A falha de Caballero é o retrato da partida terrível da Argentina, que vê a Copa por um triz

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
8 min readJun 21, 2018
O experiente goleiro falhou feio tentando uma cavadinha (Ivan Alvarado/Reuters)

Às vésperas da Copa do Mundo, um baque para a Argentina. Romero, goleiro titular da Albiceleste, lesionou o joelho direito e foi cortado do mundial. Jorge Sampaoli convocou Franco Armani, campeão da Libertadores de 2016 pelo Atlético Nacional e em ótima fase no River Plate, mas preferiu Willy Caballero para ser titular na Rússia. O arqueiro de 36 anos foi o retrato de uma Argentina completamente desorganizada: recebendo o recuo da zaga, tentou uma cavadinha e errou bisonhamente, levantando a bola perfeita para Rebic mandar sem dó para as redes. Foi o gol que abriu o placar da vitória croata por 3 a 0, que ainda teve gols de Modric e Rakitic para selar a grande atuação dos vatreni, pisoteando os sul-americanos com uma vitória inapelável em Nizhny Novogorod.

Com isso, o sentimento de tensão se intensifica para os lados de Buenos Aires. Agora, a Croácia está nas oitavas, e a Argentina não depende mais de si: precisa de uma difícil combinação de resultados para avançar de fase. Com Messi invisível, a argentina teve uma atuação horrível, e agora está a um triz de sair da Copa.

Os times

O empate contra a Islândia provocou mudanças radicais no esquema argentino diante da Croácia. Jorge Sampaoli seguiu suas convicções, abandonando o esquema anterior para armar a equipe com três zagueiros. Caballero continuava no gol, mas rojo perdia a vaga na defesa. Quem continuava por lá eram Nicolás Otamendi, Nicolás Tagliafico e Gabriel Mercado. Javier Mascerano ganhou a companhia de Enzo Pérez no setor de meio, depois da atuação ruim de Lucas Biglia. Eduardo Salvio, antes na lateral, foi adiantado à ala direita, com Marcos Acuña na esquerda, ocupando espaço que seria de Di María. Fugindo do esquema disposto pela Fifa, era bastante provável que Maximiliano Meza e Lionel Messi recuassem, deixando apenas Sergio Aguero adiantado. Isso porque o técnico da Albiceleste pretendia igualar o número de jogadores croatas na faixa central de campo, prevendo a disputa pela bola como necessidade para partir para o abafa.

Já a Croácia fez sua parte contra a Nigéria, vencendo por 2 a 0. Com isso, vinha menos pressionada para a partida. Largou na frente como a única seleção do grupo a marcar três pontos. Porém, tem no confronto a chance de complicar a Argentina e assegurar boa distância rumo ao primeiro lugar. Zlatko Dalic também fez suas mudanças. Adiantou Luka Modric à armação. Milan Badejl, mais marcador, dava a vaga a Marcelo Brozovic, com qualidade para fazer a saída de bola e liberar o camisa 10 na aproximação com Mario Mandzukic. O restante do time era mantido, com Danijel Subasic à meta; Sime Vrsaljko, Dejan Lovren, Domagoj Vida e Ivan Strinic na defesa, com Ivan Perisic e Ante Rebic pelas pontas no meio de campo.

O campinho de Argentina x Croácia (Fifa.com)

O jogo

Argentina x Croácia carregava um turbilhão emocional, mais para o lado sul-americano. O esquema de três zagueiros mostrava claras dificuldades para sair jogando. Com o apoio dos alas dedicados ao ataque, o comprometimento atrás era perigoso, com os alas retornando pouco. Numa destas situações, logo aos três minutos, Perisic se infiltrou pela esquerda e bateu cruzado. A bola tinha endereço, no canto rasteiro de Caballero, mas o camisa 23 conseguiu se jogar na bola para espalmar. E apesar de sofrer o primeiro lance de perigo, a estratégia argentina era avançar os zagueiros praticamente à linha de meio de campo, apertando a defesa na marcação.

