Bélgica demorou, mas confirmou expectativas e resolveu sua estreia no segundo tempo

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
6 min readJun 18, 2018
(Getty Images)

De um lado, uma Bélgica que carrega nas costas o peso de corresponder com futebol algo equivalente aos nomes do elenco no papel. De outro, o Panamá, estreante em Copas do Mundo, feliz com o feito que ressoou no Estádio Olímpico de Sochi com o hino cantado a plenos pulmões pelos centro-americanos. Depois de um primeiro tempo travado, os diabos vermelhos deslancharam com um 3 a 0 com participação de suas principais estrelas: Hazard e De Bryune deram assistências, Mertens marcou uma pintura e Lukaku assinalou seu doblete. A confirmação do que se esperava veio, mas não sem demora.

Os times

Invicta nas eliminatórias para a Copa da Rússia, a Bélgica venceu 9 de seus 10 jogos, com um ataque avassalador, responsável por 43 gols. Referendado por este desempenho, Roberto Martínez apostava suas fichas no potencial ofensivo, e usava um esquema que prioriza esta estratégia. Com Thibault Courtois no gol, e as ausências de Vincent Kompany e Thomas Vermaelen, machucados, lançou três zagueiros, Toby Alderweireld, Jan Vertonghen e Dedryk Boyata. Desta forma, Thomas Meunier e Yannick Carrasco ficavam pelas alas, alternando posições na transição entre ataque e defesa. Axel Witsel e o grande destaque da equipe, Kevin De Bruyne, de temporada fascinante na Inglaterra, eram os responsáveis pela criação pelo meio. Um pouco adiante, Dries Mertens e Eden Hazard flutuavam no sistema ofensivo, apoiando a presença física de Romelu Lukaku, autor de 13 gols nos 10 últimos jogos que fez pela seleção. Aliás, a invencibilidade vai além, com mais nove amistosos para a conta.

Na sua estreia em Copas, o Panamá vinha com uma linha de cinco no meio, sabendo de suas limitações e da potencialidade do adversário. Jaime Penedo estava à meta, com Michael Murillo e Eric Davis pelas laterais e Fidel Escobar e Roman Torres — capitão e autor do gol da classificação à Rússia — na zaga. A linha do meio era composta por Gabriel Gomez mais atrás, com Aníbal Godoy, Armando Cooper, José Luis Rodríguez — que joga no Gent, da Bélgica — e Edgar Barcenas, que junto com Blas Perez, no ataque, é o principal valor técnico panamenho.

(Fifa.com)

O jogo

Como era de se esperar, a Bélgica começou massacrando. Na primeira descida do ataque europeu, Hazard avançou pela direita e deixou com Mertens, que bateu colocado. Penedo fez uma grande defesa, buscando a redonda no ângulo. Aos 11, Dries Mertens arriscou o lançamento à ponta esquerda. Por lá, Roman Torres se protegeu bem do avanço de Eden Hazard, e tentou o recuo para o goleiro. A bola ficou curta e o camisa 10 tentou bater direto, já sem ângulo, mandando para fora.

Depois da pressão inicial da estreia, o Panamá começou a entender que podia jogar contra os belgas. Colocou a bola no chão e começou a ficar mais com a posse, contra uma defesa postada com seus três zagueiros. Acostumados à função, Boyata no Celtic, da Escócia, e Alderweireld e Vertonghen entrosados pela companhia no Tottenham, da Premier League. Sem pressão, a marcação da Bélgica permitia os contra-ataques dos centro-americanos, sob a empolgação do estádio. A distância entre defesa, meio e ataque atrapalhava os belgas, que se sobressaíam com investidas do ataque, mas tinham problemas atrás.

De Bruyne vinha buscar a bola atrás do meio de campo, e assim ficava longe das áreas de decisão do campo, deixando a criação com Mertens e Hazard. Quando foi à frente, levou perigo. Em boa jogada pela direita, passou pela marcação e cruzou rasteiro para a área. A bola passou pelo goleiro e ia para os pés de Lukaku, à espera, na segunda trave, mas Roman Torres chegou antes de carrinho para mandar para escanteio.

A posse da bola era belga, e os panamenhos se fechavam no campo de defesa, com Perez e Barcenas tentando produzir algo. Mas era a Bélgica que arrematava mais, com oportunidades claras. Dessa forma que Hazard arrancou livre pelo meio e, sem marcação, bateu de fora da área, para boa intervenção de Penedo. O camisa 10 era quem mais tentava ameaçar. No fim da primeira etapa, o time de Martínez foi para a pressão. Em cobrança de escanteio, Mertens teve boa chance de voleio, mas mandou para fora. A baixa rotação da Bélgica era determinante para que não conseguisse furar a defesa adversária, apesar da quantidade de lances criados. Já o Panamá se aventurava justamente no vigor físico, arrancando pelas beiradas do campo.

