Indomável Madonna

Aos 60 anos, Rainha do Pop alcança status único na indústria da música e ressignifica bandeiras

André Luiz Maia
p o p k l o r e
3 min readAug 16, 2018

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Madonna, na turnê Rebel Heart em 2015: marcas do tempo evidentes não são impeditivos para seguir com postura ousada e provocativa (Foto: Divulgação)

Madonna não precisa de muita introdução. Autora de como ser um artista pop, ela chega hoje aos 60 anos de idade como símbolo de resiliência da mulher na terceira idade em estado de pura potência.

Claro, não é a primeira que representa este papel, com menções honrosas a Cher e Tina Turner, mas o impacto cultural causado por Madonna em 36 anos de carreira a eleva a um status singular — e solitário, já que seus contemporâneos, Michael Jackson e Prince, já não estão mais entre nós.

A combinação entre sexo, religião e retaliação aos limites sociais impostos às mulheres, especialmente em discos como Like a Virgin (1984), Like a Prayer (1989) e Erotica (1992), fizeram com que seu trabalho transcendesse a música, questionando a própria moralidade da sociedade ocidental e propondo uma liberdade feminina em diversas áreas. Ao ultrapassar a marca dos 50 anos, esses elementos permaneceram evidentes em seus discos e shows, mas ganharam uma nova camada com as críticas à sua idade.

“Envelhecer é um pecado. Você será criticada, será vilipendiada e, definitivamente, não tocarão a sua música na rádio”, disse a cantora, ao receber o prêmio de Mulher do Ano pela revista Billboard, em 2016.

Sua existência e resistência como ícone cultural relevante por quase quatro décadas é uma extensão do seu discurso do início da década de 1990. Se lá ela representava a expansão das barreiras e clamava por liberdade sexual, agora, aos 60, ela toma para si o direito de ser atuante, sexy, mãe, empresária, artista dos palcos, tudo simultaneamente, sem abdicar de nada.

Madonna, em 2017, para ensaio da Harper’s Bazaar (Foto: ensaio de Luigi e Iango)

Revolução a partir da música

Sua contribuição para a música não pode ser ignorada. Ray of Light (1998) é considerada uma Bíblia do pop por introduzir na música radiofônica elementos eletrônicos relegado às pistas de dança nas rádios, trazendo um painel sonoro refrescante e inovador para o mainstream. No entanto, sua música também foi vetor para endereçar mensagens e apresentar ao mundo seus ideais.

Express Yourself (1989) chama às mulheres com um coral feminino a falarem o que pensam, Justify My Love (1990) causa polêmica ao trazer versos sussurrados em um clipe repleto de referências sexuais sadomasoquistas em plena MTV, sendo censurado (e batendo recordes de vendas em seu single-VHS). Vogue, do mesmo ano, traz a cultura LGBTI+ para os holofotes, antes mesmo dessa sigla existir. Com o hit, faz até mesmo os mais conservadores se renderem ao ritmo das pistas de dança de periferia de Nova York.

A cultura gay sempre foi abraçada e a abraçou em retribuição, especialmente por ter sido a primeira grande artista a encampar uma luta pela prevenção e combate à AIDS quando o tema ainda era arriscado ao ponto de afundar uma carreira bem-sucedida como a dela.

Nem sempre seus tiros foram certeiros, como no caso de American Life (2003). Em um dos clipes mais agressivos — e melhores –, ela evidencia os horrores da guerra contra o Iraque como fratura exposta da sociedade norte-americana. Ostracizada da indústria e banida das rádios, acaba recuando, cancela o lançamento do vídeo em terras americanas e passa por uma fase de reavaliação de posturas.

A resposta vem em 2005, sob pressão da gravadora, com Confessions on a Dancefloor, gerando um de seus maiores hits recentes, Hung Up, em citação direta a Gimme Gimme Gimme (A Man After Midnight), do ABBA. Mesmo com tropeços, é admirável o legado que Madonna permanece construindo ao longo de todos esses anos. Aos críticos, que insistem em chamá-la de velha e irrelevante, ela é categórica: Bitch, I’m Madonna (“vadia, eu sou Madonna”).

Não dá para comemorar um aniversário sem uma boa playlist, não é mesmo? Com a ajuda de Vinicius Mendes, selecionamos 60 músicas de todas as fases do catálogo vasto de Madonna, um bom começo para os novinhos que ainda não mergulharam a fundo nesse oceano ;)

Aperta o play e strike a pose!

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André Luiz Maia
p o p k l o r e

Jornalista especializado em Cultura | João Pessoa — PB