França supera a marcação da Austrália e vence à base da insistência

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
6 min readJun 16, 2018
(Getty Images)

Desde que sediou a Eurocopa, em 2016, a França mostrou carregar o fardo da responsabilidade. Um time de grandes jogadores que, quando se reúnem, são contestados porque não conseguem atuações consistentes. Assim foi, também, na abertura da Copa. Contra a Austrália, os Bleus dominaram a partida mas também levaram sustos, com o gol de desempate saindo a dez minutos do fim. O plano de Deschamps não funcionou como o esperado, parando na boa atuação defensiva dos Socceroos, mas a vitória veio à base da insistência. E ainda teve a primeira interferência do árbitro de vídeo, apoiando a decisão sobre um pênalti determinante ao resultado.

Os times

Se tem algo de que Didier Deschamps não pode reclamar é da falta de opções. A geração francesa tem vários destaques em grandes equipes do futebol europeu, além de boas projeções para as próximas copas, com muitos atletas jovens. Para a estreia contra a Austrália, optou por um 4–3–3 na formação. Lloris, o capitão, estava à meta, com a dupla de Real Madrid e Barcelona no miolo da zaga: Samuel Umtiti e Raphaël Varane. Diante da irregularidade de Sidibé e Benjamin Mendy, a aposta era na juventude pelas laterais. A trinca pelo meio vinha com a formiguinha Ngolo Kanté, ao lado de Corentin Tolisso e Paul Pogba. O ataque extremamente móvel não tinha um centro-avante fixo, já que Olivier Giroud esteve no banco. Os três da frente foram Kylian Mbappé, Ousmane Dembélé e Antoine Griezmann.

Já Bert Van Marwijk priorizava um meio de campo forte para frear a construção ofensiva dos Bleus. Entre os destaques do elenco experiente, o goleiro Matt Ryan, os dois volantes, Aaron Mooy e Mile Jedinak alternando qualidade na saída de bola e na contenção. Para se segurar e tentar a criação rápida, a arma foram os dois meias, Robbie Kruse e Mathew Leckie, que se projetavam às pontas na fase ofensiva. Tom Rogic e Andrew Nabout apareciam mais à frente para tentar agredir a defesa francesa. Uma das alternativas era o experiente Tim Cahill, de 38 anos, que, vale lembrar, marcou um dos gols mais marcantes da Copa no Brasil, há quatro anos, emendando um lançamento de primeira e vendo a redonda explodir na trave antes de ir às redes.

O campinho de França x Austrália (Fifa.com)

O jogo

A mobilidade apresentada pelos Bleus já era visível nos primeiros lances. O primeiro jogo do Grupo C começou com a França em cima, ameaçando três vezes: primeiro, Mbappé foi lançado no primeiro minuto, obrigando o goleiro australiano a trabalhar. Depois, Pogba cobrou falta perigosa no meio do gol. E então, foi a vez de Griezmann pegar a sobra e arriscar o arremate de fora da área, fazendo Ryan trabalhar.

A França propunha o jogo, mas aos poucos foi dando brechas às estocadas australianas. Mooy e Jedinak — do Crystal Palace — voltavam entre os zagueiros para iniciar as jogadas e dar mais qualidade de passe. O experiente capitão dos Socceroos, especialmente, vinha oferecendo boa proteção à zaga, atuando na interceptação das linhas de passe francesas e liberando Mooy para apoiar mais. Assim, em cobrança de falta para a área, o meia do Huddersfield Town assustou. Mas o fogo foi amigo: o desvio na direção do jogo foi de Tolisso, e Lloris caiu a tempo de intervir em uma grande defesa, impedindo a abertura do placar. A bola parada é a alternativa da seleção da Oceania contra equipes mais fortes.

A consistência defensiva da Austrália, mesmo que com limitações técnicas, obrigaria a França a ser mais criativa. A qualidade individual, que é a principal arma dos franceses, ainda precisa ser transformada propriamente em um time pela comissão técnica. Mostra da variação dos jogadores era a movimentação, mas a defesa da Austrália se posicionava bem para neutralizar o trio de ataque adversário. Sem a bola, além da linha de quatro mais atrás, montava o posicionamento a partir de três marcadores mais atrás, com dois meias mais à frente e o centroavante isolado. O contra-ataque estaria armado, sobretudo, em uma partida mais equilibrada que se esperava.

