A redenção de Kroos: Gol no último lance e virada cardíaca mantêm Alemanha viva na Copa

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
8 min readJun 23, 2018
A pintura de Toni Kroos, de Sochi para a história das Copas (Getty Images)

Já eram 49 minutos do segundo tempo. Os acréscimos escorriam pelos dedos da Alemanha, que complicava seu destino na Copa do Mundo, deixando de depender apenas de si para se classificar. O jogo tinha contornos épicos. Pressão total. Um a menos em campo. E o Mannschaft tinha o último suspiro: Durmaz cometeu falta à esquerda da área. Era sem ângulo. Toni Kroos, que havia errado o passe que iniciou a jogada do gol sueco, foi para a cobrança.

Poderia rolar na entrada da área. Poderia cruzar para que Gomez tentasse de cabeça. Poderia. Mas não fez. Respirou fundo e tocou curto para Reus. O 11 apenas pisou na bola para desmontar a barreira. O 8, então, deu três passos e bateu direto. Robin Olsen voou para tentar a defesa de mão trocada, mas era impossível. O chute foi inapelável. E a bola beijou a parede da rede para decretar a segunda virada desta Copa. Assim, os campeões do mundo arrancaram três pontos da Suécia e afastam a possibilidade de ficar de fora dos mata-matas pela primeira vez nos 19 mundiais disputados. Em um lance que colocou Sochi em êxtase, a tetracampeã segue viva. E de forma cardíaca.

Os times

Joachim Löw promoveu diversas mudanças. Manuel Neuer seguia no gol, recuperado de lesão, e o lado direito da defesa era o mesmo. Joshua Kimmich pela lateral, e Jérôme Boateng pelo centro. O que mudava era o lado esquerdo: Mats Hummels, em más condições físicas, foi substituído por Antonio Rüdiger. Já na esquerda, com o retorno de Jonas Hector, Marvin Plattenhardt foi para o banco. Depois da derrota para o México, Sami Khedira também ficou na reserva, e quem veio a campo foi Sebastian Rudy, ao lado de Toni Kroos na faixa mais recuada do meio de campo. Com a saída de Mesut Özil, Julian Draxler foi centralizado, com Thomas Müller na direita e Marco Reus na outra ponta.

Do time que bateu a Coreia do Sul na primeira rodada, as alterações começavam na defesa. Victor Lindelof aparecia no miolo de zaga. Fora isso, o time era exatamente o mesmo: Robin Olsen no gol; Mikael Lustig e Ludwig Algustinsson pelas laterais, e Lindelof acompanhado pelo capitão Andreas Granqvist. Como volantes, Sebastian Larsson e Albin Ekdal, com Viktor Claesson e Emil Forsberg mais à frente pelo setor de meio. Já no ataque, duas peças: Ola Toivonen e Marcus Berg.

O campinho de Alemanha x Suécia (Fifa.com)

O jogo

A postura germânica já denunciava a urgência da partida. Antonio Rüdiger e Jérôme Boateng se posicionavam praticamente como volantes, na intermediária defensiva da Suécia. Kimmich e Hector adiantavam-se como pontas, com Timo Werner e Thomas Müller no ataque. No abafa, o domínio era completo do time de Joachim Löw. Nas primeiras chances criadas da etapa inicial, Werner invadiu a área pela direita e chutou. Olsen conseguiu a defesa, mas espalmou para frente. Na sobra, Reus não conseguiu aproveitar. Draxler e Reus apareciam pelas pontas a todo momento no princípio do jogo, e nas tentativas de cruzamento rasteiro, muitas pernas suecas se colocavam à frente.

Aos 12 minutos, a Suécia teve uma chance de ouro. Marcus Berg avançou sozinho pelo meio, e entrou na área para tentar a conclusão. Deslocado por um empurrão de Boateng pelas costas, o camisa 9 sueco tropeçou, e foi bloqueado também pela saída de Neuer. Os nórdicos reclamaram, pedindo a assistência do vídeo, mas a arbitragem não utilizou o recurso. A Suécia marcava muito bem e tentava avançar suas linhas de marcação quando tinha a bola. A Alemanha, por sua vez trocava passes e se voltava ao campo de defesa sem a bola. Fato é que, depois da pressão inicial, a intensidade da partida arrefeceu.