A disputa era pegada. Os croatas deixavam a bola com os comandados de Sampaoli, explorando os espaços deixados pelos alas adversários. Em meio ao nervoso ambiente à semelhança dos estádios argentinos, a Albiceleste não conseguiu o primeiro lance de perigo por centímetros. Especialmente aqueles que separaram a redonda da ponta de chuteira de Messi, depois de lançamento de Enzo Pérez. Pouco depois, foi o posicionamento de Lovren que salvou a meta de Subasic de uma bola perigosa. Acuña chegou à linha de fundo e cruzou para trás. Meza apareceu de frente e bateu para o gol, mas o zagueiro impediu o destino final da batida.

O embate físico fez com que a Argentina aplicasse a sabida força excessiva, impedindo os croatas de saírem do campo de defesa. Com a bola, porém, pouco produzia. Ninguém encontrava Messi pelo meio, e ele pouco conseguia se deslocar para se apresentar e receber a bola. O time, mais uma vez, dependia do camisa 10, mesmo porque Aguero era barrado pela presença de Lovren e Vida. Os vatreni pouco produziam, pressionados.

Assim, a Argentina chegou com perigo. Acuña subiu pela esquerda e chegou batendo para a área. O cruzamento pegou muito efeito e triscou o travessão de Subasic. Pouco depois, o camisa 8 acreditou e foi na bola protegida para a saída do goleiro croata, e conseguiu chegar antes. O toque para o meio foi afastado parcialmente pela zaga, e sobrou livre para Enzo Pérez. Sem goleiro, o argentino escolheu o canto e bateu rasteiro, mas mandou à esquerda da trave. Inacreditável.

No entanto, perder oportunidades claríssimas não era algo exclusivo aos argentinos. Isso porque, aos 31, Modric lançou de perna esquerda para a área, atrás da defesa. Mandzukic aparecia em ótimas condições para cabecear, livre, e tentou o peixinho, mandando torto pela linha de fundo. Pouco depois, aproveitando a vantagem dada pelo juiz, o camisa 10 croata encontrou Rebic pela esquerda, sem marcação. Ele conseguiu o domínio, cortou Mercado, que vinha na cobertura, e isolou, em vez de passar a Perisic, que avançava no corredor. Na primeira etapa, a Croácia causava problemas, se fechando. Messi contribuía apenas pressionando os defensores na marcação, sem conseguir criar possibilidades de gol — como toda a Argentina, com um chute bloqueado, o cruzamento de Acuña que parou na trave, e o chute de Pérez com o gol aberto.

Na segunda etapa, quando a Argentina precisava sair jogando e contava com Messi para buscar a bola, Sampaoli chamou Higuaín para aumentar seu poder de fogo. A defesa albiceleste batia cabeça. Rebic era quem aparecia mais à frente. O camisa 18 partia livre quando Mercado parou o contra-ataque “dando no meio” do croata. Os dois, inclusive, seriam protagonistas do lance que aumentou o drama sul-americano.

O erro de Caballero e o começo do terremoto

A bola vinha para o campo de defesa argentino quando Mercado recuou para Caballero, se posicionando para receber a bola de volta. O goleiro argentino poderia chutar. Poderia isolar para a lateral. Poderia ter tentado o passe rasteiro. Mas pressionado por Rebic tentou uma cavadinha, curta demais. Completamente vendido, apenas esperou pelo golpe de misericórdia do atacante, que bateu de voleio para estufar as redes.

Sampaoli lançou seu time à frente, mandando às favas o 3–4–3. Agüero foi mesmo substituído por Gonzalo Higuaín, e Cristian Pavón veio para dar velocidade na vaga de Salvio. Do meio para frente, Meza e Pavón apareciam como meias, com Higuaín enfiado e Messi solto em campo. O camisa 9 foi lançado e apareceu como um ponta pela esquerda, já dentro da área. Bateu para trás e Meza tentou a conclusão, batendo mascado. Subasic bateu roupa e Messi tentou de novo quando o arqueiro já fechava o ângulo e um defensor aparecia na cobertura. A Croácia respondeu: Rakitic inverteu o jogo para Vrsaljko, que deu o passe para Mandzukic. Pressionado pela zaga, o centroavante finalizou sem precisão.