O segundo tempo começou bem mais animado. Os comandados de Didier Deschamps partiram para cima, pressionando o campo de defesa adversário. Aos 10 minutos, um momento histórico nas Copas. Joshua Risdon disputou a bola de carrinho com Griezmann, que desabou. Depois de a jogada seguir, o árbitro foi informado da dúvida no lance e pediu a revisão pelo vídeo pela primeira vez em mundiais. Rapidamente, assinalou a penalidade aos franceses. Quem foi para a cobrança foi Griezmann. O camisa 7 tomou pouca distância e, de perna esquerda cobrou com firmeza no canto alto do goleiro, inapelável, com o goleiro estático no centro da meta.

Cinco minutos depois, mais um pênalti, dessa vez sem consulta ao árbitro de vídeo. Mooy cobrou a falta para a área e Umtiti foi para a bola com o braço escandalosamente erguido e desviou. A reclamação dos Socceroos foi imediata e o juiz apontou o pênalti. Jedinak, responsável por marcar o gol que classificou a Austrália à Copa, foi para a cobrança e enganou Lloris: Bola quase no meio, goleiro para o outro lado. Logo na sequência, a primeira alteração australiana: um atacante por outro, com a saída de Nabbout e a entrada de Tomi Juric, centroavante de mais força física, com a camisa 9. O gol animou a seleção da Oceania, que começou a marcar mais à frente, mas logo arrefeceu e se encolheu no campo de defesa. Van Marwijk claramente buscava a chamada “bola perdida”, ou estava satisfeito com o empate, já que mandou a campo o volante Jackson Irvine na vaga de Rogic.

Preocupado diante da provável perda de pontos na primeira rodada, Deschamps fez duas alterações de uma vez, mudando a configuração ofensiva da equipe: Tirou Griezmann e Dembelé, promovendo a entrada de Florian Thauvin, recuado ao meio para a criação de jogadas, e Olivier Giroud, centroavante bem mais fixo, preso entre os zagueiros dos Socceroos. Pressionada, a França ainda optou pela mobilidade e intensidade de Blaisè Matuidi, na vaga de um Tolisso que pouco contribuiu.

A dez minutos do fim, a França retomou a vantagem. Pogba tabelou com Giroud e recebeu mais à frente. Chegou antes do zagueiro Aziz Behich para bater de bico e encobrir Ryan. A bola bateu no travessão e quicou cruzando a linha. Se havia alguma dúvida, foi desfeita com o apito do relógio do árbitro. Com a recolocação à frente, os Bleus também tomaram as ações do jogo.

O cara da partida

A boa atuação da Austrália colocou a França em risco. E se Pogba foi responsável pela virada, o primeiro gol francês saiu graças a Antoine Griezmann. O camisa 7 criou a jogada e converteu a cobrança que colocou os Bleus à frente. Isso mostra que o time de Deschamps deve depender do atacante do Atlético de Madrid durante o mundial.

Como fica

Os franceses chegaram à final da Eurocopa, mas fracassaram em casa diante de Portugal. Também carimbaram a vaga na Copa na última rodada das Eliminatórias Europeias sob questionamentos vindos da irregularidade: capaz de jogos brilhantes e, ao mesmo tempo, apagões. Hoje, o resultado veio, mas com muito aperto. A França toma a dianteira do Grupo C com a primeira partida, à espera do embate entre Peru e Dinamarca. Os Socerros, sem muito a perder, se classificaram também com dificuldades nas Eliminatórias, atrás do Japão, recorrendo à repescagem. Na estreia, ofereceram resistência e devem beliscar algo a mais ou ao menos atrapalhar os demais adversários do grupo. Na rodada seguinte, Austrália e Dinamarca jogam em Samara na quinta-feira, dia 21, às 9h. No mesmo dia, às 12h os comandados de Deschamps encaram o Peru.

Ficha técnica

França 2 x 1 Austrália

Local: Arena Kazan, em Kazan (RUS)

Árbitro: Andrés Cunha (URU)

Gols: Antoine Griezmann, aos 13’/2T, e Paul Pogba, aos 36’/2T (FRA); Mile Jedinak, aos 17’/2T (AUS).

Cartões amarelos: Corentin Tolisso (FRA); Mathew Leckie, Aziz Behich, Joshua Risdon (AUS).

França: Hugo Lloris; Benjamin Pavard, Raphaël Varane, Samuel Umtiti e Lucas Hernandez; Corentin Tolisso (Blaisé Matuidi), Ngolo Kanté, Paul Pogba; Ousmane Dembélé (Olivier Giroud), Kylian Mbappé e Antoine Griezmann (Nabil Fekir).

Austrália: Matt Ryan; Aziz Berich, Trent Sainsbury, Mark Milligan, Joshua Rison; Robbie Kruse (Daniel Arzani), Aaron Mooy, Mile Jedinak, Mathew Leckie, Tom Rogic (Jackson Irvine); Andrew Nabbout (Tomi Juric).

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