Ataque vai bem, Bélgica passa tranquila pelos dois primeiros confrontos, e espera a Inglaterra

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
9 min readJun 23, 2018
Hazard e Lukaku deixaram dois cada um: azar da Tunísia (Getty Images)

Antes da Copa, é costumeiro colocar algumas seleções como prováveis destaques, e a Bélgica geralmente assume essa posição com boas opções de elenco. É preciso ressaltar: no mundial, mesmo os campeões vêm tendo dificuldades nos primeiros jogos, e com os Diabos Vermelhos não foi assim. Com adversários mais frágeis, cumpriu o que se esperava, superando o Panamá e, neste sábado, a Tunísia, em um jogo animado, venceu sem sustos. O 5 a 2 aponta para os predicados ofensivos — com dois de Hazard e Lukaku, e um de Batshuayi — mas também para alguns problemas atrás. A equipe de Martínez sabe que o teste maior da fase de grupos ainda virá: na última rodada, o embate é contra a Inglaterra.

Os times

A Bélgica repetiu o time que venceu o Panamá na primeira rodada. Thibault Courtois no gol, com três zagueiros à frente. Dedryck Boyata, Toby Alderweireld e Jan Vertonghen. Yannick Ferreira Carrasco e Thomas Meunier eram avançados às alas, acompanhados por Axel Witsel e Kevin De Bruyne na faixa central. Mais à frente, Eden Hazard e Dries Mertens se movimentavam pelas pontas, com Romelu Lukaku no centro do ataque.

Na Tunísia, algumas trocas. Começando pelo goleiro: Mouez Hassen saiu lesionado da partida contra a Inglaterra e não participa mais da Copa. Quem assume a vaga é Farouk Ben Mustapha. Na linha, o camisa 9 Anice Badri, foi adiantado ao ataque, ocupando a vaga de Naim Sliti, ao lado de Fakhreddine Ben Youssef e Wahbi Khazri. Saifeddine Khaoui aparecia pelo meio, acompanhado de Ferjani Sassi e Ellyes Skhiri.

O campinho de Bélgica x Tunísia (Fifa.com)

O jogo

Os primeiros momentos geralmente servem de estudo, com as duas equipes procurando espaços com mais cuidado. Não foi o que se viu no embate entre Bélgica e Tunísia. As seleções começaram à toda, fazendo dos primeiros 20 minutos de jogo algo muito movimentado. A ingenuidade da defesa das Águias de Cartago foi determinante e contribuiu para que a Bélgica conseguisse concretizar suas chances com a qualidade mostrada no papel. Logo aos 5 minutos, acabou a necessidade de abrir o placar cedo: Meunier viu a entrada de Hazard pela direita. O camisa 10 veio em velocidade e Syam Ben Youssef chegou atrasado, derrubando o belga. Se havia dúvida se a falta aconteceu dentro ou fora da área, o assistente de vídeo confirmou a penalidade. O próprio Hazard foi para a cobrança e apenas deslocou o goleiro, mandando no cantinho. Placar aberto logo cedo. De quebra, ia por água abaixo um tabu: os diabos vermelhos marcaram pela primeira vez no primeiro tempo desde 2002, quando foram às redes contra a Rússia.

A Bélgica chegava com muita facilidade à área tunisiana. Tanto que Hazard recebeu o passe de Lukaku lá dentro e apareceu para concluir fraquinho, de primeira. Talvez a posição estivesse invertida, e então tudo se resolveu: Aos 12, Maaloul dominou mal e adiantou demais no meio de campo. Metens se adiantou e partiu adiante, acelerando a jogada. Perto da entrada da bola soltou para Lukaku na direita. O camisa 9 nem dominou: bateu cruzado na parede da rede, de perna direita. Indefensável: 2 a 0.

O desconto não demoraria, aliás, nem três minutos. Na bola parada, os africanos tinham Khazri para cobrar pela esquerda. Ele mandou de curva para a área, e Boyata dava condição a Bronn, que subiu entre a defesa belga para desviar para as redes. Muitas ações em pouco tempo. E, na oportunidade, diferentemente da primeira partida, os alas de Martínez funcionavam extremamente bem. Em bola cruzada para a área, Carrasco arrematou de primeira e Ben Mustapha caiu para espalmar. No rebote, a bola foi cortada no meio da área antes que alguém chegasse para concluir.

