Além do tédio: Único uruguaio a marcar em três Copas, Suárez leva o Uruguai às oitavas

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
6 min readJun 20, 2018
El Pistolero fez o dele em mais uma vitória magra (Getty Images)

Luis Suárez tem histórias curiosas em Copas do Mundo. Em 2010, deu a classificação épica da Celeste enfiando a mão na bola e negando o gol a Gana nas oitavas de final. Em 2014, saiu da Copa com a polêmica mordida no ombro de Chiellini, diante da Itália. Em 2018, no mundial da Rússia, não estreou bem, perdendo chances que não costuma. Porém, contra a Arábia Saudita, foi certeiro: marcou o gol da vitória magra, aproveitando a falha do goleiro asiático, e classificou seu país às oitavas de final, mesmo com um jogo ruim, de pouca criatividade e alguns apuros. Resta saber, na rodada seguinte, se em primeiro ou segundo. De quebra, se tornou o único uruguaio a anotar seus tentos em três Copas do Mundo.

Os times

Maestro Tabárez manteve boa parte do time que estreou vencendo o Egito. O experiente Fernando Muslera ainda no gol, com a defesa composta por Guillermo Varela, o capitão Diego Godín, José María Giménez e Martin Cáceres. Matías Vecino e Rodrigo Bentancur ficavam mais atrás no meio de campo. E as duas alterações na escalação, que deixou sua dupla Luis Suárez e Edinson Cavani no ataque, vinham na faixa de criação dos Charruas. Em vez de Georgian De Arrascaeta e Nahitan Nandez, estavam em campo Carlos Sánchez e Cristian Rodríguez.

Já o comandante da Arábia Saudita, Juan Antonio Pizzi, claramente insatisfeito depois da goleada diante dos russos na estreia, manteve o mesmo esquema, com uma linha de cinco no meio de campo. Começou trocando o goleiro: Saiu Abdullah Al Maiouf, para a entrada de Mohamed Al Owais. Na defesa, Ali Al Bulayhi ganhou a vaga de Omar Hawsawi como zagueiro central. Duas peças foram alteradas do meio para frente: Mohammed Al Salahwi, que vinha de centroavante, e Yahia Alshehri saíram, para as entradas de Fahad Al Muwallad e Hatan Bahbri.

O jogo

E se alguém esperava o Uruguai em cima, em busca da vitória e de um bom saldo de gols no começo da partida, não foi exatamente isso que aconteceu. A Arábia Saudita tentou arriscar antes dos uruguaios, com o controle da posse de bola, mas sem muita criatividade nem qualidade técnica para superar a marcação sul-americana. Na base da insistência, a celeste conseguiu a primeira chance mais clara: Varela conseguiu impedir a saída da bola pela linha de fundo e mandou para a área. Suárez, mesmo sem ângulo, tentou o chute. Com o desvio, a bola se perdeu pela linha de fundo. Em cobrança de escanteio, pouco depois, foi a vez de Carlos Sánchez bater no gol, em cima de Al-Owais.

Então, mais uma bola parada. Como foi no gol agônico da vitória diante dos Egípcios, o Uruguai tinha a oportunidade de mandar a bola para a área. Assim foi. Carlos Sánchez cobrou por cima, o goleiro saudita catou um par de borboletas e a redonda parou justo nos pés de El Pistolero. No centésimo jogo vestindo o manto que um dia foi de Obdulio Varela e Juan Alberto Schiaffino, o camisa 9 marcou o seu primeiro tento nesta Copa do Mundo com um leve desvio à meta escancarada. Único a marcar em três mundiais, também desferiu suas finalizações matadoras na África do Sul e no Brasil.

O jogo estava sob o controle do time de Tabárez, que se infiltrava, tinha movimentação, mas não conseguia concluir suas jogadas em gol. Mesmo assim, os comandados de Pizzi chegaram duas vezes com perigo, com Hatan Bahbri. Primeiro, ele avançou pela ponta direita, cortou para o meio e soltou o pé, obrigando Muslera a desviar por segurança, antes que a bola batesse no travessão. Depois, em um cruzamento vindo da esquerda, aproveitou um raro erro no tempo de bola de Godín para finalizar na pequena área, mandando por cima. Os asiáticos tentavam, sem muita agressividade. Para o primeiro tempo, foi só.