Sangue, troca, erro e cobertura

A primeira substituição do Mannschaft foi forçada por um acaso. Rudy disputou a bola com Toivonen no meio de campo. O alemão foi por baixo e, na passagem, o centroavante sueco acertou o rosto do volante com a chuteira. De imediato, o camisa 19 começou a sangrar. Depois de sair de campo, passou minutos sendo atendido, sem que pudesse voltar. Então, Ilkay Gündogan entrou em seu lugar. Foi justamente quando o volante do Manchester City tentava se ajustar em campo que os Blagult aproveitaram a brecha: Aos 32, Toni Kroos errou um passe curto, daqueles que não costuma — nem com o Real Madrid, nem com a Nationalelf. Larsson passou para Claesson pela direita e o camisa 17 lançou Toivonen no buraco deixado pela defesa. O centroavante dominou no peito, ajeitou o corpo e, de perna direita, deu um lindo toque por cima de Neuer antes que Rüdiger chegasse para travar. Irritado, o goleiro deu uma dura nos companheiros de defesa, reclamando e, ao mesmo tempo, motivando o time. Se o sinal de alerta já estava ligado no início da partida, o gol obrigava a Alemanha a mudar de atitude.

Até o intervalo, os germânicos ameaçaram mais uma vez. Reus apareceu pela ponta direita e tocou para Gündogan, mais atrás, em posição melhor. O volante arriscou de longe, a bola desviou no meio do caminho e Olsen caiu no reflexo para fazer uma defesa complicadíssima. No rebote, Müller tentava a conclusão, mas foi travado por Lustig. Mas a Suécia também chegou com perigo: Estava em maioria no contra-ataque puxado por Forsberg. Ele tentou acionar Berg de trivela, mas a bola passou pelo camisa 9. Ainda assim, a sobra ficou com Claesson, que poderia ter batido de primeira, mas preferiu o corte para o meio e favoreceu o corte de calcanhar de Jonas Hector. E a oportunidade de ampliar o placar seria negada por Neuer. Larsson cruzou do lado esquerdo, Berg se jogou na bola para cabecear. Ela seguia para o cantinho de Neuer, que se lançou para espalmar, mostrando elasticidade.

Panela de pressão

Os 73% de posse de bola da primeira etapa precisavam se concretizar em finalizações para as redes. Então, Löw tirou o pouco produtivo Draxler, e apostou na presença de área de Mario Gomez. Logo aos dois minutos do segundo tempo, no entanto, não foi dele o tento de empate. Toni Kroos viu o avanço de Werner como um ponta. O camisa 9 bateu para o meio da área, Mario Gomez não conseguiu o domínio, mas triscou a chuteira e fez a bola subir. Marco Reus vinha de trás e conseguiu mandar de joelho para as redes de Olsen. O empate era o que a Alemanha queria para partir ainda mais ao ataque. Aos 5, a oportunidade veio na bola parada. Kroos cruzou no primeiro pau e Müller se antecipou à zaga para desviar, com a bola raspando a trave.

Cinco minutos mais tarde, quase o repeteco, mas a jogada acabou nos pés errados. Werner foi novamente ao fundo e bateu para a área. Hector apareceu em boas condições mas bateu em cima de Olsen. A pressão era incessante: Kimmich avançou ao ataque e bateu firme, rente à grama, para dentro da área. Marco Reus já passava da bola e, por isso, tentou de letra, sem conseguir bater na bola. Então, Kimmich decidiu arriscar por si: mais por dentro, bateu forte, e Olsen bateu roupa antes de a zaga afastar.

Bloqueio sueco

A Suécia colocava praticamente todos os jogadores dentro da própria área, enquanto a Alemanha testava a bola aérea a todo momento. Foi isso que Antonoi Rüdiger arriscou, vendo Mario Gomez aparecer às costas da defesa e, completamente livre e perder o que seria o gol da virada. O jogo era pura correria e batalha aérea dentro da área sueca. Os comandados de Janne Andersson tentavam tirar a velocidade do jogo para frear o ímpeto alemão. Depois da cobrança de escanteio, Jonas Hector rebateu para o bico da área e Forsberg bateu de primeira, obrigando Neuer a intervir.