Faltava à Bélgica transformar as oportunidades em gol, e bastou um minuto do segundo tempo para que isso acontecesse. E como! O cruzamento foi para a área e Torres conseguiu afastar. A bola sobrou para Mertens, que emendou um sem pulo indefensável, encobrindo penedo. Um lindo gol para inaugurar o marcador. Depois do gol, a Bélgica se soltou. De Bruyne cobrou falta que passou perto do ângulo de Penedo.

Os lances mais perigosos do Panamá vieram ainda no começo do segundo tempo. Primeiro, Murillo se posicionou na linha da defesa belga e conseguiu a infiltração. Recebeu um lindo lançamento da intermediária e dominou, mas Courtois fechou bem o ângulo para impedir o empate. Depois, em cobrança de escanteio, Roman Torres subiu bem e cabeceou sem direção.

O técnico Hernan Gomez fez duas trocas de uma vez: Tirou Barcenas e Rodríguez, e pôs em campo Ismael Díaz e Gabriel Torres, que pouco tiveram como produzir. Isso porque aos 23, a Bélgica ampliou. Mesmo em uma partida em que errou muitos passes que não costuma desperdiçar, quando acertou, De Bruyne foi magistral. Depois de jogada de Hazard, da entrada da área, meteu uma assistência de trivela na cabeça de Lukaku, que conferiu mergulhando na bola e vencendo o goleiro.

Logo viria o terceiro, seis minutos depois. De Bruyne roubou a bola no campo de defesa e os diabos vermelhos foram velozes: em pouquíssimos segundos, a bola ainda passou por Witsel, que acionou Hazard. O jogador do Chelsea avançou e esperou o deslocamento de Lukaku, que esperou a saída do goleiro para tocar por cima e marcar o seu segundo na partida. Ele que é o maior artilheiro da seleção, com 38 gols em 69 jogos. Aí o jogo assentou um pouco, com os avanços panamenhos bem bloqueados pelas saídas do gol de Courtois.

O cara da partida

Pode até ser que Romelu Lukaku não tenha tido tantas chances ao longo do primeiro tempo, impedido pelos erros nas tomadas de decisão do ataque belga, participando pouco do jogo. O quadro mudou depois do intervalo, especialmente assim que Mertens abriu o placar. O centroavante marcou duas vezes, uma de cabeça e outra em bonito toque por cima do goleiro, e começou a copa ressaltando sua principal qualidade: por a bola nas redes. Mesmo De Bruyne, em um dia ruim, iniciou a jogada de um dos gols e deu uma assistência primorosa. Fica atrás pela quantidade de erros de passe.

Como fica

O time da Bélgica tem técnica, indiscutivelmente. Ótimas peças, tanto no sistema defensivo quando no ataque. Demorou a engrenar, mas quando marcou o primeiro, conseguiu uma boa vitória de estreia. Tem tudo para se classificar, na teoria, junto à Inglaterra, que ainda estreia. A grande questão é saber quem fica na primeira posição: e a principal decisão deve ocorrer na terceira rodada, quando os diabos vermelhos encaram os Three Lions. Antes disso, tem pela frente a Tunísia, no próximo sábado, dia 23, às 9h, no Estádio Spartak. Por sua vez, para o Panamá a Copa não dá esse peso todo nos ombros. É uma festa. A classificação, sabe-se, é um sonho distante. E apesar da derrota, os panamenhos conseguiram ameaçar a partir de alguns lances, e principalmente pela força física. Encaram os Ingleses no domingo, dia 24, às 9h, em Nizhny Novgorod.

(Globoesporte.com)

Ficha técnica

Bélgica 3 x 0 Panamá

Estádio: Estádio Fisht, em Sochi (RUS)
Árbitro: Janny Sikazwe (Zâmbia)
Gols: Mertens, aos 2’/2T; Lukaku, aos 24’/2T e aos 30’/2T (BEL)
Cartões amarelos: Meunier, Vertonghen e De Bruyne (BEL); Davis, Bárcenas, Cooper, Murillo e Godoy (PAN)

Bélgica: Courtois; Alternierend, Boyata e Vertonghen; Meunier, Witsel (Chadli), De Bruyne e Carrasco (Dembélé); Mertens (Thorgan Hazard), Hazard e Lukaku. Técnico: Roberto Martínez

Panamá: Jaime Penedo; Michael Murillo, Román Torres, Fidel Escobar e Eric Davis; Gabriel Gómez, Armando Cooper, Aníbal Godoy, Edgar Bárcenas (Gabriel Torres) e Jose Luis Rodrigues (Ismael Diaz); Blas Pérez (Luis Tejada). Técnico: Hernán Darío Gómez.

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