A Croácia se aproveitou dos vacilos da Nigéria e foi melhor em um jogo sonolento

Luiz Henrique Zart
Popytka
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6 min readJun 16, 2018
(Getty Images)

Bocejo. É aquilo que aparece quando se tem sono, mas também se um jogo de futebol é desinteressante. E, sim, nem parecia Copa do Mundo. Em ritmo de treino, Croácia e Nigéria mediram forças em Kaliningrado, no primeiro encontro na história entre as duas seleções. Se prometiam algo aos presentes e aos espectadores ao redor do mundo, pouquíssimo entregaram. A Croácia teve a sorte de ter uma ajudinha de Etebo, que fez o favor de desviar uma cabeçada de Mandzukic e mandar para as próprias redes, e Ekong, que cometeu um pênalti infantil e jogou fora as chances de empate Nigeriano. Com isso, ao menos a Croácia fez o básico.

Os times

Não há como comentar as participações croatas em Copas sem mencionar a história. Reconhecida como país independente em 1992, joga o quinto mundial na Rússia. Das campanhas anteriores, a mais marcante, com certeza, foi a primeira, na França em 1998. Segunda colocada de seu grupo — com Jamaica, Japão e Argentina -, nos mata-matas passou pela Romênia nas oitavas, além de deixar para trás a Alemanha nas quartas e parar nas semifinais diante dos anfitriões. Ainda bateu a Holanda para ficar com a terceira posição no mundial. Se não foi à África do Sul em 2010, em 2002 e 2006 e 2014 foi à Copa, mas caiu na primeira fase.

Para tentar afastar este fantasma, classificou-se à Rússia após superar a Grécia na repescagem. E ao técnico Zlatko Dacic não faltam recursos. A qualidade se destaca pela escalação, em um 4–2–3–1: Danijel Subasic no gol; Domagoj Vida e Dejan Lovren no miolo, com Sime Vrsaljko, peça importante ofensivamente, e Ivan Strinic nas laterais. As principais armas estão no meio de campo e no ataque. Na faixa central, a dupla de volantes vem do Barcelona e do Real Madrid: Ivan Rakitic e Luka Modric. Ante Rebic, Andrej Kramaric do Hoffenheim, e Ivan Perisic, da Internazionale de Milão, compunham a linha de meias, com a oportunidade de movimentação livre pelo meio. À frente, Mario Mandzukic, de boas atuações na Juventus.

Nas Super Águias, o histórico é de três avanços à segunda fase em copas, das quais participa pela sexta edição. Participou de três mundiais seguidos, em 1994, 1998 e 2002; ficou fora em 2006 e repetiu a sequência: esteve na África do Sul e no Brasil antes de embarcar à Rússia. Na Copa de 2014, inclusive, avançou às oitavas e caiu diante da Argentina.

Sob o comando de Rohr Gernot, os Nigerianos têm na velocidade seu melhor artifício, em um 4–3–3 bastante ofensivo. Com Francis Uzoho no gol, Shehu Abdullahi, pela direita, William Troost-Ekong, Leon Balogun pelo centro e Bryan Idowu na esquerda. A força física é a tônica do meio de campo, com Oghenekaro Etebo e Wilfred Ndidi na contenção, dando espaço à criação do experiente John Obi Mikel, de carreira marcante no Chelsea. Pelas pontas, Alex Iwobi e Victor Moses, auxiliando Odion Ighalo no comando de ataque. Tudo isso com boas opções ainda no banco, como Ahmed Musa e Kelechi Iheanacho.

(Fifa.com)

O jogo

Escolas de futebol completamente diferentes em choque num mesmo campo. Se os croatas priorizavam os passes, a Nigéria arriscava os passes longos para explorar a velocidade contra a marcação. Nesse caminho, grande parte das tentativas não eram concretizadas, com ambas as defesas muito bem postadas e com posturas cautelosas, marcando atrás do meio de campo quando o adversário procurava ameaçar. Um jogo burocrático que, em Kaliningrado, chegou a irritar os torcedores. Eles esperavam conclusões, mas os times não pareciam muito interessados. Mesmo nas pressões impostas, a efetividade era praticamente nula.

A Croácia conseguiu chegar com mais perigo arriscando arremates de longe. Primeiro com Perisic, que mandou por cima do travessão; depois com Kramaric, que bateu por baixo, mas viu a redonda se perder à direita do gol. Durante os 15 minutos seguintes, o retrato da partida: um jogo truncado, com chances esporádicas. Até que, então, aos 32, veio a bagunça. Mandzukic ajeitou de peito na entrada da área e Rebic arriscou de fora da área. O desvio no meio do caminho gerou um escanteio promissor. Quem cobrou foi Modric. Rebic conseguiu um leve desvio, Mandzukic tentou o peixinho, mas a bola não ia em direção à meta, até que bateu em Etebo e foi para o gol, matando qualquer chance de defesa do goleiro nigeriano. Mais um gol contra, depois do frango de De Gea contra Portugal.