Quando ia à frente, o ataque tunisiano se movimentava bem, explorando os espaços dados pelos três zagueiros belgas, e causava problemas. Entretanto, as falhas das Águias de Cartago eram mais graves atrás. Por um azar, o autor do gol da equipe de Nabil Maaloul saiu, contundido, obrigando o técnico a queimar a primeira substituição logo aos 24: Quem entrou foi Hamdi Naguez. E a defesa, assim, se fragilizava. Além disso, os lances gerados pela acuidade ofensiva dos europeus era grande. Tanto nas infiltrações na área adversária — em jogada em que Lukaku adiantou demais — quanto nos arremates de longe, como quando Witsel, que arriscou de fora.

A Tunísia se arriscava, mesmo assim, criando várias possibilidades, sem precisão. À frente, chegava principalmente nas arrancadas, mas não encaixava o chamado último passe, dando tempo para a recomposição da defesa dos diabos vermelhos. Mesmo com boas jogadas: Primeiro, Naguez subiu pela direita e depois da rebatida, a bola sobrou para Sassi, que tentou de fora mas mandou sem direção. Depois, na trama entre Khaoui e Naguez, Khazri bateu de longe, e obrigou Courtois a trabalhar. Mas, aos 40, mais uma baixa para a Tunísia por lesão. O zagueiro Ben Youssef sentiu o joelho e foi substituído por Yohan Ben Alouane. Mesmo sabendo das condições, ao enfrentar um time tecnicamente qualificado, a Tunísia não abria mão de arriscar seu jogo. Principalmente pelo lado direito, com Badri e Khazri, que, quando não arriscavam por si, deixavam os companheiros em condições de tentar algo mais arrojado.

Aos 47, Lukaku precisaria perder mais uma chance antes de mandar para as redes. Em mais uma saída de bola da Tunísia, Meunier recuperou, entregando a Hazard, que partiu em contra-ataque. O camisa 10 acionou De Bruyne pela direita. O cruzamento saiu rasteiro na segunda trave, mas o homem-gol belga não alcançou. Não demoraria a ir às redes, menos de um minuto depois. A defesa da Tunísia falhou novamente na saída e pagou caro por isso: Maaloul se complicou tentando o passe pela esquerda e entregou nos pés de Meunier. O ala tabelou com De Bruyne e, na meia-lua, reduziu a passada. Lukaku estaria no lugar certo na hora exata da enfiada de bola. Se movimentou atrás da defesa e, de frente para o gol, deu um leve toque por cima, esbanjando técnica para marcar o seu segundo na partida e ampliar o placar.

Segundo tempo também teve várias chances

No primeiro minuto da segunda etapa, os europeus davam mostras de que a vontade ofensiva não acabaria tão cedo. Mesmo com os defensores. No escanteio curto, De Bruyne mandou para a área e Alderweireld apareceu livre pelo meio. De frente para o gol, quase na pequena área, mandou por cima. Mas não faria tanta falta: com cinco minutos, a Bélgica transformou o placar elástico em goleada. A defesa foi surpreendida pelo belo lançamento de De Bruyne, no peito de Hazard. Ele dominou bem, olhou a saída do goleiro e deu um toque seco para tirar o camisa 1 antes de assinalar o seu segundo na partida, de perna esquerda, o 4 a 1.

Martínez se deu ao luxo de poupar seus jogadores com a partida decidida. Tirou Lukaku — saiu mancando — para mandar a campo Marouane Fellaini. O jogo pelos lados seguia: Pela ala esquerda, Meunier ia bem nos passes, enquanto Carrasco tentava cortar para o meio e bater. Foi assim aos 16, quando a bola passou perto da gaveta de Ben Mustapha. A Tunísia ainda tinha gás para atacar, mas parava em Courtois ou nas finalizações sem direção. Apesar disso, não se escondia. Badri apareceu para tentar o chute de fora da área, depois de conseguir o giro sobre os marcadores. Bateu rasteiro, mas Courtois ficou com ela.

Michy Batshuaiy substituiu Hazard e mostraria disposição. Com pouco mais de 20 minutos para jogar, ele se movimentou bastante, ressaltando que o banco também pode trazer opções a Martínez. Primeiro, teve o passe afastado pelo goleiro, que precisou sair da área e se jogar para acabar com o perigo. Depois, Batshuayi foi lançado pelo meio e conseguiu driblar o goleiro. Mas na hora de mandar para o gol, bateu mascado. A bola ia para o gol, e o chute mais lento acabou dando tempo para Meriah tirar a bola em cima da linha e impedir o quinto.