A segunda etapa teve ameaças logo cedo. Suárez pegou a bola para a cobrança de falta, mesmo de longe. Mandou por fora da barreira que ainda desviou, dificultando a vida do goleiro, que ainda chegou a tempo de espalmar. A armação era visível: com Rodríguez e Sánchez pelas pontas, o Uruguai criava pouco pelo meio, sem fazer com que a redonda chegasse aos seus atacantes. Então, Tabárez fez duas trocas de uma vez. Tentou alterar um pouco a configuração charrua em campo: Diego Laxalt, do Genoa, e Lucas Torreira, da Sampdoria, substituíram Cebolla e Vecino. Com a saída do camisa 15 dos sul-americanos, Tabárez liberava Bentancur para criar na lacuna que ficava pelo centro do campo.

Cavani era quem saía da área para tentar produzir algo. Aos 15, por exemplo, conseguiu um bom lançamento até Sánchez na segunda trave. Em boas condições, o camisa 5 se jogou de peixinho, mas mandou por cima. Sánchez também se saiu bem quando encontrou Cáceres colocado dentro da área. O lateral direito, porém, mandou por cima do gol. E enquanto os uruguaios perdiam as chances que conseguiam, a Arábia se arriscava só nos contra-ataques. Perto da meia hora de jogo, a estratégia mudou: Mohamed Kanno se colocaria na área, com a bola alta ganhando estatura. Mohamed Al Salahwi também entrou para tentar mais movimentação na intermediária.

Torreira tentava ameaçar com um chute de longe e Cavani foi corajoso: meteu a cabeça na frente da bola tentando trair o goleiro mudando a trajetória. Com o fim de jogo se aproximando, Tabárez renovou o fôlego do meio mandando Nández na vaga de Sánchez, mais um da nova safra charrua.Foi também do camisa 21 outra saída sul-americana, aproveitando o erro de passe saudita na defesa. O atacante saiu atrás, mas conseguiu superar o zagueiro para tocar para o gol. O arqueiro adversário, entretanto, caiu bem para ficar com a bola.

O cara da partida

Luis Suárez. Se na primeira partida uruguaia perdeu muitos gols, desta vez El Pistolero aproveitou sua principal oportunidade. Quando o goleiro deixou a meta e vacilou, até ficou simples: bastou mandar para as redes sem muito incômodo. E tem outro feito: o maior artilheiro da seleção é agora o único da celeste a marcar em três Copas do Mundo seguidas.

Como fica

A vitória magra faz o Uruguai chegar aos seis pontos, assim como a Rússia, dona da casa, garantindo a classificação às oitavas. Com menos saldo, porém, vai ter que vencer os anfitriões se quiser ficar com o primeiro lugar do grupo A e pegar um adversário teoricamente mais fácil na fase seguinte. A Arábia Saudita se lamenta junto ao Egito, ficando de fora ainda na segunda rodada. Levou um sacode na estreia, mas se comportou bem contra o Uruguai. Não contava com a falha de seu goleiro. Na rodada que fecha o grupo, dois jogos distintos. Sauditas e Egípcios fazem uma partida de honra, para tentar levar algum ponto para casa, em Volgogrado, na segunda, às 11h. Já o embate dos classificados tem o valor da primeira posição, e acontece no mesmo dia e horário, em Samara.

A classificação depois do jogo, com Rússia e Uruguai classificados (Globoesporte.com)

Ficha técnica

Uruguai 1×0 Arábia Saudita

Local: Arena Rostov-On-Don, em Rostov-On-Don (RUS)
Árbitro: Clement Danos (FRA)
Gols: Luis Suárez aos 23’/1T (Uruguai)
Cartões amarelos: nenhum

Uruguai

Fernando Muslera; Gustavo Varela, José Giménez, Diego Godín e Martín Cáceres; Carlos Sánchez (Nahitán Nández aos 37’/2T), Matías Vecino (Lucas Torreira aos 14’/2T), Rodrigo Betancur e Cristian Rodríguez (Diego Laxalt aos 14’/2T); Luis Suárez e Edinson Cavani. Técnico: Oscar Tabarez

Arábia Saudita

Mohammed Alowais; Mohammed Alburayk, Osama Hawsawi, Ali Albulayhi e Yasser Al Shahrani; Taiseer Al Jassam (Hussain Al-Mohahwi aos 44’/2T) e Abdullah Otayff; Hatan Bahbri (Mohammed Kanno aos 30’/2T), Salman Al Faraj e Salem Al Dawsari; Fahad Al Muwallad (Mohammed Al Sahlawi aos 33’/2T). Técnico: Juan Antonio Pizzi

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