Parte da falta de lances concretos ao longo de todo o embate passava pela criação. As duas seleções tem opções, principalmente com seus camisas 10 pelo centro do campo, mas não passavam da distribuição de passes, sem colocar os companheiros em boas condições de finalizar. Além de uma cabeçada de Kramaric, que levou algum perigo ao gol das Super Águias, nada demais. Durante a primeira etapa, mesmo tendo boas opções para o jogo, as duas equipes não contribuíram. Um jogo desinteressante, que chegou a ser sonolento.

Na volta do intervalo deve ter havido um chacoalhão no vestiário. A Nigéria foi a primeira a dar mostras de que queria algo, naturalmente, porque estava perdendo. Assim, depois de uma série de escanteios e de o ensaio de uma pressão, Moses apareceu pela direita, cortou para a perna esquerda e tentou o chute, passando à esquerda do gol.

A Croácia pressionava no campo de ataque e impedia os principais jogadores da Nigéria de criar algo mais efetivo, obrigando os africanos a recorrer ao bom — ou nem tanto — e velho chuveirinho que, sabemos bem, poucas vezes resulta em algo além da pressão no fim do jogo. Aos poucos o jogo se desenhava, mas sem aquela qualidade técnica que se espera de uma Copa do Mundo.

Aos 10, Modric, em um lampejo, deu um belo passe para Perisic. O croata conseguiu um cruzamento preciso para Rebic, que mandou por cima, desperdiçando uma boa oportunidade. Foi a deixa para o festival de mudanças. Zlatko tirou Kramaric, dos poucos que apresentou algo de positivo, para a entrada de Marcelo Brozovic. Rohr Gernot também fez a sua troca. Tirou Iwobi e tentou novo fôlego com Ahmed Musa. Os Super Águias eram pressionados e viam um caminho possível com o contra-ataque, já que o time de Modric começava a se soltar, já com o passar da metade da segunda etapa.

Moses até tentou ludibriar o árbitro brasileiro Sandro Meira Ricci ao se jogar dentro da área depois de uma jogada individual, mas o baile seguiu. Não seguiu quando Ricci assinalou o pênalti para a Croácia. A bola foi para a área e Ekong abraçou escandalosamente Mandzukic. Ao camisa 10, portanto: Modric não deixou nem o goleiro sair na foto, mandando a bola no campo oposto. Muito bem: 2 a 0. Ainda houve tempo para a saída de Rebic, com a aparição de Mateo Kovacic; e Marko Pjaca na vaga de Mandzukic. Também a saída do camisa 10 nigeriano, para a entrada de Simeon Nwankwo. Essas últimas só para gastar tempo mesmo.

O cara da partida

Eram poucas as opções, dadas as condições de temperatura e pressão. Entretanto, vale ressaltar Modric. Um dos poucos com um dedinho a mais de lucidez, que tentou trocar passes em meio à pouca criatividade de seu time. Em que pese os equívocos dos africanos, os europeus souberam aproveitar.

Como fica

São situações diferentes as dos dois protagonistas da noite de hoje. A Croácia desponta como líder do grupo, depois do empate entre Argentina e Islândia, e deixa a Nigéria na lanterna, até certo ponto fazendo seu papel. O próximo compromisso croata é diante da Argentina, em Nizhny Novgorod, na quinta, dia 21, às 15h. No dia seguinte é a vez de a Nigéria enfrentar a Islândia, em Volgogrado, ao meio-dia.

Globoesporte.com

Ficha técnica

Croácia 2 x 0 Nigéria

Local: Kaliningrado (RUS).

Árbitro: Sandro Meira Ricci (BRA).

Gols: Oghenekaro Etebo, aos 32’/1T (contra), Luka Modric (pen) aos 25’/2T (CRO).

Cartões amarelos: Ivan Rakitic, Marcelo Brozovic (CRO); William Ekong (NIG).

Croácia: Danijel Subasic; Sime Vrsaljko, Domagoj Vida, Dejan Lovren e Ivan Strinic; Ivan Rakitic, Luka Modric, Ante Rebic (Mateo Kovacic), Andrej Kramaric (Marcelo Brozovic) e Ivan Perisic; Mario Mandzukic (Marko Pjaca).

Nigéria: Francis Uzoho; Shehu Abdullahi, William Troost-Ekong, Leon Balogun e Bryan Idowu; Oghenekaro Etebo, Wilfred Ndidi, John Obi Mikel; Alex Iwobi (Ahmed Musa), Victor Moses e Odion Ighalo (Kelechi Iheanacho).

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