A Austrália teve mais atitude, mas Schmeichel segurou o empate no fim

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
6 min readJun 21, 2018
A Austrália ameaçou e o camisa 1 salvou a Dinamarca da derrota (Getty Images)

Não existe bobo no futebol. O chavão, apesar de batido, não deixa de ser verdade, enfim. E foi confirmado no confronto entre Dinamarca e Austrália, que empataram em 1 a 1 na Samara Arena, em Samara. A expectativa estava ao lado dos nórdicos, comandados pela qualidade de Christian Eriksen, que abriu o placar logo cedo — tudo que se pode querer em uma Copa do Mundo. Mas os Socceroos fizeram o oposto de seus adversários no segundo tempo: tiveram mais uma atuação regular, ameaçando mais. Dentro de suas limitações, os australianos empataram em um pênalti assinalado pelo VAR, e só não viraram por causa das boas intervenções de Schmeichel perto do fim do jogo. Se eram desconsiderados durante o sorteio do grupo, tiram pontos da Dinamarca, líder provisória, e mantém o grupo em aberto.

Os times

No embate entre Dinamarca e Austrália, foram poucas as alterações em relação à primeira rodada. Do lado dos alvirrubros, que derrotaram o Peru, a única troca foi a entrada de Lasse Schöne na vaga de William Kvist, dando mais qualidade ao passe e apoio para que Eriksen consiga avançar. Kasper Schmeichel na meta, apoiado por Kjaer e Christensen pelo meio, com Stryger e Dalsgaard pelas laterais. No meio, a trinca era composta, portanto, por Thomas Delaney, o estreante Schöne e o craque do time Christian Eriksen. À frente, mais três: Yussuf Yurary Poulsen e Pione Sisto pelas pontas, com Nicolai Jorgensen centralizado.

De boa participação em 2006 e quedas na primeira fase em 2010 e 2014, a Austrália vem evoluindo, mas não pode ser considerada uma ameaça às grandes seleções. Vindo de um revés contra a França, os Socceroos mantiveram exatamente o mesmo esquema e escalação. Depois da linha defensiva, dois volantes, três meias e um centroavante: Ryan no gol; Behich, Sainsbury, Milligan e Risdon; Mooy e Jedinak alternando a marcação e a saída de bola, com Leckie e Kruse pelas pontas, e Rogic centralizado, mais próximo de Nabbout.

O campinho de Dinamarca x Austrália (Fifa.com)

O jogo

Na quinta participação em Copas do Mundo, a Dinamarca, que passou pela repescagem para estar na Rússia, se coloca como uma das candidatas à vaga no grupo. Com jogadores promissores como Sisto e Schöne, e o já referendado Eriksen, a Dinamáquina enfrentava a Austrália. Com alguns dos pilares defensivos, como Jedinak — destaque nas eliminatórias — e Mooy como principal arma de criação, reconhecido pela boa temporada com o Leicester na Premier League, procurava causar problemas e dificultar o jogo para os adversários que, na teoria, tem mais qualidade técnica.

O que seria um dos recursos australianos no setor ofensivo se mostrou logo na primeira chegada dos Socceroos. Mooy mandou o escanteio para a área e Leckie subiu mais alto, finalizando por cima. Entretanto, quem abriu o placar sendo mais precisa foi a Dinamarca. Curiosamente, o tento nasceu de uma cobrança de lateral. Pela esquerda, Schöne encontrou Jorgensen já dentro da área. O centroavante mostrou visão de jogo e deu um tapa de primeira, para a chegada de Eriksen. O camisa 10 emendou de primeira um chute rasante que passou entre as mãos de Ryan antes de balançar o barbante. O 13º gol do meia nas últimas 15 aparições pela seleção.

A Dinamarca apostava em lançamentos longos às costas da defesa, tentando aproveitar a velocidade de Poulsen. Os pontas apareciam mais por dentro, abrindo espaços às subidas dos laterais que, por vezes, conseguiam um bom cruzamento. Um deles veio com Dalsgaard, que foi acionado por Poulsen e botou efeito na bola. Jorgensen apareceu entre os zagueiros mas não deu a direção correta ao cabeceio, desperdiçando uma boa chance.

Os comandados por Age Hareide dominavam as ações à esta altura. Subindo a marcação em uma pressão intermediária, causava problemas à saída australiana e impedindo ameaças. Com o meio travado, as duas seleções arriscaram chutes de longe: Rogic, de um lado, e Sisto, do outro, mandaram sem tanta direção. Com o passar do tempo, a Austrália conseguiu igualar o controle do jogo, cadenciado por Mooy e Jedinak em busca de espaço. O carequinha, aliás, era o homem da bola parada e das principais chances da seleção da oceania pelo alto.

