Em dois tempos distintos, França joga para o gasto, acaba com o sonho peruano e também passa às oitavas

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
7 min readJun 21, 2018
Kylian Mbappé superou Trezeguet, e agora é o mais jovem a marcar pela França em uma Copa (Getty Images)

A França parecia engrenar pelo que mostrou no primeiro tempo da partida contra o Peru. Enfim dava mostras de que os grandes nomes no papel fariam uma grande atuação. Toque de bola, participação dos seus principais nomes e um grande volume de jogo. Aí veio o segundo tempo e tudo voltou ao de sempre. O Peru se arriscou e partiu para cima, mas não conseguiu transformar suas chances em gol, mesmo com o retorno de Paolo Guerrero à equipe. Perdeu suas possibilidades na derrota anterior, contra a Dinamarca, concorrente pela segunda vaga. A França jogou para o gasto para fazer 1 a 0 com Mbappé, e garantiu a classificação às oitavas de final em Ecaterimburgo. Com isso, acabou com o sonho albirrojo de tentar passar de fase no retorno à Copa do Mundo depois de 36 anos, regado às lágrimas dos jogadores e do seu povo inflamado.

Os times

A França vinha mudada a campo diante do Peru. Apesar de ter vencido a primeira partida contra a Austrália, o desempenho não empolgou. Então, Didier Deschamps mudou seu esquema. Em vez de um 4–3–3 com um ataque mais leve, escolheu um meio de campo mais reforçado. Manteve a base da defesa, com Hugo Lloris no gol, Benjamin Pavard e Lucas Hernández nas laterais, com Raphaël Varane e Samuel Umtiti na zaga. Corentin Tolisso perdeu a vaga pelo meio, onde Paul Pogba e Ngolo Kanté foram mantidos. A diferença foi que, adiantados no meio de campo, estavam três jogadores: Blaisè Matuidi com resistência e velocidade pela esquerda, a agilidade e capacidade de Kylian Mbappé na direita, e Antoine Griezmann centralizado. Em vez de Dembelé, o técnico francês apostou em Olivier Giroud para prender os zagueiros peruanos.

Depois da derrota contra a Dinamarca, o time de Ricardo Gareca precisava se recuperar. Então, a equipe veio com a mesma estrutura. Era uma mudança no meio e outra no ataque. Enquanto Renato Tapia saiu na faixa central, substituído por Pedro Aquino, Jeferson Farfán deixou de ser o atacante principal para a entrada de Paolo Guerrero, que já havia entrado no final da partida anterior, com Cueva ainda responsável por pensar as ações pelo meio. Assim, a composição era: Pedro Gallese; Miguel Trauco, Alberto Rodríguez, Christian Ramos e Luis Advíncula; Yoshimar Yotún, Pedro Aquino, Edison Flores, André Carrillo e Christian Cueva; Paolo Guerrero. Certamente, o time sul-americano ganhava em presença de área com o retorno de seu camisa 9, depois de tantos problemas que teve com o Doping nos últimos meses.

O campinho de França x Peru (Fifa.com)

O jogo

A partida era valiosa tanto para os Bleus quanto para a Albirroja. Enquanto aos franceses os três pontos representariam a classificação, ao Peru, era questão de sobrevivência. Por isso, os primeiros 15 minutos foram francos. O jogo era aberto, com o Peru oferecendo perigo primeiro. Yotún viu Lloris adiantado e decidiu arriscar de muito longe, mas mandou por cima do gol. O jogo mais físico do time de Gareca acelerava depois das roubadas de bola. Antes disso acontecer, entretanto, a França trocava passes e agredia com muita velocidade, principalmente com Griezmann se infiltrando pelo meio e Mbappé aparecendo pela ponta direita.

O Peru não se escondia. Como a França, que procurava Giroud para segurar a bola e soltar para quem vinha de trás, os peruanos tinham na experiência de Guerrero a figura para prender o jogo na frente. Com a passagem dos dez primeiros minutos, a troca de passes da França começou a fazer efeito. Primeiro, Giroud contou com o desvio em Rodríguez para fazer a bola chegar a Griezmann. A bola parou na perna ruim e o camisa 7 isolou.

Logo em seguida, Pogba teve liberdade para ir à frente. Girou em cima de seu marcador e soltou a bomba de perna direita. A bola passou à direita, perto da trave, com Gallese acompanhando. A pressão era francesa, e o goleiro peruano nada poderia fazer se a cabeçada de Varane fosse na direção do gol, depois da cobrança de escanteio. O zagueiro subiu mais que todo mundo, mandou no contrapé e a chance foi perigosa. A liberdade na entrada da área era grande. Griezmann avançou e recebeu a escorada de Giroud. Bateu de primeira, rente à grama, e o arqueiro sul-americano armou posição de goleiro de futsal para defender de joelho.

A seleção peruana conseguiu equilibrar um pouco mais o jogo, mas faltava tranquilidade para chegar à frente tomar as decisões corretas. Em uma das oportunidades em que isso aconteceu, a albirroja chegou muito bem. Cueva caiu pela esquerda às costas de Pavard e cruzou rasteiro. Guerrero antecipou Umtiti e bateu cruzado, mas Lloris defendeu com os pés.

A chance perdida custaria caro. Duas vezes. Porque além de errar diante de Lloris, o centroavante errou o passe na saída de bola pressionado por Pogba, que acionou Giroud. O camisa 9 tentou o chute cruzado, mas foi bloqueado por Rodríguez. A bola travada passou pelo goleiro e Mbappé correu para escorar com o gol aberto. Com isso, o camisa 10 se tornou o jogador mais jovem a marcar pela França em uma Copa do Mundo — superou Trezeguet, que em 1998 marcou contra a Arábia Saudita com 20 anos e 246 dias na Copa da França.

