A Suíça teve a força de Xhaka e Shaqiri para impor a primeira virada da Copa contra a Sérvia

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
7 min readJun 23, 2018
Xherdan Shaqiri mostrou suas credenciais e selou a virada (Getty Images)

Tudo indicava uma partida equilibrada em Kaliningrado, onde Sérvia e Suíça se enfrentaram. Em um jogo extremamente físico e igual, foi justamente isso que aconteceu. Mas, no final, não houve empate. Com a vitória, os suíços ficam mais tranquilos em busca da classificação. Tem pela frente a já desclassificada Costa Rica na última rodada para tentar alcançar o primeiro lugar do grupo. A derrota complica o outro lado, obrigando a Sérvia a derrotar o Brasil caso queira seguir em frente — quem sair com os três pontos, leva a vaga. O Grupo é equilibradíssimo, e contar com a participação dos nomes mais importantes pode ser fundamental. Ao Nati foi assim, e foi de virada: 2 a 1, com Xhaka e Shaqiri decidindo.

Os times

O embate entre Sérvia e Suíça tinha pesos diferentes às duas equipes, mas com o mesmo objetivo. Se os Águias Brancas conseguiram os três pontos na primeira rodada e buscavam assegurar uma posição mais confortável na liderança do grupo, o Nati suíço precisava vencer se quisesse manter suas pretensões. Os times vinham espelhados em um 4–5–1 com dois volantes e três meias. Assim, os comandados por Mladen Krstajic tinha à disposição Vladimir Stojkovic no gol, com Branislav Ivanovic pela lateral — com a capacidade de atuar também como zagueiro dos tempos de Chelsea -, Nikola Milenkovic e Dusko Tosic pelo miolo, e Aleksandar Kolarov, referendado pela boa temporada na Roma, pela esquerda. Luka Milivojevic e Nemanja Matic, do Manchester United, como principal peça como volante contribuindo para a saída de bola. Sergej Milinkovic-Savic aparecia centralizado pela meia ofensiva, com Filip Kostic, estreando na Copa para substituir Adem Ljajic e reforçar a marcação, e Dusan Tadic pelas pontas. A referência era o forte Aleksandar Mitrovic.

Já a Suíça de Vladimir Petkovic tinha o sempre requisitado Yann Sommer à meta, com Stephan Lichtsteiner na lateral direita, Manuel Akanji e Fabian Schär como zagueiros e Ricardo Rodríguez pela esquerda. No meio, Granit Xhaka e Valon Behrami vinham mais atrás, para qualificar a saída de bola e infiltrar, trocando de posição com os três que apareciam adiante: Steven Zuber, Blerim Dzemaili e Xherdan Shaqiri pela direita. Isolado à frente, só Haris Seferovic.

O campinho de Sérvia x Suíça (Fifa.com)

O jogo

A intensidade apresentada pelas duas equipes no começo de partida deu a indicação de uma partida bem animada. Ambas as equipes não escondiam seu jogo: a Suíça não se fechava como fez diante do Brasil, e a Sérvia ameaçava, mas também não podia descuidar na defesa. E o centroavante teve um papel importante, sendo preponderante dentro da grande área. Tadic recebeu o passe depois de cobrança de escanteio curto na ponta direita da área. Então, mandou para a área. Mitrovic se deslocou bem e, mesmo marcado, conseguiu um desvio perigoso, que Sommer caiu bem para espalmar. Era um prenúncio do que viria pela frente. Porque pouquíssimo tempo depois, aconteceu um lance que parecia replay: Tadic recebeu do lado direito do ataque, mandou para a canhota e deu um passe na cabeça de Mitrovic. O camisa 9 subiu mais que seu marcador e não deu chances de defesa ao goleiro suíço.

O Nati respondeu bem em uma bola que parecia não oferecer tanto perigo. Ivanovic tinha tudo sob controle na sua posição, chegando antes para proteger a bola. Não contava com o lateral Rodríguez, que roubou a bola, deixou o camisa 6 na saudade e cruzou. Dzemaili veio para concluir mas bateu muito mal de uma posição em que poderia fazer mais. A Sérvia era mais perigosa, atacando pelos flancos e tendo na presença de seu centroavante um incômodo à marcação adversária. Com muita força física, Mitrovic conseguia ganhar todas de cabeça e, aos 13, assustou Sommer. Depois, ele até arriscou um lance plástico, tentando uma bicicleta depois de receber o lançamento e dominar no peito, mas mandou por cima do gol. Passando os lances, o ritmo da partida se reduziu, com as equipes se estudando e a Sérvia administrando a vantagem.

Nessa comodidade, quem assustou — em uma das oportunidades mais claras em meio à superioridade das Águias Brancas — foram os suíços. Xhaka enfiou para Zuber, em posição-chave da entrada da área. Ele esperou Seferovic se arrumar e deu um toque por cima para quebrar a defesa. Seferovic estava de frente para o gol, mas pressionado por Kolarov conseguiu apenas um leve desvio, interceptado por Stojkovic. Com Dzemaili em uma noite muito ruim e Shaqiri cercado pela marcação, o time de Vladimir Petkovic passava um aperto. Entre a pancaradia que tomou conta da faixa central do campo, onde se distribuíram soladas e se exibiram as travas de chuteira, Matic foi à linha de fundo pela esquerda e não deu para saber se quis realizar um cruzamento forte ou se deu um chute sem ângulo. Certo é que obrigou Sommer a tirar com a ponta dos dedos.

