interpreta canções inspiradas nesse gênero. A angústia e a revolta de alguém que quase nunca é compreendida é embalada em estética de show de rock dos anos 1970.

NEVER EVER (COUNTDOWN LIVE 2006–2007)

André: A performance girl power poderia se centrar essencialmente na agressividade, mas aqui há um equilíbrio entre melancolia, desespero e revolta, emoções nem sempre fáceis de transpor em cena de maneira convincente.

kiss o’ kill (ASIA TOUR 2007 — Tour of Secret)

André: A iluminação e o palco com poucos elementos transformam essa performance praticamente em um ato de uma peça de teatro, incluindo aqui truques para proporcionar uma reviravolta no final.

Together When… (COUNTDOWN LIVE 2007–2008 — Anniversary)

Vinicius: Mais uma performance levada apenas no gogó, destacando o quanto o timbre de Ayu pode soar bonito ao se cantar direito as músicas certas.

untitled ~for her~ (COUNTDOWN LIVE 2007–2008 — Anniversary)

André: Uma das performances mais pessoais de Ayu, pois interpreta canção escrita sobre uma amiga próxima que faleceu. A crueza das emoções aqui atinge níveis mais elevados em comparação ao que ela normalmente apresenta, nos brindando com um de seus ao vivos mais tocantes.

my name’s WOMEN (ASIA TOUR 2008–10th Anniversary)

André: Podiam ter chamado Ayu para dar uma forcinha no roteiro de Cinquenta Tons de Cinza, né? Pelas caras sádicas que ela faz aqui, com certeza ia render um filme melhor! Talvez dê para chamar este de um hino abertamente feminista, afirmando que as mulheres não são brinquedos de satisfação masculina.

A Song for xx (a-nation ‘08)

Vinicius: Uma rockstar de coração, Ayu ganhou uma ajudinha do clima nessa intensa e crua performance na chuva de sua primeira grande canção.

For My Dear… (PREMIUM COUNTDOWN LIVE 2008–2009)

André: Ao resgatar uma música de seu primeiro álbum, lançada mais de 10 anos antes, ela traz uma interpretação mais madura da canção, sustentando uma grande performance apenas com sua voz.

Sunrise ~LOVE is ALL~ (a-nation ‘09)

Vinicius: Andando pelo estádio em cima de um trio elétrico enquanto comanda, com sucesso, a multidão que foi até lá para assistir outros artistas a cantar sua música que não chegou a ser um hit, poderia facilmente ser Ivete Sangalo no Carnaval de Salvador.

I am… (COUNTDOWN LIVE 2009–2010 — Future Classics)

André: A estética tradicional japonesa é apresentada em uma canção existencialista sobre a busca pela individualidade. No entanto, mesmo se só houvesse Ayu em cena, ela carregaria a densidade dramática da performance apenas com sua linguagem corporal.

Microphone (ARENA TOUR 2010 — Rock’n’Roll Circus)

Vinicius: Uma abertura impactante para uma de suas turnês mais extravagantes. Rodeada por robôs em referências ao pop e rock, Ayumi surge no palco como uma rainha que declara seu amor pelo microfone.

BALLAD (ARENA TOUR 2010 — Rock’n’Roll Circus)

André: A teatralidade ganha mais uma vez destaque em um polígono (!) amoroso contado ao vivo, com direito a sangue e suicídio por envenenamento. Uma das performances em que os dotes de atuação da cantora são postos à prova, já que ela reproduz a mesma cena 38 vezes ao longo da turnê nacional.

crossroad (a-nation ‘10)

Vinicius: Mais uma daquelas performances seguradas apenas na voz, aqui Ayu embala um estádio a partir da capacidade de emocionar com seu canto imperfeito.

Virgin Road (Kouhaku Utagassen 2010)

André: As poucas performances de TV na lista se devem, principalmente, por um formato engessado da mídia nipônica. Uma das exceções é Virgin Road, apresentada em um especial de fim de ano. Percorrendo o corredor, a poucos centímetros do público, ela quebra protocolos do que é esperado em uma transmissão ao vivo no Japão.

BRILLANTE (POWER of MUSIC 2011)

Vinicius: Em um show que se propunha a ser simples, a teatralidade é atingida com um ventilador, um vestido esvoaçante e nosso primeiro contato com o talentoso Timmy, com quem Ayu dividiria o palco várias vezes no futuro.