Aos 35, Kimmich, a válvula ofensiva pela direita do ataque alemão, chegou ao fundo mais uma vez e conseguiu o cruzamento rasteiro. Timo Werner apareceu bem para bater, mas o arrematou por cima. Além da oportunidade perdida, o jogo ganhava contornos mais dramáticos: Boateng chegou duro em Berg e, como já tinha amarelo, foi expulso. Reus já estava com cãimbras, e era praticamente o segundo jogador a menos do Mannschaft. Para completar, na cobrança da falta que tirou o zagueiro alemão da partida, a bola ia chegando a Berg e Neuer escorregou. No último momento possível se recuperou e mandou de soco para fora.

Os acréscimos viscerais

Löw arriscou o possível, com a última substituição à disposição: tirou Hector, que se posicionava como último homem da linha defensiva, e colocou o meia Julian Brandt. Mas quem quase conseguiu a improvável virada foi Gomez. O goleiro Olsen manteve os olhos na bola. A pedrada veio. Alta, forte. O camisa 1 foi espetacular: esticou o braço direito e, com a mão espalmada, mandou por cima de seu travessão.

Para tirar o fôlego de todos, mais cinco minutos de acréscimo. No segundo minuto, a bola veio rolando lentamente. Brandt ajeitou o corpo e soltou o chute de perna esquerda. A redonda explodiu na baliza direita Olsen. Até que Kroos mudou o destino alemão.

Como fica

Quando o jogo estava 1 a 0, bastava que Suécia e México empatassem na última rodada e ambos se classificariam, mesmo que a Alemanha superasse a Coreia do Sul. Seria a primeira vez que a seleção sofreria duas derrotas seguidas em Copas em 60 anos — quando aconteceu, foi justamente na Suécia, em 1958. Mas não aconteceu. Agora, o grupo está em aberto. O México está em vantagem, mas se perder da Suécia em Ecaterimburgo e a Alemanha superar os Coreanos, a classificação fica em risco. Os Alemães, então, precisam bater os lanternas e fazer saldo para ficar em vantagem. A eliminação só acontece se o Mannschaft perder na Arena Kazan. Os dois jogos são na quarta, dia 27, às 11h.

Não tem como saber o futuro do Grupo F (Globoesporte.com)

O cara da partida

Obviamente, Toni Kroos. Diante do pandemônio em que se viu, a Alemanha esteve duas vezes nos pés de seu camisa 8. Primeiro, para o mal, quando ele errou um passe simples e cedeu o contra-ataque que resultou no golaço de Berg, encobrindo Neuer. Depois, ao fim dos acréscimos, para o bem. Soltando o grito preso na garganta, mandou para as redes de forma espetacular para dar fim ao drama dos germânicos.

Kroos decidiu no fim dos acréscimos (Getty Images)

Ficha Técnica

Alemanha 2×1 Suécia

Local: Estádio Fisht, em Sochi (Rússia)

Árbitro: Szymon Marciniak (Polônia)

Gols: Toivonen aos 32’/1T (Suécia), Marco Reus aos 3’/2T, Toni Kroos aos 49’/2T (Alemanha)

Cartões amarelos: Boateng (Alemanha), Ekdal, Larsson (Suécia)

Cartão vermelho: Boateng aos 37’/2T (Alemanha)

Alemanha

Manuel Nneuer; Joshua Kimmich, Jérôme Boateng, Antonio Rüdiger e Jonas Hector (Julian Brandt aos 42’/2T); Sebastian Rudy (Ilkay Gündogan 31’/1T) e Toni Kroos; Thomas Müller, Julian Draxler (Mario Gomez, intervalo) e Marco Reus; Timo Werner. Técnico: Joachim Löw

Suécia

Robin Olsen; Mikael Lustig, Victor Lindelöf, Andreas Granqvist e Ludwig Augustinsson; Viktor Claesson (Jimmy Durmaz aos 29’/2T), Sebastian Larsson, Albin Ekdal e Emil Forsberg; Ola Toivonen (John Guidetti aos 33’/2T) e Marcus Berg (Kiese Thelin aos 45’/2T). Técnico: Janne Andersson

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