Ao contrário do setor de meio da Suíça, os Sérvios conseguiam fazer o jogo fluir pelo meio, especialmente pelos pés de Tadic. O camisa 10 aproveitou o pivô preciso de Mitrovic para a entrada da área e foi arrojado: pegou de primeira, em uma chicotada de primeira que passou assobiando o travessão. Mas a situação haveria de mudar.

A começar pela referência ofensiva, Petkovic tirou seu camisa 9 e mandou a campo Gavranovic. O camisa 18 não fez tanto quando poderia. Mas a Suíça chegou ao empate também no comecinho, mas da segunda etapa. Partindo em contra-ataque pela esquerda, Shaqiri recebeu uma virada de jogo precisa, ajeitou o corpo, cortou para o meio e tentou bater de curva. A bola tinha endereço, mas Kolarov se colocou à frente para impedir seu destino. Ele não contava com o transcorrer da jogada. Depois da rebatida, a bola sobrou girando e girando na entrada da área, se apresentando a quem quisesse se consagrar. Granit Xhaka fez mais: empatou com uma pintura, pegando de primeira, de chapa e com muito efeito, para deixar o arqueiro Stojkovic sem reação.

Lichtsteiner jogou em parceria com Shaqiri pela direita. O jogador do Stoke se enrolou com a marcação, mas a bola sobrou um pouco sem ângulo. Sem problema: ele soltou a perna esquerda e viu sua bola girar até encontrar a quina da trave com o travessão, em um lance que apontou a qualidade do camisa 23. Quase a virada. O lance apontava para o que se apresentava na segunda etapa: os suíços tomaram conta da partida, apostando em especial nos seus jogadores mais qualificados, Xhaka e Shaqiri. A Sérvia cadenciava mais o jogo, mas ambas as seleções pressionavam a defesa, porque o resultado não era tão bom para nenhuma das envolvidas — a esta altura, o Brasil assumiria a liderança, passando a Sérvia nos critérios de desempate.

A questão física era o que pesava no fim do segundo tempo. A Sérvia insistia na força física de Mitrovic, cansado de guerrear contra os zagueiros. Enquanto isso, a Suíça renovava as forças com a saída de Dzemaili, para a velocidade de Embolo ser uma alternativa. A Sérvia não conseguia sair de trás, a não ser com as arrancadas de Kolarov e Tadic. Das poucas ameaças do time de Krstajic, Seferovic reclamou de um pênalti (e foi mesmo) depois do cruzamento do camisa 10. Além disso, a Suíça dominava, mas com a aproximação do fim do jogo, as duas equipes se lançaram à frente.

Quem teve sucesso nos contragolpes foi a Suíça, premiando o segundo tempo mais direto com a virada. Xhaka estava no campo de defesa e teve muita vísão de jogo: notou a progressão de Shaqiri em velocidade e deu um longo passe que cortou a defesa, clareando os horizontes para o camisa 23. Como um velocista, ele deixou Tosic para trás e tocou rasteirinho na saída do goleiro. Explodiu tirando a camisa, e foi justo: Fez uma grande partida do atacante.

O cara da partida

Granit Xhaka. Teve a parceria de Xherdan Shaqiri para despontar o potencial técnico suíço em uma partida difícil, em que a Sérvia dominou a primeira etapa. Foi relevante na retomada do meio de campo que serviu para sobrecarregar a recomposição da Sérvia. Depois do intervalo, os dois decidiram, especialmente o camisa 10, com um belo gol e um passe primoroso até a corrida fulminante e a finalização do companheiro.

Como fica

Todos os jogos são confrontos diretos em Copas. Mas pode-se dizer que este tem um peso diferenciado. Com a vitória, a Suíça ultrapassa a Sérvia e chega aos quatro pontos. Vai a Nizhny Novgorod encarar a já desclassificada Costa Rica e, na teoria, tem mais facilidade para avançar de fase. Já os comandados por Krstajic vão à última rodada — com jogos no mesmo horário, às 15h — precisando torcer para um resultado ruim dos suíços e, além disso, são obrigados a bater o Brasil se quiserem se classificar, no Estádio do Spartak.

Embolado: assim está o grupo de Sérvia e Suíça (Globoesporte.com)

Sérvia 1×2 Suíça

Local: Estádio Kaliningrado, em Kaliningrado (Rússia)
Árbitro: Feliz Brych (Alemanha)
Gols: Mitrovic aos 5’/1T (Sérvia), Xhaka aos 7’/2T, Shaqiri aos 46’/2T (Suíça)
Cartões amarelos: Milinkovic-Savic, Milivojevic, Matic, Mitrovic (Sérvia), Shaqiri (Suíça)

Sérvia

Vladimir Stojkovic; Branislav Ivanovic, Nikola Milenkovic, Dusko Tosic e Aleksandar; Luka Milivojevic (Nemanja Radonjic aos 36’/2T) e Nemanja Matic; Dusan Tadic, Sergej Milinkovic-Savic e Filip Kostic (Adem Ljajic aos 20’/2T); Aleksandar Mitrovic. Técnico: Mladen Krstajic

Suíça

Yann Sommer; Stephan Lichtsteiner, Fabian Schär, Manuel Akanji e Ricardo Rodríguez; Valon Behrami e Granit Xhaka; Xherdan Shaqiri, Blerim Dzemaili (Breel Embolo aos 28’/2T) e Steven Zuber (Josip Drmic aos 48’/2T); Haris Seferovic (Mario Gavranovic, intervalo). Técnico: Vladimir Petkovic

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