Em uma Inglaterra imprecisa, Harry Kane é letal: Camisa 9 marca dois e europeus vencem no sufoco

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
7 min readJun 18, 2018
(Getty Images)

Perder muitas chances é algo a se lamentar em qualquer jogo de futebol. Quando é em uma estreia de Copa do Mundo, mais ainda. Na Arena Volgogrado, a Inglaterra conseguiu criar, deu bons indícios, mas esbarrou na boa atuação defensiva da Tunísia e em seus próprios erros. Os dois tempos foram distintos. E quando a Tunísia já se dava por satisfeita com o empate, apareceu a estrela de Harry Kane. Autor do primeiro gol inglês, ele fez também o tento da vitória no último lance. Em duas finalizações, aproveitamento perfeito: o centroavante estava no lugar certo e, principalmente na hora certa.

Os times

Na 15ª participação em Copas do Mundo, a sexta em sequência, a Inglaterra tenta justificar há tempos a credencial que o peso da camisa dá. No Brasil, em 2014, estava no páreo do seu grupo quando o sorteio colocou ao seu lado Uruguai, Itália e Costa Rica. No fim das contas, acabou fora na primeira fase. Já na Eurocopa, dois anos depois, caiu nas oitavas, diante da Islândia. Chegou à Rússia em um processo de renovação com bons jogadores, jovens, grande parte na primeira presença em mundiais. Já a Tunísia iniciava a caminhada na sua quinta Copa (antes, jogou em 1978, 1998, 2002 e 2006). Dona da primeira vitória de uma seleção africana em Copas, quando bateu o México em Rosário na segunda participação, a Tunísia classificou-se em primeiro, em um grupo com Congo, Líbia e Guiné, mas tem uma parada dura, sabidamente, com os adversários de hoje e os Belgas, que venceram na primeira rodada, como favoritos.

O técnico Gareth Southgate mandava a campo um esquema que fugia das clássicas duas linhas de quatro tradicionais. Escolheu Jordan Pickford para proteger o gol, tendo à frente uma trinca de zagueiros: Kyle Walker, que já desempenhou essa função no Manchester City mas é lateral de origem; John Stones e Harry Maguire. Pelas alas, o veterano Ashley Young e o Kieran Trippier. Pelo meio, também três jogadores: Jordan Henderson mais na proteção à zaga, apoiado por Jesse Lingard e Dele Alli. Raheem Sterling aparecia como segundo atacante, mais móvel, junto ao camisa 9, Harry Kane, em uma temporada fantástica pelo Tottenham. Já a Tunísia do técnico Nabil Maalou aparecia em um 4–3–3. O goleiro era Mouez Hassen. Na defesa, Yassine Meriah e Ali Maaloul pelas laterais, acompanhando Syam Ben Youssef e Dylan Bronn na zaga. Ellyes Skhiri, Anice Badri e Ferjani Sassi preenchiam o meio, com Fakhreddine Ben Youssef, Naim Sliti e Wahbi Khazri no ataque.

(Fifa.com)

O jogo

O English Team marcava alto, pressionando a saída e apostando no erro tunisiano no começo de partida. Quando tinha a bola, oferecia perigo. No segundo minuto de jogo, Henderson descolou lindo lançamento para Dele Ali pela direita. Ele tentou o cruzamento rasteiro para Sterling, mas a zaga conseguiu ficar com a bola. Porém, não afastou, e Sterling aproveitou o vacilo para conseguir um toque para o meio da área. Lingard arrematou à queima-roupa no contrapé e Hassen conseguiu um milagre: defendeu com o pé. Já no lance seguinte, Dele Alli achou uma brecha na defesa tunisiana e Lingard conseguiu um cruzamento rasteiro para trás. Sterling estava completamente livre, sem goleiro, mas bateu todo desajeitado e não conseguiu o gol. Inacreditável.

Aos dez minutos, porém, a Inglaterra abriu o placar na bola parada. Ashley Young cobrou o escanteio pela esquerda e mandou na cabeça de Stones, livre. O zagueiro cabeceou uma pedrada e Hassen conseguiu uma defesa milagrosa, mas não contava com a presença de Harry Kane. O camisa 9, bem colocado, bateu para as redes. Hassen, que já havia sentido o braço no lance anterior, obrigou a Tunísia a queimar uma de suas substituições: entrou o goleiro reserva Farouk Ben Mustapha. Foi uma atuação incrível do titular, que durou apenas 13 minutos.

A Tunísia até tentava pressionar a defesa inglesa. Mas a calma já partia de trás, saindo à base do passe e encontrando nas alas as maiores oportunidades com os lançamentos vindos do meio. Pesava a qualidade técnica da Inglaterra, que prevalecia pressionando e chegando com muita facilidade à área africana — com triangulações e trocas de passe bem trabalhadas. Em um cruzamento rebatido pela defesa da Tunísia, Henderson pegou a sobra da entrada da área e arriscou o chute, com Ben Mustapha caindo bem para defender.

As águias de cartago iam resistindo, mas tentando propor seu jogo. Aos 26, os tunisianos se aproveitaram do cochilo da zaga inglesa para conseguir uma oportunidade mais perigosa. Maguire perdeu a bola e o lance não se concluiu, mas ainda assim, com Sassi, os africanos arriscaram o arremate de longe que, com desvio, assustou Pickford. Sem a bola, o posicionamento inglês era claro: os alas voltavam quando o time estava em apuros. A Tunísia conseguiu alguns lances de efeito e foi ficando à vontade. Até que Walker foi para a disputa aérea dentro da área com o braço aberto e atingiu o rosto do camisa 8, Fakhreddine Ben Youssef, e Wilmar Roldán assinalou o pênalti. Sassi cobrou no cantinho e Pickford quase chegou, mas não evitou o gol. O empate premiava a marcação Tunisiana, que por diversas vezes forçou erros da defesa dos Three Lions. O pênalti colocou a Tunísia no jogo.

