A vitória uruguaia veio à moda de sempre: sufoco e resultado no último lance

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
6 min readJun 15, 2018
Giménez superou dois marcadores para marcar o gol salvador do Uruguai na estreia contra o Egito (Getty Images)

A solidez defensiva e o arranque em contra-ataque pareciam ser os trunfos de ambas as equipes, mas alguém precisava propor o jogo. Em relação às Copas passadas, dizia-se que o Uruguai vinha com um time de mais opções, mesclando experiência e juventude. Se antes havia um abismo entre uma defesa firme e um ataque letal, hoje há também opções para a faixa central de campo. Porém, em Ecaterimburgo, mesmo tendo mais posse de bola e desperdiçando diversas oportunidades, em um dia ruim do ataque celeste e uma atuação interessante do goleiro egípcio, prevaleceu o hábito uruguaio de sofrer. A vitória suada, no último lance, veio como sempre: pressão, bola parada, jogo aéreo.

Os times

Óscar Tabarez tem a segurança oferecida pela defesa composta por José Giménez e Diego Godin, auxiliados por Matías Vecino, o motorzinho do time. Pelo meio, Nahitan Nandez, Rodrigo Bentancur e Georgian De Arrascaeta. Atuando em um 4–4–2 com duas linhas fortes de marcação, sustenta as ações ofensivas pelas bolas longas e tem algumas dificuldades na construção das jogadas — para chegar aos seus dois artilheiros, Suárez e Cavani. Além disso, o jogo aéreo e as bolas paradas também são preponderantes. Com o mundial correndo nas veias dos representantes do paisito, o fator emocional poderia ser determinante numa estreia, sob as ordens do Maestro, há dez anos à frente da Celeste.

Na composição dos Faraós, o 4–2–3–1 é formado por Mohamed Elneny — responsável por distribuir o jogo — e Tarek Hamed fazendo a saída de bola como volantes, e Mahmoud Hassan, o Trezeguet, caindo pela ponta esquerda, e o experiente Abdallah Said também pelo meio. Marwan Mohsen era a referência na área. Mesmo sem Mohamed Salah, o objetivo era concretizar as transições rápidas para fazer a redonda romper as linhas defensivas do adversário. O grande problema: sem sua principal arma: Mohamed Salah. O Egito trilhou um caminho desafiador até voltar à Copa do Mundo após 28 anos.

O campinho de Egito e Uruguai (Fifa.com).

O jogo

Desde o começo do jogo, o time de Tabárez era quem precisaria tomar a iniciativa. A primeira chegada de perigo veio em uma jogada trabalhada pelo meio. Depois da triangulação, Cavani arriscou o chute de fora da área, mas El Shenawy caiu bem para ficar com a bola. E apesar do Egito chegar esporadicamente, teve o alívio de ver o ataque uruguaio desperdiçar chances atrás de chances, principalmente com Luis Suárez. Primeiro, aos 13, o camisa 9 recebeu cruzamento da direita, mas bateu sem direção. Dez minutos depois, em cobrança de escanteio, Godín deu um desvio e o centroavante pegou a sobra livre, na segunda trave. Era só desviar, mas ele bateu reto e viu a bola bater na rede, mas pelo lado de fora.

Logo no primeiro lance da segunda etapa, os charruas chegaram com muito perigo. Hegazi rebateu mal e a bola sobrou na entrada da área com Cavani. Como um meia, ele viu bem a entrada de Luis Suárez, que ganhou do zagueiro e arrematou cruzado, parando no joelho do goleiro Mohamed El Shenawy. Com cinco minutos da segunda etapa, Héctor Cuper foi obrigado a queimar sua primeira substituição. Em lance com De Arrascata, Tarek Hamed levou a pior na dividida e saiu com uma lesão nas costas. Quem entrou foi Sam Morsy, volante do Wigan Athletic, da Inglaterra.

Enquanto o Egito errava, principalmente na construção de jogadas e nos chamados passes-chave, se fechava atrás e armava o contra-ataque. Por sua vez, o Uruguai não conseguia propor o jogo. Diante da bem posicionada marcação dos Faraós na entrada da área, a bola girava sem que o time de Tabárez conseguisse uma infiltração ou um lance de perigo. Faltava criatividade.