O dia realmente parecia não ser do camisa 21. Aos 33, De Bruyne encontrou Carrasco pela esquerda, e o camisa 11 bateu forte para o meio. Ben Mustapha bateu roupa e Batshuayi estava lá para pegar o rebote. Encheu o pé, mas viu a redonda explodir no travessão e quicar no gramado, sem entrar. Dois minutos depois, a bola travada na direita sobrou com De Bruyne. Ele avançou até o fundo e bateu para o meio da área nos pés de Batshuayi. O centroavante bateu bem, de primeira, quase de voleio, mas não contava com a grande intervenção de Ben Mustapha, que negou o tento do camisa 21. No rebote, a bola foi por cima.

Aos 44, finalmente o gol de Batshuaiy. Já com a defesa tunisiana entregue, Tielemans, substituto de Mertens, partiu com liberdade pela direita e deu um passe para o centroavante — não foi um cruzamento — entre o zagueiro e o goleiro. O camisa 21 tentou cinco vezes até se jogar e bater de perna esquerda no contrapé e marcar o quinto. Teria oportunidade de guardar mais um, mas tomou uma decisão equivocada. De Bruyne, de trás do meio de campo, deu um lindo lançamento para a intermediária. O camisa 21 conseguiu dominar, e tinha um zagueiro à sua frente, com a defesa desmontada. Dominou, se livrou do marcador puxando para a perna esquerda e bateu. Não pegou tão bem na bola e mandou ao lado do gol — e poderia ter passado a Tielemans, retribuindo o favor.

A Tunísia aproveitaria o relaxamento belga para descontar. Ben Youssef arrancou no contra-ataque pela direita e passou para Naguez. O lateral mandou para Khazri, que apareceu à altura da marca do pênalti e bateu mascado. Mesmo assim, a bola pegou efeito e não deu para Courtois alcançar. Pouco antes de o árbitro apitar o fim da partida.

O cara da partida

A exibição ofensiva da Bélgica impressionou. A Tunísia abriu o jogo por se mandar para o ataque, mas a quantidade de oportunidades criadas foi muito grande. E tendo Lukaku como artilheiro — aliás, ao lado de Cristiano no topo da lista de marcadores da Copa — e a qualidade de passe de De Bruyne e a velocidade de Hazard, fica mais simples. O camisa 10, com isso, foi o grande nome ao lado do centroavante e de De Bruyne, distribuindo assistências. Hazard sofreu e converteu o pênalti, e ainda marcou outro. Lukaku também fez dois, com muita capacidade de definição. Meunier apareceu muito bem distribuindo passes pela direita.

Como fica

A Bélgica encaminha a classificação chegando à segunda vitória. Bateu os dois adversários teoricamente mais frágeis da sua chave, o primeiro com uma boa atuação apenas na segunda etapa, e agora com muito futebol no ataque. Tem pela frente o confronto que pode decidir o primeiro lugar do grupo, diante da Inglaterra, em Kaliningrado. Ainda espera o confronto entre Panamá e Inglaterra para saber como será. Já a Tunísia segue zerada e precisa torcer por uma improvável vitória panamenha contra a Inglaterra, e mais um revés do English Team contra os Diabos Vermelhos para seguir com chances de classificar, tendo que bater o Panamá na última rodada, na Arena Saransk, em Saransk. Os dois jogos acontecem na quinta, dia 28, às 15h.

O grupo de Belgas e Tunisianos depois da goleada (Globoesporte.com)

Ficha Técnica

Bélgica 5 x 2 Tunísia

Local: Estádio Spartak, em Moscou (Rússia)
Árbitro: Jair Marrufo (Estados Unidos)
Gols: Eden Hazard, duas vezes, Romeu Lukaku, duas vezes, e Michy Batshuayi (BEL); Dylan Bronn e Wahbi Khazri (TUN)
Cartões amarelos: Ferjani Sassi (TUN)

Bélgica: Thibaut Courtois; Toby Alderweireld, Dedryck Boyata e Jan Vertonghen; Thomas Meunier, Kevin de Bruyne, Alex Witsel e Yannick Ferreira-Carrasco; Dries Mertens (Youri Tielemans), Eden Hazard (Michy Batshuayi) e Romelu Lukaku (Marouane Fellaini). Técnico: Roberto Martínez

Tunísia: Farouk Ben Mustapha; Dylan Bronn (Hamdi Nagguez), Syam Ben Youssef (Yohan Benalouane), Yassine Meriah e Ali Maaloul; Ellyes Skhiri, Saif-Eddine Khaoui e Ferjani Sassi (Naim Sliti); Fakhreddine Ben Youssef, Anice Badri e Wahbi Khazri. Técnico: Nabil Maaloul

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