No ataque, entretanto, as coisas funcionavam. Depois de cobrança de falta e um desvio na segunda trave, Lingard se antecipou à saída do goleiro e, de costas, conseguiu o desvio de cabeça, mandando a bola para o gol. Ben Youssef conseguiu tirar em cima da linha. Na sequência, Sterling furou uma tentativa de bicicleta e Stones errou da bola na sobra. Uma confusão, mas a pressão seguia, com a Inglaterra perdendo muitos gols.

Os dois lances seguintes ilustram a situação: Aos 42, sempre depois da cobrança de falta para a área, Maguire ajeitou para trás. Sterling vinha livre à altura da marca do pênalti e tentou o chute de primeira, desviado pela zaga. Depois, aos 43, Trippier fez um ótimo lançamento, aproveitando o avanço de Lingard pela direita. O camisa 7 chegou antes de Mustapha e conseguiu um tapinha na bola, que triscou a trave antes de se perder pela linha de fundo.

Na segunda etapa, o técnico tunisiano fez uma correção, recolocando sua marcação para evitar a subida dos alas de Southgate. A Inglaterra girava o jogo até ter a oportunidade de fazer cruzamentos, bem cortados pela defesa. A velocidade vista nos primeiros 45 minutos se reduziu, com a Tunísia se resguardando, enquanto o jogo pelo meio dos europeus batia na porta fechada pela defesa das Águias de Cartago. Espelhava a linha de cinco e se segurava, com boas intervenções de Mustapha. Uma delas em uma chegada nascida de escanteio, onde o English Team pediu pênalti em cima de Kane.

Southgate tirou Sterling, que já não criava mais, e tentou dar fôlego novo ao ataque mandando Marcus Rashford a campo. Mohamed Ben Amor, meia, veio a campo pela Tunísia, na vaga de Sliti, cansado. Ao longo da segunda etapa, com este quadro, a Inglaterra só ameaçou com mais perigo em faltas frontais — diga-se, bastante perigosas — desperdiçadas por Trippier e Young. Faltava criatividade na segunda etapa, mas os ingleses pecaram por não concluírem bem quando o jogo estava em uma velocidade alta. Mesmo com a saída de Dele Alli e a vinda de Ruben Loftus-Cheek ao gramado, a segunda etapa era de um nível técnico bem baixo.

A Inglaterra foi para cima no final. A partida atrapalhada, de muitos lances perdidos, quase foi salva por um lance: a bola veio rasteira, pedindo para ser chutada. Lingard teve a oportunidade de encher o pé, mas deixou passar e a defesa tirou. Em meio a isso, os jogadores tunisianos lutavam como leões para segurar o empate, mas não contavam com a velha arma inglesa: a bola parada, pelo alto. O escanteio foi cobrado na primeira trave, Maguire conseguiu o desvio na dividida e a bola sobrou para Kane, completamente livre, apenas escorar às redes. Marcou o seu segundo, o tento da vitória.

O cara da partida

Harry Kane. Foi uma ilha de correção no ataque inglês, que perdeu uma quantidade incrível de chances. Com duas finalizações no jogo, dois gols. A Inglaterra tem um time jovem, que peca pela inexperiência e faz algumas escolhas erradas. Mas Harry Kane, pelo menos hoje, pareceu catalizar o poder de ataque dos ingleses apenas para si.

Como fica

No Grupo G, a vitória suada é imprescindível aos Three Lions. Diante da vitória da Bélgica, consegue os três pontos e faz o dever de casa. Na próxima rodada, encaram o Panamá no domingo, às 9h, em Nizhny Novgorod. Por sua vez, aos tunisianos, fica o gosto amargo: depois de se posicionar bem e causar problemas aos ingleses, arrefeceram justamente na última bola. A falha de marcação pune o time que se comportou bem ao longo de toda a partida. Com isso, as águias de Cartago pegam a Bélgica, para mais uma prova de fogo, um dia antes, no Estádio Spartak em Moscou, também às 9h.

(Globoesporte.com)

Ficha técnica

Tunísia 1 x 2 Inglaterra

Estádio: Arena Volgogrado, em Volgogrado (RUS)
Árbitro: Wilmar Roldán (COL)
Gols: Harry Kane, duas vezes (ING) e Ferjani Sassi (TUN)
Cartões amarelos: Kyle Walker (ING)

Tunísia: Mouez Hassen (Ben Mustapha); Dylan Bronn, Syam Ben Youssef, Yassine Meriah e Ali Maàloul; Ellyes Skhiri, Fakhreddine Ben Youssef, Ferjani Sassi, Anice Badri e Naim Sliti (Mohamed Ben Amor); Wahbi Khazr (Saber Khalifa). Técnico: Nabil Maaloul.

Inglaterra: Jordan Pickford; Kyle Walker, John Stones e Harry Maguire; Kieran Trippier, Jordan Henderson, Jesse Lingard (Eric Dier), Dele Alli (Ruben Loftus-Cheek) e Ashley Young; Raheem Sterling (Marcus Rashford) e Harry Kane. Técnico: Gareth Southgate

--

--