Kanté e Pogba deram mais consistência ao meio campo francês, mas vale mencionar que a compactação também contava com a colaboração de Griezmann, Matuidi e Mbappé. Especialmente o camisa 6 distribuía o jogo, enquanto o camisa 10 protagonizava uma atuação muito acima da que fez contra a Austrália. Por outro lado, precisando do resultado, o Peru avançava, mas não encontrava seus principais jogadores para concretizar a produção ofensiva. Quando eram mais próximos da área, os passes sul-americanos eram bem interceptados pelos volantes dos Bleus.

A defesa peruana era surpreendida pelo ritmo veloz do ataque francês, nas arrancadas de seus pontas, com passes de primeira antes que os marcadores protegessem a meta de Gallese dos arremates. Ninguém acompanhou a subida de Lucas Hernández, que bateu forte, pelo alto, e o goleiro peruano esticou os braços para impedir que o arremate fosse para o gol.

Gareca fez alterações para a segunda etapa. Tirou Alberto Rodríguez, repondo a zaga com Santamaría, e tirou Youtún, volante, para a entrada de Jeferson Farfán. A necessidade obrigada o Peru a partir para cima, e a arriscar. Foi isso que fez Aquino. Ele recebeu a bola rolada por Farfán e bateu de três dedos, de perna direita. Lloris não acreditou, mas a bola bateu no travessão. A França cercava o Peru, mas tinha uma postura passiva. Não conseguia mais trocar tantos passes quanto nos 45 minutos anteriores, enquanto o Peru pressionava mais.

Carrillo e Advíncula também tentaram decidir, arriscando seus chutes, sem tanta precisão. Com os Bleus um tanto abaixo, o técnico francês poupou Mbappé e Griezmann, mandando a campo Ousmane Dembélé e Nabil Fekir. O time de Deschamps se fechava no campo de defesa, chamando os peruanos. Quando pressionados, os sul-americanos dobravam a marcação para recuperar a bola. Já no ataque, a bola esticada e a passagem dos pontas eram o recurso.

A França parecia satisfeita com o resultado, mas ainda chegava. A colocação de Giroud centralizado, notavelmente melhorou a produção ofensiva francesa, quando o centroavante criou jogadas atuando como pivô. Dembélé teve a sua chance a partir de uma situação assim, mas bateu à esquerda de Gallese. O desafio aos peruanos era segurar os nervos, a poucos minutos de uma eliminação amarga. Não foi possível, e o sonho do retorno ao mundial depois de 36 anos acabou já na segunda rodada.

Como fica

A derrota classifica a França e elimina o Peru da Copa do Mundo, ainda com uma partida a disputar. A albirroja pagou caro pela falta de precisão e ambição diante da Dinamarca, claramente o confronto mais acessível na disputa pela segunda vaga do grupo. Com as alternativas disponíveis, tentou como foi possível, mas não teve força para seguir. No Estádio Olímpico de Sochi, enfrenta uma Austrália ainda em busca do improvável para se classificar, atrás de uma vitória que honre a dedicação e presença de sua torcida na Rússia.

A tristeza fica só do lado sul-americano. A França consegue mais uma vitória por um gol de diferença para ratificar sua classificação. Joga pelo empate contra a Dinamarca na última rodada para assegurar a primeira colocação, em confronto direto no Estádio Olímpico de Luzniki. Os dois jogos de encerramento do Grupo C ocorrem às 11h de terça-feira, dia 26.

A classificação depois do fechamento da rodada no grupo C: França dentro, Peru eliminado (Globoesporte.com)

O cara da partida

Kylian Mbappé. No primeiro tempo, foi infernal. Exibiu todo o repertório técnico que o coloca como uma das estrelas do futebol mundial, e em franca ascensão. Depois de encantar na campanha do Mônaco na primeira Liga dos Campeões, marcando muitos gols e correndo como o vento, foi contratado pelo Paris Saint-Germain — emprestado por causa do Fair Play financeiro imposto pela UEFA, mas bem sabemos — por um caminhão de dinheiro (180 milhões de euros, aproximadamente 678 milhões de reais). No time da capital francesa, vem desfilando todo seu potencial, visto neste jogo. Foi coroado com o gol da vitória.

Ficha Técnica

França 1×0 Peru

Estádio: Arena Ecaterimburgo, em Ecaterimburgo (Rússia)
Árbitro: Mohamed Abdulla Mohammed (Emirados Árabes)
Gols: Mbappé aos 34’/1T (França)
Cartões amarelos: Matuidi, Pogba (França), Guerrero, Aquino (Peru)

França

Hugo Lloris; Benjamin Pavard, Raphaël Varane, Samuel Umtiti e Lucas Hernández; N’Golo Kanté, Blaise Matuidi e Paul Pogba (Steven N’Zonzi aos 44’/2T); Kylian Mbappé (Ousmane Deméblé aos30’/2T), Antoine Griezmann (Nabil Fekir aos 35’/2T) e Olivier Giroud. Técnico: Didier Deschamps

Peru

Pedro Gallese; Luis Adínvula, Christian Ramos, Alberto Rodríguez (Ânderson Santamaria, intervalo) e Miguel Trauco; Pedro Aquino, Yoshimar Yotún (Jeferson Farfán, intervalo), André Carrilo, Christian Cueva (Raúl Ruidiaz aos37’/2T) e Edison Flores; Paolo Guerrero. Técnico: Ricardo Gareca

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