A Croácia se aproveitava da desordem tática e emocional argentina. Com inteligência, tentava segurar a bola se fechando na área, enquanto o técnico argentino tirou Enzo Pérez, volante, para mandar a campo o atacante Paulo Dybala. A pressão era gigante. A situação era crítica. E o jogador da Juventus chegou arriscando um chute colocado, da esquerda, e viu a redonda passar por cima.

A falta de precisão era o que faltava à Argentina. E sobrava à Croácia. O time de Dalic, calmamente, chegou ao ataque pela esquerda. A troca de passes terminou nos pés de Modric. O camisa 10 croata armou o chute uma vez, recolheu a bola, e quando armou de novo, Otamendi estava à frente, mas foi pouco. O armador tirou um lindo chute, com curva, no cantinho de Caballero, que não alcançou.

Depois do gol, a Argentina caiu na pilha de nervos e o jogo ficou picado. A melhor oportunidade esteve nos pés de Rakitic, que cobrou a falta por cima da barreira, mas viu o travessão impedir o terceiro gol. Mas não restaria mais chance minutos depois. Já nos acréscimos, os croatas chegaram em contra-ataque, com Rakitic batendo colocado da entrada da área. Caballero espalmou, Kovacic pegou o rebote e tocou para Rakitic concluir sem goleiro. 3 a 0 inapelável.

O cara da partida

É impossível colocar apenas um neste espaço. Modric e Rakitic, além dos gols, contribuíram de maneira decisiva na marcação e na criação do meio de campo croata, que ainda teve Brozovic muito bem. Aproveitando a falta de controle emocional Argentina, Lovren também foi importante para bloquear a pouquíssima criatividade Albiceleste. A atuação coletiva se sobressaiu para mandar a Argentina a um drama imenso.

Como fica

A Argentina se coloca em situação complicada. Ainda nesta rodada, torce por um empate ou uma derrota Islandesa contra a Nigéria, amanhã, às 12h, em Volgogrado. Assim, os croatas, já classificados, ficariam com 6 pontos, a Islândia não se distanciaria, e a Nigéria seria a adversária do confronto decisivo, em São Petersburgo, com obrigação de vitória. Além disso, na última rodada, a Albiceleste dependeria de uma vitória da Croácia contra a Islândia, em Rostov. São muitas contas a fazer. O destino do Grupo todos saberemos a partir das 15h de terça, dia 26.

A dramática classificação para a Argentina (Globoesporte.com)

Ficha Técnica

Argentina 0 x 3 Croácia

Local: Estádio Nizhny Novgorod, em Ninhny (Rússia)
Árbitro: Ravshan Irmatov (Uzbequistão)
Gols: Ante Rebic, Luka Modric e Rakitic (Croácia)
Cartões amarelos: Mercado, Otamendi e Acuña (ARG); Rebic, Mandzukic, Vrsaljko e Brozovic (CRO)

Argentina: Caballero; Gabriel Mercado, Nicolás Otamendi e Nicolás Tagliafico; Eduardo Salvio (Pavón), Javier Mascherano, Enzo Pérez (Dybala) e Marcos Acuña; Lionel Messi, Sergio Agüero (Higuaín) e Maximiliano Meza. Técnico: Jorge Sampaoli

Croácia: Danijel Subasic; Sime Vrsaljko, Dejan Lovren, Domagoj Vida e Ivan Strinic; Marcelo Brozovic, Ivan Rakitic e Luka Modric; Ante Rebic (Kramaric), Ivan Perisic (Kovacic) e Mario Mandzukic (Vedran Corluka). Técnico: Zlatko Dalic

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