A Song is born (POWER of MUSIC 2011)

André: Achou que ela engasgar em Memorial address ali em cima seria o máximo de choro não-encenado que você veria aqui? Achou errado! Na turnê totalmente concebida semanas após os desastres naturais que assolaram o Japão em 2011, ela oferece conforto através da canção, quase não dando conta de conter as lágrimas.

progress (Kouhaku Utagassen 2011)

André: No fim do mesmo ano, também no Kouhaku, ela traz a canção carro-chefe do EP que fez pensando na tragédia natural que aconteceu em seu país, em performance emotiva, porém carregada de energia e triunfo. P.S.: RuPaul ficaria orgulhosa deste ruveal.

reminds me (ARENA TOUR 2012 — HOTEL Love Songs)

André: Depois de seu primeiro divórcio, veio um dos álbuns mais controversos de sua carreira (e um de meus preferidos), que gerou uma de suas turnês mais teatrais. Em reminds me, ela fala sobre rejeição, abandono e violência em relacionamentos de uma maneira bastante crua. Os gritos de seus bailarinos-atores nas cenas de briga, com a música interrompida, elevam ainda mais a tensão da performance.

Love song (COUNTDOWN LIVE 2013-2014 —Feel the love)

André: Ao cantar sobre como sua vida é indissociável da música, ela conta com o apoio de seu corpo de baile, intérpretes competentes que ajudam a transmitir o sentimento da canção. Acho que esse é o meu palco favorito dela, em termos de estética.

Feel the love (PREMIUM SHOWCASE 2014)

Vinicius: O catártico final do Premium Showcase tem toda a trupe, visivelmente esgotada por uma turnê com um formato com o qual não estavam acostumados, incluindo a plateia em uma grande guerra de armas de água.

Walk (COUNTDOWN LIVE 2014–2015 — Cirque de Minuit)

André: Não é raro Ayu reservar alguns momentos de seu show para conversar diretamente com o público através da música. Refletindo sobre sua caminhada, ela reafirma que, independente de qualquer julgamento, ela tem orgulho de si mesma.

GAME (ARENA TOUR 2015 — Cirque de Minuit)

Vinicius: A intersecção circense de Ayu enquanto performer atinge um novo patamar ao executar acrobacias aéreas aprendidas com uma artista do Cirque du Soleil.

WARNING (ARENA TOUR 2015 — Cirque de Minuit)

André: Viu “Walk” ali em cima? Agora veja “WARNING” e note uma artista completamente diferente aparecer em cena. Interagindo com um telão e duas bailarinas, ela faz uma de suas performances mais sensuais, carregando isso principalmente com seu olhar.

Ivy (COUNTDOWN LIVE 2015–2016 — M(A)DE IN TOKYO)

Vinicius: Ao cantar sobre as incertezas quanto a sua vida pública, Ayu consegue, em uma das contradições que são parte integral de sua arte, criar uma apresentação teatral e grandiosa que, na prática, é ancorada totalmente por sua interpretação vocal.

Mad World (ARENA TOUR 2016 — M(A)DE IN JAPAN)

André: Uma performance bastante atual, já que ela constrói um mini-espetáculo de dança contemporânea para falar sobre repressão e a necessidade urgente de falar o que pensamos. Outro momento em que a emoção toma conta.

Endless sorrow (ARENA TOUR 2016 — M(A)DE IN JAPAN)

Vinicius: Não basta ser o clímax de um bloco emocionalmente denso e maduro, não basta a emotividade da música e da interpretação, temos exibicionismo de coragem e proeza física sem que o conceito da música seja perdido pela performance.

Shake it ❤(Just the beginning -20- 2017-2018)

Vinicius: Parte do amor de Ayu pelos palcos claramente vem de seu amor pelo público. Nessa apresentação temos uma nova forma — para a artista, pelo menos — de demonstrar esse sentimento. E claro, quicadas no chão.

ourselves (Just the beginning -20- 2017–2018)

André: A simbologia da Última Ceia pode representar o fim do capítulo, mas também o recomeço, pois é prelúdio de um renascimento. Nada mais apropriado para abrir e encerrar uma série de shows que inicia as comemorações de 20 anos de aniversário na indústria musical, mas deixando bem claro que é apenas o começo.

W (a-nation ‘18)

Vinicius: Apresentação grandiosa, sexy e toda trabalhada no girl power. Vinte anos depois de sua estréia, 16 anos após o ápice de sua carreira, Ayu mostra porque está no primeiro escalão do J-Pop, e porque sempre é a escolha certa como atração principal.

forgiveness (Arena Tour 2018 — POWER of MUSIC 20th anniversary)

André: A abertura do show que comemora, de fato, seus 20 anos de carreira. Diante dos problemas de audição que a levam para uma surdez total iminente, ela usa o máximo de recursos para entregar uma performance sustentada em sua voz, reafirmando que a batalha ainda não acabou.

--

--

André Luiz Maia
p o p k l o r e

Jornalista especializado em Cultura | João Pessoa — PB