Meus favoritos de 2017

Por André Luiz Maia

André Luiz Maia
p o p k l o r e
8 min readDec 30, 2017

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Fim de ano de jornalista é fazer retrospectiva. Enquanto escrevia as matérias para o jornal com o que rolou em 2017, decidi dar uma olhada no meu histórico musical (sim, eu ainda uso Last.fm). Tinha a impressão que só ouvi coisa lançada em anos anteriores, mas tem uma porrada de música, disco e EP lançado em 2017 que eu realmente adorei.

Por conta disso, decidi escrever rapidamente sobre o que me chamou atenção no ano. É uma lista realmente muito particular, tem zero pretensões de elencar alguma espécie de melhores do ano. Dentro do meu gosto e das minhas referências, são coisas que eu curti e recomendo bastante, por motivos bem diversos.

Bom, vamos lá!

Ai Otsuka — LOVE HONEY

Quem diria que, em termos de sonoridade, Ai Otsuka se tornaria uma das coisas mais interessantes e até mesmo criativas dentro do J-Pop (o pop japonês)! Depois de uma pausa na carreira para ter sua primeira filha, ela retornou com uma vibe que ela já tinha se aproximado no disco de 2009, LOVE LETTER, mais madura.

De 2014 para cá, foram dois discos muito bons e um EP com músicas anteriores da carreira rearranjadas, já demonstrando um flerte com a EDM (música eletrônica). Em LOVE HONEY, ela apresentou um repertório que equilibra muito bem esse eletrônico elegante e o pop mais adulto que ela está se propondo a fazer. Para quem não está habituado com J-Pop, a voz aguda e infantil da Otsuka causa estranhamento, mas os bons arranjos e as faixas bem construídas valem a caminhada.

Faixas de destaque: HONEY (1), Sakura Harahara (5), Starter Pistol (11).

Lorde — Melodrama

Confesso que hoje acho o Pure Heroine um bom álbum, mas na época em que ele saiu não me chamou muito a atenção. Acho que a Lorde não dialogava muito comigo. Com Melodrama, o sentimento é bem diferente. Embora esse segundo disco tenha relacionamentos amorosos como sua base temática, o sentimento que permeia esse álbum, esse diálogo interno conflituoso de uma jovem adulta, me interessa.

É uma delícia ver como uma jovem como a Lorde sabe se expressar através das letras de maneira eloquente. Como se não bastasse isso, a cama sonora desse álbum é incrível. Não à toa figura como um dos discos mais bem-avaliados do ano, produção impecável.

Faixas de destaque: Green Light (1), The Louvre (4), Writer In The Dark (8).

Anitta — Vai Malandra (e o projeto Checkmate)

Sim, ela mesma, a malandra. Vi muita gente comentar que até curtiu o clipe e detestou a música. Eu curti ambas e a faixa funcionou para mim de um jeito que eu curto bastante: ela não me pegou de primeira. Achei ela estranha no início, muito curta e os diferentes momentos que ela tem não pareciam dialogar entre si — especialmente o rap de Maejor. Dando play mais algumas vezes, fui me habituando, curtindo a salada de referências e as coisas começaram a se encaixar.

Eu não lembro de ter ouvido o trap ser muito usado dessa forma na música mainstream, com as batidas mais desaceleradas, em um diálogo bem legal com o toque de funk trazido por MC Zaac e Tropkillaz. No fim das contas, deve ser a faixa mais incomum que a Anitta já lançou desde que estourou com Show das Poderosas, ponto pra ela.

Cena do clipe de “Will I See You”, primeiro single do projeto Checkmate; a faixa é destinada a um público mais adulto (Foto: Reprodução)

Vai Malandra é a jogada final do projeto Checkmate, uma série de lançamentos mensais planejados por Anitta e sua equipe para posicioná-la em diversas frentes sem deixar seu nome esfriar no mercado nacional. Will I See You, Is That For Me e Downtown tinham objetivos distintos e, de certa forma, todos foram bem-sucedidos em suas propostas.

Ouça também: Paradinha, Sua Cara, Você Partiu Meu Coração

Seu Pereira e Coletivo 401 — Eu Não Sou Boa Influência Pra Você

Se tem um disco que ouvi por inteiro repetidas vezes em 2017, este foi Eu Não Sou Boa Influência Pra Você. O segundo álbum de Seu Pereira e Coletivo 401 é impecável e, ouso dizer, que flui melhor que o primeiro, lançado em 2013. Aqui, as faixas dialogam mais entre si, seja nas letras, seja na estética.

Um salve para Helinho Medeiros, que assina a direção musical do álbum, transitando pelo ie-ie-iê de Roberto e Erasmo Carlos, o brega de Reginaldo Rossi, os rocks rurais de Raul Seixas e a psicodelia de Lula Cortês e Zé Ramalho, resultando em uma colcha sonora coesa costurada pela poesia sólida de Jonathas Falcão, vocalista e compositor das faixas.

Faixas de destaque: Eu Não Sou Boa Influência pra Você (1), Meio Fio (com Débora Malacar) (8), Geladeira Azul (9).

Uhm Jung Hwa — The Cloud Dream of the Nine

A sul-coreana Uhm Jung Hwa é uma das minhas maiores surpresas dos últimos tempos. Acabei conhecendo o trabalho dela por muita insistência de um amigo meu. Não me arrependo. Ela é extremamente carismática, tem uma presença absurda e seus últimos lançamentos trazem uma qualidade musical acima do comum dentro do K-Pop. O fato de ter quase 50 anos também ajuda a trazer um trabalho com mais consistência e personalidade.

Pois bem, ela quebrou no fim do ano passado um jejum de oito anos sem lançar coisa nova com o EP que leva o mesmo título do álbum lançado agora no fim de 2017. O disco reúne as quatro faixas do ano passado e acrescenta mais cinco, totalizando nove músicas.