Foi em um destes lances que houve mais uma intervenção do auxiliar de vídeo, corrigindo um lance que não foi marcado inicialmente. Depois que Mooy mandou a bola para a área, buscando o cabeceio de Leckie, Poulsen acompanhou, mas subiu de braço aberto. A jogada seguiu, e o juiz logo foi consultar o lance novamente, assinalando a penalidade. Questionável, uma vez que o toque do dinamarquês foi consequência da movimentação. O capitão Jedinak foi calmo para a bola e apenas deslocou Schmeichel para empatar o jogo, aos 36. O gol concedido por Schmeichel deu fim a uma longa invencibilidade do arqueiro: antes do chute do capitão australiano, passou nove horas e 32 minutos intransponível pela seleção europeia.

Na volta do intervalo, a iniciativa foi australiana. A insistência, desta vez, era pela velocidade de Leckie pela direita — o camisa 7, porém, errava demais na conclusão de jogadas. A base da criação partia de Mooy que, além disso ainda conseguia bons desarmes. Da mesma forma, na velocidade, Pione Sisto era a arma mais veloz da Dinamarca. O camisa 23, aliás, conseguiu uma boa oportunidade, mas com o pé descalibrado, mandou para fora.

Antes dos 25 minutos da segunda etapa, o jogo era igual. As propostas se alteraram um pouco, principalmente com as substituições. Are Hareide escolheu Braithwaite para ter mais presença no meio, colocando também Cornelius, na vaga de Jorgensen — que protagonizou um lamentável chute de canela. Van Marwijk, por sua vez, quis renovar os pulmões da equipe. Então tirou Nabbout, com contusão no ombro, para a entrada de Juric; e trocou Kruse por Arzani, o jogador mais jovem da Copa, com apenas 19 anos.

A Dinamarca perdia o controle da bola, e era bem menos objetiva. Se tem mais capacidade técnica, eram os Socceroos que se comportavam melhor, ameaçando com chutes de longa distância. Mooy era sempre perigoso. Além de criar as jogadas mais lúcidas, foi do camisa 13 a paulada que passou perto do travessão de Schmeichel, assim como a bola batida por Rogic. Assim, com o passar dos minutos, os nórdicos foram caindo de rendimento, e a Austrália ameaçava, com mais atitude, posse, e trocando mais passes — era mais efetiva inclusive nas finalizações.

No fim do jogo, os contragolpes e o cansaço deixaram o jogo lá e cá. Com o empate no placar, a Dinamarca se arriscava, mas tinha falhas técnicas para concluir. Já a Austrália parava em Schmeichel. O goleiro do Leicester parou o chute forte de Arzani pelo lado esquerdo, e também salvou o chute alto de Leckie para segurar o empate.

O cara da partida

Aaron Mooy. O meia do Leicester City, da Inglaterra, foi elemento de controle do meio de campo australiano. Além de dar consistência à marcação na faixa central, era o responsável pelas bolas paradas e pelo passe mais qualificado vindo de trás. Se seu companheiro Jedinak marcou o gol de empate, foi de um escanteio que a oportunidade se transformou em pênalti. Assim, a Austrália conquistou seu primeiro ponto sem atuar mal, mas dependendo de resultados se quiser avançar.

Como fica

O empate entrega uma atuação mais convincente dos Socceroos, com a Dinamarca, de certa forma, decepcionando e dependendo de Eriksen para decidir. Na última rodada, jogos com dia e horário simultâneos: terça-feira, às 11h. A Austrália enfrenta o Peru em Sochi. Depois de uma partida melhor, ainda tem esperanças de se classificar. A depender do resultado da outra partida do grupo, os australianos podem enfrentar os sul-americanos em desespero e, vencendo, teria que torcer por uma vitória francesa para beliscar o segundo lugar. Já a Dinamarca assume a liderança provisória do grupo C, precisando torcer contra a França para ficar com a primeira posição. Sobretudo, decepciona. Caiu de rendimento e não cumpriu com o que se esperava, com um empate em mais uma atuação ruim. Joga contra os franceses na rodada final, no Olímpico de Lujniki.

O Grupo C antes do fechamento da rodada (Globoesporte.com)

Ficha Técnica

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