Apesar das trocas de Tabárez, que mandou a campo Carlos Sánchez e Cristian “Cebola” Rodríguez nas vagas de Nahitan Nandez e De Arrascaeta, o Uruguai ganhava vigor fisicamente, não tinha oportunidade de mandar a bola para a área e via a faixa central congestionada. E o Egito se arriscava nas espetadas, como aos 25, quando Ahmed Fatih, pela lateral direita, subiu ao ataque a pegou a sobra para mandar de primeira para o gol. Muslera fez uma defesa segura.

Mas perto dos minutos finais, o time de Cúper recuou bastante. Com a marcação de pressão média dos Egípcios, o Uruguai usava as bolas longas e tentava o abafa. Suárez perdeu mais uma boa oportunidade aos 27: recebeu bom passe pela esquerda, ganhou no corpo e tentou driblar o goleiro, que fez uma grande defesa. Aos 37, uma das chances mais claras do jogo: Luis Suárez estava na entrada da área quando escorou de leve para Cavani. O camisa 21 não pensou duas vezes: emendou um bonito chute de primeira para a intervenção fundamental de El Shenawy.

O Uruguai, sobretudo, se lançava ao ataque, sabendo que a pressão aumentaria se perdesse pontos logo na primeira rodada, em um resultado interessante apenas para o Egito. E Carlos Sánchez tem parte fundamental nisso: deu mais lucidez ao meio de campo uruguaio, pensando um pouco durante a correria. A pressão era a alternativa aos Charruas. Aos 42, Cavani teve oportunidade na bola parada, com uma falta à entrada da área. O atacante do PSG bateu bem, mas acertou o poste. Na confusão, a defesa afastou o rebote. Enfim, se lançar ao ataque daria resultado bem à moda uruguaia: Aos 44, uma falta lateral era a oportunidade para a Celeste mandar para a área. O alívio veio quando Gimenez subiu mais que a marcação para testar com muita felicidade às redes.

Como fica

A vitória foi essencial às pretensões de classificação da Celeste. Empatando em pontos com a Rússia e atrás no saldo de gols, vai ter no confronto contra os anfitriões um momento-chave. Antes, encara a Arábia Saudita, na quarta, em Rostov, às 12h. Tem tudo para fazer uma partida melhor, ainda mais se for mais efetiva no ataque, já que deve querer fazer saldo contra o time mais fraco do grupo. O Egito, por sua vez, se lamenta. Fez um jogo de boas opções, com uma defesa bem postada e o goleiro tendo trabalho. Com o provável retorno de Salah contra a Rússia, tem mais uma batalha pela frente, terça, às 15h, em São Petersburgo. Se quiser se classificar, tudo passa pelos próximos noventa minutos. Será um jogo interessante, em que a defesa dos africanos obrigará aos donos da casa serem mais criativos. Contra uma defesa que oscila mais, pode ser que os egípcios tenham mais sucesso.

O cara da partida

O relógio já beirava os acréscimos. Em uma falta daquelas bobas, o Uruguai teve a chance de colocar a bola na área. E todos sabem que os defensores dos charruas são muito bons no jogo aéreo. Tanto Godín quanto Jimenez. Coube ao segundo subir mais que todo mundo para decretar a vitória. Em um jogo de poucas alternativas tecnicamente, nada mais justo que apontar para quem tirou a apreensão dos rostos da torcida do seu país, mandando a preocupação para o adversário. Tudo isso apesar da ótima atuação do goleiro El Shenawy.

Ficha técnica

Egito 0 × 1 Uruguai

Local: Arena Ecaterimburgo, em Ecaterimburgo (RUS)

Árbitro: Bjorn Kuipers (HOL)

Gols: José Giménez, aos 44’/2T (URU)

Cartões amarelos: Ahmed Hegazy (EGI)

Egito: El Shenawy; Ahmed Fathi, Ali Gabr, Ahmed Hegazy e Abdel-Shafy; Elneny, Tarek Hamed (Sam Morsy), Amr Warda Ramadan Sobhi), Abdallah Said e Trezeguet; Marwan Mohsen (Kahraba). Técnico: Héctor Cúper

Uruguai: Muslera; Varela, Godín, Giménez e Cáceres; Bentacur, Vecino (Torreira), Nández (Carlos Sánchez) e De Arrascaeta (Cristian Rodríguez); Suárez e Cavani. Técnico: Óscar Tabárez

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