O álbum é impecável. Não tem uma canção ruim, os arranjos e as produções são criativas, dialogam com o hype anos 1980 da cultura pop, mas sem deixar de imprimir uma assinatura própria. Todos os clipes lançados até então lidam com temas como vaidade e decadência de uma maneira muito inteligente.

Quando saiu a segunda parte do projeto, fiquei receoso em relação à diferença sonora entre as duas partes, já que o 2nd Dream era menos convencional. No fim das contas, quando todas as faixas foram agrupadas em um único álbum, a sensação que dá é que estamos diante de um belo quadro que vai derretendo, funcionando muito bem com as temáticas trabalhadas. Recomendadíssimo.

Faixas de destaque: Dreamer (2), Ending Credit (6), Photographer (7).

Utada Hikaru — Anata

Desde seu retorno após um hiato de quase seis anos, a japonesa Utada Hikaru vem apresentando um som mais maduro e que se distancia do que anda sendo feito no pop japonês. Gosto bastante do Fantôme, lançado em 2016, acho que tem coisas excelentes lá, algumas em estado embrionário.

Ao longo deste ano, Utada foi apresentando singles esparsos em sua nova gravadora, a Epic Records. Gostei dos três, mas Anata para mim é o melhor resolvido deles. Traz a sonoridade de big band que a gente já ouviu em Tomodachi e Kouya no Ookami e o espírito das grandes baladas populares que ela costumou fazer o público japonês ouvir incansavelmente, mas tudo embalado em um pacote refinado.

Em 2018, ela deve apresentar um novo álbum e já estou ansioso por ele!

Ouça também: Forevermore, Oozora de Dakishimete, Boukyaku

Kesha — Rainbow

Realmente impressionante esse “comeback” da Kesha depois do turbilhão de acontecimentos em sua vida pessoal e profissional. O doloroso processo judicial contra Dr. Luke (Dr. Lúcifer, para os “íntimos”) foi desgastante, mas se dá para tirar algo de positivo dessa cizânia toda é o amadurecimento artístico da artista.

Rainbow é um dos melhores álbuns pop do ano, sem dúvida. Já achava ela uma boa compositora, apesar de algumas músicas realmente descartáveis de sua carreira pregressa (ainda quando usava o $ no nome). Aqui, ela exibe com mais força sua verve autoral.

Inicialmente, eu tive uns probleminhas com Woman, extremamente cativante, mas trata do tema “independência feminina” de uma maneira meio batida. Passou rápido. A faixa é despretensiosa e realmente divertida. Hoje eu adoro.

Faixas de destaque: Bastards (1), Praying (5), Rainbow (8).

Ivete Sangalo — Cheguei Pra Te Amar (com MC Livinho)

Antes de anunciar sua gravidez, Ivete Sangalo já estava preparando esse clipe com uma música que vai na onda do reggaeton e mergulha com mais intensidade na música latina. Para quem a acompanha há algum tempo sabe que isso não é novidade (oi, Real Fantasia). Estética impecável e produção musical no ponto. A adição do MC Livinho também é excelente, já que ele contribui bastante (https://goo.gl/rhZHTB)

(P.S.: Diferente do resto do mundo, eu gostei bastante de À Vontade, um clipe com referências de Grease com direção de arte ótima e uma faixa divertida)

banda-fôrra — Trilha Sonora

O grupo lançou nos últimos meses de 2017 o primeiro single do novo álbum, Trilha, que vem em 2018, e me cativou logo de cara. Diferente do primeiro EP, que tinha uma pegada mais setentista, aqui os anos 1980 vem com mais força. A evolução vocal de Guga Limeira é um dos destaques da música (https://goo.gl/rpi74E)

Daniela Mercury — Banzeiro (e o EP “Tri Eletro”)

Minha Daniela Mercury do pop está viva! Depois de vários trabalhos irregulares (o Vinil Virtual não me desce até hoje), ela volta com um EP com três músicas excelentes. O maior destaque vai para Banzeiro, regravação da paraense Dona Onete com arranjo mais puxado para o frevo e pegada eletrônica. Uma das gratas surpresas do ano (https://goo.gl/hnSGyp)

(P.S.: Só eu achei a Daniela Mercury a cara da Maísa nessa thumbnail do clipe do YouTube? Socorro)

Outros lançamentos que curti:

Polyana ResendeSamba Teimoso (https://goo.gl/SNVins)
Rieg Witchwitchwitch (https://goo.gl/ciD1JJ)
WEDNESDAY CAMPANELLASUPERMAN (https://goo.gl/szSUZ4)
Tim BernardesRecomeçar (https://goo.gl/2mmxgn)
Xenia FrançaXenia (https://goo.gl/xTkgqZ)
Kendrick LamarDAMN. (https://goo.gl/ojgZHj)
Sinta a Liga Crew Campo Minado ( https://goo.gl/nkvi7i)
Jay-Z
4:44 (te odeio, TIDAL)
WEDNESDAY CAMPANELLA
Melos (https://goo.gl/Wxvef8)
Gal CostaEstratosférica Ao Vivo (https://goo.gl/LH35Pv)
Sheena RingoJinsei wa Yume Darake (https://goo.gl/tCfjDa)
Chico LimeiraChico Limeira (https://goo.gl/zHudix)
Selena Gomez, marshmello Wolves (https://goo.gl/4ppnZB)
Tulipa RuizTu (https://goo.gl/LrdmkH)
Taylor Swift Look What You Made Me Do (https://goo.gl/hCfA9c)

Feliz ano novo, pessoas!

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André Luiz Maia
p o p k l o r e

Jornalista especializado em Cultura | João Pessoa — PB